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8º Encontro (27/03/21) - São Francisco, um convertido por excelência - Da graça, sua doçura e ...

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 26 de mar. de 2021
  • 5 min de leitura

Atualizado: 8 de abr. de 2021



2 º Estágio (retorno e continuação): Da graça, sua doçura e ressonância:

conversão espiritual de São Francisco



O texto que estamos seguindo, a Legenda dos Três Companheiros, por ser texto fonte é de uma profundidade inesgotável. Por isso, à medida que se avança, vão se descobrindo, aspectos ou elementos novos dos capítulos já lidos e estudados ou que foram deixados para trás.


Por isso, hoje, neste 8o Encontro, embora já tenhamos começado a estudar a Conversão crística (7º Encontro), sentimos a necessidade de retomar a conversão espiritual, estudada no 5º e 6º Encontro.


No capítulo III (7 a 10) da mencionada Legenda, os autores revelam não apenas como se desenvolveu a graça do início da conversão espiritual, descrita no capítulo II (4 a 6), mas também novos e fundamentais aspectos de sua natureza e atuação. Eles aparecem já no próprio título: como o Senhor primeiramente visitou o seu coração com admirável doçura, em virtude da qual começou a progredir pelo desprezo de si e de todas as vaidades e pela oração e esmola e pelo amor da pobreza”.


O título começa acentuando, mais uma vez, que a iniciativa agora já não é mais de Francisco. Entra no foco alguém que os autores denominam de “Senhor”. Já não vemos mais Francisco atuar a partir de si e em vista de si ou em vista da cavalaria. Todavia, nesse momento, Francisco ainda não consegue penetrar inteiramente no coração dessa visita. Percebe, muito fortemente, que há um Senhor que o busca, o procura, o encontra, o toca e quer entrar em comunhão com ele. Esse Senhor advém a ele. