top of page

REGRA BULADA - 02 - 12/04/23 - A Regra Bulada nas suas origens - Introdução II

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 13 de abr. de 2023
  • 7 min de leitura

Atualizado: 14 de abr. de 2023




REGRA BULADA

Guardiã da Regra e Vida Franciscana

800 Anos



Introdução – II

A DRAMATICIDADE DO NASCIMENTO DA REGRA BULADA EM ALGUMAS

FONTES FRANCISCANAS BIOGRÁFICAS E ANTIGAS



Entre as Fontes biográficas e antigas da Ordem, que se ocupam explicitamente com o nascimento da RB estão a Compilação de Assis, cap. 17 e o Espelho da Perfeição, cap. 1. As duas são iguais em tudo, principalmente na dramaticidade. Começam dizendo que Francisco havia se retirado a um monte, com Frei Leão e Frei Bonízio de Bolonha, um jurista, para reescrever a Regra que se havia perdido.



1. O drama da origem na Compilação de Assis e no Espelho da Perfeição


Alguns Provinciais, sabendo disso, disseram a Frei Elias, então Ministro geral: “Ouvimos dizer que esse Frei Francisco está fazendo uma nova Regra. Tememos que a faça tão dura que não possamos observá-la. Queremos que tu vás até ele e lhe digas que nós não queremos ser obrigados àquela Regra. Que ele a faça para si e não para nós”.


Frei Elias, temendo uma repreensão de Frei Francisco, respondeu-lhes que não queria ir. Como insistissem, disse, então, que só iria se eles fossem junto. Foram, assim, todos.


Chegados ao lugar e perguntados por Frei Francisco o que queriam, Frei Elias respondeu como haviam combinado e que estavam para protestar e que não queriam ser obrigados a tal Regra; que a fizesse só para si e não para eles. Então, o Bem-aventurado Francisco voltou a face para o céu e falou assim a Cristo: “Senhor, não Te tinha eu dito, que eles não acreditariam em Ti?”


Vem, então, o essencial de toda essa dramática narrativa, centralizada na resposta que vem do Céu, de Cristo:


“Francisco, nada de teu há na Regra, mas tudo que aí se encontra é meu. E quero que a Regra seja observada assim, à letra, à letra, à letra; e sem glossa, e sem glossa, e sem glossa”. E acrescentou: “Eu sei quanto pode a fraqueza humana, e sei quanto quero ajudá-los. Os que não quiserem observá-la, que saiam da Ordem”. Voltou-se, então, o Bem-aventurado Francisco para aqueles frades e disse-lhes: “Ouvistes? Ouvistes? Quereis que vos faça dizer de novo?” E, então, aqueles Ministros, confundidos e reconhecendo-se em culpa, retiraram-se.


A lenda retrata muito bem o desafio, a tensão, o drama, mencionados na reflexão anterior, acerca da dificuldade de uma observância fiel à Regra. Por isso, desde cedo surgiram algumas tendências bem distintas e opostas entre si e que, superficialmente, aqui, poderíamos reduzi-las a duas: os espirituais e os comunitários.


Os primeiros lutavam por uma fidelidade irrestrita, literal a todas as prescrições da Regra. Por isso, aqui, o cronista, representante desse grupo, usando a boca de Cristo, diz que ela deve ser observada à letra, à letra, à letra. Alguns representantes dessa corrente foram tão longe em seu radicalismo que, não conseguindo conviver com certa mediocridade, principalmente no que diz respeito à pobreza, acabaram caindo fora da Fraternidade e da Igreja.


Os do segundo grupo, talvez a maioria, lutavam por uma adaptação da prática com os princípios da Regra. Diziam, por exemplo, que, devido ao crescimento do número de frades e da necessidade de reunir os novos e numerosos vocacionados, que se apresentavam com uma formação muito aquém da necessária para um bom começo, precisavam construir conventos, grandes e espaçosos, para acolher a todos de modo conveniente e eficaz. Não era mais possível contentar-se com os simples, modestos e pequeninos lugares do começo da ordem, quando o número era bem menor e de boa formação. Além do mais, a itinerância, tal e qual como era praticada nas primeiras décadas, tornava-se cada vez mais difícil, gerando, às vezes, “boas vidas”, zanzadores e vagabundos que se aproveitavam das esmolas dos fiéis em vez de anunciadores do reino.


