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98ºEncontro 13/5/23 17ª Admoestação - Do humilde servo de Deus - 2ª parte

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 14 de mai. de 2023
  • 6 min de leitura


DO HUMILDE SERVO DE DEUS

O PECADO DE QUERER RECEBER E NÃO QUERER DAR


Nossa reflexão vai retomar a XVII Admoestação. Por isso, vamos ler, mais uma vez, seu conteúdo:


Bem-aventurado aquele servo” (Mt 24,46), que não se exalta mais pelo bem que o Senhor diz e opera através dele do que pelo bem que o Senhor diz e opera por outro. Peca o homem que quer receber mais do seu próximo do que não quer dar de si ao Senhor Deus.


Nossa atenção, hoje, vai para a 2ª parte.


O PECADO DE QUERER RECEBER E NÃO QUERER DAR


A segunda frase, que também é a última, reza assim: Peca o homem que quer receber do seu próximo mais do que quer dar de si ao Senhor Deus.


Não parece muito difícil intuir nessa frase o dito do Senhor: Dai e vos será dado. A mesma medida com que medirdes sereis medidos... (Lc 6,38). Ora, segundo esse dito, peca o servo, toda vez que julga se merecer mais atenções e benefícios de seus semelhantes do que aqueles que ele se dispõe a prestar ao seu Senhor.


Mas, porque o pecado é contra o Senhor Deus e não ao próximo? Porque desde a encarnação o próximo ou semelhante não são mais apenas semelhantes ou próximos, mas uma presença viva e real de Deus, como diz Jesus: “Tudo o que fizerdes a um desses meus pequeninos foi a mim que o fizestes”. Além do mais, a perfeição que devemos buscar, segundo nosso Mestre, é sempre a do Pai: Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito!”


Uma das maiores dificuldades do homem, em toda sua história, é reconhecer e aceitar sua condição de criatura, querendo sempre ocupar o lugar do Criador. Consequentemente, também, quer sempre mais receber tudo dos outros sem dispor-se, todavia, a dar algo de si a Deus. Eis porque a tradição cristã costuma chamar isso de pecado.


O pecado, aqui, está no fato de querer alterar a lei da criação, segundo a qual a criatura jamais deixará de ser devedora ao seu Criador. E isso acontece porque reduz a verdade de si mesmo à dimensão meramente terrena, temporal e passageira. Nessa dimensão o servo está sempre lutando para evadir-se dessa sua condição de criatura a fim de tornar-se senhor, mesmo que, para isso, inescrupulosamente, às vezes, tente, de uma ou de outra forma, eliminar o outro, o senhor, que sempre lhe parece como concorrente e rival. Eis o que fez Adão no paraíso, o que se fez com Jesus Cristo e tantos de seus profetas e seguidores.


Já, na dimensão evangélica, o movimento é o oposto. O servo luta e se empenha para, sempre e de novo, ter o outro como seu senhor e maior, nem que para isso deva sacrificar-se ou morrer, como o fizeram nosso Mestre e, depois, seus seguidores. É o famoso princípio proclamado por Jesus na última Ceia: Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também (Jo 13,13-15).


Novamente, precisamos recordar que Francisco está falando a partir da graça do encontro com Cristo e de seu chamado. Nessa experiência, segundo a qual tudo nos é dado em superabundância, será sempre pecado, isto é, uma falta de sensibilidade, uma mesquinhez pensar somente em si, incapaz de abrir-se ao seu semelhante, a fim de deixar-se perpassar pela magnanimidade de Deus; peca porque quer receber tudo dos outros sem abrir-se para reconhecer o bem, que é de Deus, acontecendo em abundância, tanto em si como em tudo que existe e acontece ao seu redor.

A Admoestação soa, assim, como um alerta para que reconheçamos que nossa única grandeza é a bondade de Deus. Quando penetrarmos por esse caminho já não haveremos mais de pecar e cairá de nossos ombros o peso da inveja, da soberba que nos leva a estar sempre nos comparando com os outros e, pior ainda, querendo para nós o bem que o Senhor realiza neles.



HUMILDE SERVO DE DEUS, HOJE


A humanidade de hoje, como de sempre, desde Adão, está cheia de arrogância e soberba. Elas aparecem não apenas nos atos, nas vestes e afazeres dos maiorais desse mundo e da Igreja, mas, também dos humildes e pequenos. As coisas, porém, segundo Deus, são todas e sempre belas, grandiosas, humildes, simples e fraternas. A virtude da humildade, por isso, não está nas coisas ou nas obras que fazemos, mas no olhar que nasce do coração do homem. Se ele vê, aspira e cultiva a grandeza do mundo, as pessoas e as coisas serão vistas e tratadas de modo arrogante, desprezível, humilhante. Não será ocupando-se com “coisas” consideradas “baixas” ou desprezíveis que o homem se tornará mais humilde; como, também, não é e não será se ocupando com “coisas” consideradas elevadas e nobres que se tornará nobre, grande. O que faz o humilde ou o soberbo, o pobre ou o nobre é sempre o olho do coração, como diz Jesus. Se o olho for de soberba as pessoas e as coisas serão vistas e tratadas de modo desprezível, mas se for de humildade todos e tudo serão vistos e tratados como “senhores” e “senhoras”, como o fez Francisco em toda a sua vida e que reluz em seu Cântico do Irmão Sol.


No Gênesis se diz que, após o pecado de soberba, os olhos de Adão e Eva se abriram e, então, viram que estavam nus (Gn 3,10). Mas, não estavam nus já antes? Claro que sim! Por que, então não o percebiam? Porque estavam e viam com o olho da humildade, da pureza e da simplicidade originárias e não com o da soberba.


Lutero, em seu livro Magnificat, comenta a história da rainha Ester que trazia uma rica coroa sobre a cabeça. Mas, a seus olhos não passava de um pano imundo. Com isso as imagens elevadas não se haviam afastado dela. Ao contrário, estavam colocadas diante da poderosa rainha em grande número. E não havia imagens inferiores. No entanto, sua forma de ver as coisas era cheia de humildade. Coração e mente não se fixaram em coisas elevadas. Por isso Deus fez milagres através dela. Não são as coisas que devem ser transformadas, mas nós devemos ser transformados na mente e no espírito. Então, aprenderemos por nós mesmos a desprezar as coisas elevadas e a evita-las, apreciar as pequenas coisas e a busca-las. A humildade é boa de fora a fora, firme em todos os sentidos. Mesmo assim, ela nunca tem consciência de si própria. Então reina alegria e o coração permanece sempre o mesmo, por mais que se transformem ou apresentem as coisas elevadas ou baixas, grandes ou pequenas (Martim Lutero, Magnificat, o louvor de Maria, p. 48, Santuário e Sinodal).


No mesmo sentido dizia Frei Egídio: A humildade não sabe falar e a paciência não ousa falar (DE 4).


Não será acaso, pois, que o Senhor tenha sua vida relacionada ao burro, símbolo do servidor, jamais ao cavalo, símbolo do poder, como o faz o profeta Zacarias: Dança de alegria, filha de Sião, dá vivas, filha de Jerusalém, pois agora o teu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num burrico, filhote de jumenta. Ele vai dispensar os carros de guerra em Israel, vai dispensar os cavalos em Jerusalém” (Zc 9,9-10).


No mesmo tom, o grande cancioneiro Luís Gonzaga em sua “Apologia ao Jumento” diz: O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão! Ajudou o homem na lida diária, ajudou o homem, ajudou o Brasil a se desenvolver, arrastou lenha, madeira, pedra, cal, cimento, tijolo, telha, fez açude, estrada de rodagem, carregou água para casa do homem, fez a feira e serviu de montaria, o jumento é nosso irmão!…Serviu de transporte de Nosso Senhor, quando ele ia para o Egito, quando Nosso Senhor era pirritotinho… Eu, no entanto, gosto dele, porque ele é servidorzinho, que é danado! Animal sagrado! Jumento, meu irmão, eu reconheço teu valor! Tu és um patriota! Tu és um grande brasileiro! Eu tô aqui, jumento, pra reconhecer o teu valor, meu irmão. Agora, meu patriota, em nome do meu sertão, acompanho o seu vigário, nesta eterna gratidão. Aceita nossa homenagem, ó jumento, nosso irmão!”



Para pensar e partilhar:


1. Por que querer receber e não querer dar é pecado?

2. Por que é tão difícil ao homem moderno ser humilde?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes

Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 98º Encontro - 17ª Admoestação - Do humilde servo de Deus - 2ª parte - O pecado de querer receber e não querer dar


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