Poder-se-ia falar também da questão do dinheiro. Como andar sem ele, num mundo cada vez mais movido pela moeda como meio de troca? Mas, o mais difícil: como viver com ele sem ele, isto é, sem apegos, mas, puros e limpos da ganância e corrupção do mundo? Da mesma forma, a esmola. Enquanto os frades eram poucos o povo sentia-se feliz em poder sustentá-los. Mas, agora como sustentar tantos pedintes que a toda hora batiam à porta de suas casas? Era necessário encontrar outros meios de sustento, além dessa e do trabalho: a renda. Mas, como, viver de rendas e outros bens sem adornar-se deles e permanecer na santa Pobreza, de coração livre como os pássaros do céu e as aves do campo?


Por isso, no fundo dessa lenda está a velha luta, o antigo drama entre o homem da carne, natural, terrestre e o homem do Espírito, divino e celeste, Adão e Jesus Cristo. No dizer de São Paulo, o homem tem o desejo de fazer o bem. Essa é sua lei maior. Mas, há uma lei menor que o impede de realizá-la. Diz ele: Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo (Rm 7,19). Por isso, o Mestre nos ensina a que todos os dias digamos ao seu e nosso Pai: venha a nós o vosso Reino (reinado, império, poder)... faça-se a vossa vontade... isto é, que Ele nos revista com o poder do seu bem querer, expulsando de nós nosso mau querer.


Por isso, magistral foi a atitude e a resposta de Jesus. Como por ocasião dos discípulos, amedrontados porque a barca agitada pela força dos ventos revoltos parecia afundar a todos, Ele aparece e apazigua uns e outros, sem, todavia, deixar de confirmar a integridade de sua Regra; como que dizendo-lhes: não tenham medo, homens de pouca fé. Creiam em mim! Nessa Ordem estou Eu como estou na Igreja, nessa Regra estou Eu, vivo e verdadeiro, como estou nas Sagradas Escrituras, no Evangelho, na Hóstia, na Eucaristia.


A Francisco, por sua vez, e a todos os espirituais, que corriam o risco de, a exemplo dos fariseus em relação à Lei, querer se adornar da Regra e do Carisma, pede que se acalmem e que não se esqueçam de que tudo o que há na Regra não é nada deles, mas tudo Dele, Jesus. E para os Ministros provinciais, que se viam incapazes de viver à altura do Carisma evangélico, proposto pela sua Regra, essa confortante exortação: Eu sei quanto pode a fraqueza humana, e sei quanto quero ajudá-los”.



2. O que e como diz São Boaventura


São Boaventura (LM 4,11) apresenta a mesma história ou lenda, mas de modo bem diferente, ameno e mais razoável, mas não menos misterioso, divino. Começa narrando que, diante da grande expansão da Ordem, Francisco resolveu pedir que a Forma de Vida aprovada pelo Papa Honório fosse confirmada definitivamente pelo seu sucessor (1B 4,11). Foi então que o Senhor lhe veio em socorro, mais uma vez, em forma de sonho: Francisco parecia ter recolhido da terra pequeníssimas migalhas de pão e ter de distribuí-las a muitos frades, com fome, que o cercavam. E, como temesse distribuir migalhas tão pequenas, com receio de se desfazerem nas mãos, uma voz do alto lhe falou: “Francisco, faz uma hóstia de todas as migalhas e dá a quem quiser comer”. Tendo feito isso, aqueles que não recebiam, com devoção, ou rejeitavam o dom recebido, logo apareciam claramente infectados de lepra (1B 4,11).


Como custasse entender o significado, no dia seguinte, enquanto orava, o Senhor mesmo veio-lhe em auxílio com este esclarecimento: Francisco, as migalhas da noite passada são as palavras do Evangelho, a hóstia, a Regra e a lepra, a iniquidade.


Francisco entendeu que era preciso, pois elaborar uma nova redação daquela Regra originária; uma redação que servisse de alimento, de viático para os frades que deviam percorrer o mundo inteiro. Recordemos que, na Última Ceia, ao instituir a Eucaristia, Jesus mesmo se faz o Alimento mais excelente, forte e vivo para que seus discípulos pudessem percorrer o caminho desta vida, o caminho da Cruz, com fé e segurança, unidos a Ele. Eis a essência, o resumo da Vida e da Regra dos Apóstolos, agora concedida a Francisco e a seus seguidores.


Assim, qual novo Moisés, guiado pelo Espírito Santo, subiu ao monte, com dois companheiros. E, jejuando, satisfazendo-se somente com pão e água, mandou escrever a nova Regra, de acordo com o que, na oração, do Céu o Espírito lhe sugeria. E, levada ao senhor Papa Honório, esse a confirmou com o selo da autoridade apostólica.


São Boaventura vem, então, com este impressionante depoimento: Para que constasse, com mais certeza, pelo testemunho de Deus, passados relativamente poucos dias, no corpo do seráfico Pai, foram “impressos os estigmas do Senhor Jesus” pelo dedo “do Deus vivo”.


E conclui Boaventura: Esse milagre serviu de bula do Sumo Pontífice, Jesus Cristo, para a confirmação completa da Regra e recomendação do autor. Ou seja, o milagre da estigmatizarão de Francisco é como um selo, um carimbo de Deus, um testemunho oficial de Deus de que essa Regra e Vida, isto é, o Cristo Eucarístico, o Cristo Viático, o Cristo dos Apóstolos, o Cristo pobre e crucificado se incorporou de tal forma em Francisco que mereceu carregar também ele, como seu Mestre, os grandes sinais do fogo do Amor Divino, da Paixão do Pai: os sagrados Estigmas. Francisco passa a ser, então, a Regra viva dos Frades, assim como Cristo era a Regra, o Caminho, a Verdade, a Vida dos Apóstolos e seus seguidores.


Assim, se nas demais Ordens há sempre uma grande distância entre a Regra e seus fundadores, com São Francisco verifica-se uma profunda identificação: quem vê Francisco vê a Regra viva e quem vê, admira, estuda e contempla a Regra encontra nela a Pessoa viva de Francisco, o Evangelho, a Regra e Vida da Ordem dos Apóstolos, o Cristo Crucificado. Por isso, também, não se pode jamais fazer comentários, definições, dogmatizações, interpretações, adaptações, enfim, glosas (Cf. Test), dizendo: assim deve ser entendida! (idem). Mas, ao contrário, a exemplo das pessoas tocadas pelo amor, buscá-la e ouví-la de modo simples e puro, direto e pessoal, como de modo simples, puro, direto e pessoal foi recebida e escrita por Francisco (Cf. idem). Tudo isso, porque ela não é letra morta, mas o livro da Vida (2C 208).



Para aguçar a reflexão e a partilha:


1. Como entender o desafio, o drama acerca da observância da Regra, relatado pelas Fontes biográficas Franciscanas? Como ele se revela em minha vida, Fraternidade, Província e Ordem?

2. Como aparece na elaboração da RB o “caminhar juntos”, o estar atento aos sinais dos tempos e acima de tudo ao Espírito do Senhor e seu santo modo de operar?



Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM




Continue bebendo do espírito deste tema:


- postando seus comentários;


- ouvindo no YouTube: Frei Dorvalino - REGRA BULADA - 02 - A dramaticidade do nascimento da Regra Bulada em algumas Fontes Franciscanas

biográficas e antigas - Introdução II


Inscreva-se e curta nossos vídeos



Próximo Encontro: REGRA BULADA - 03 - Capítulo I - Em nome do Senhor - Começa a Vida dos Frades Menores


Posts recentes

Ver tudo

コメント


RECEBA AS NOVIDADES

  • Black Facebook Icon
  • Black Pinterest Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Instagram Icon

@2018 - Site Franciscano by Frei Dorvalino e Eneida

bottom of page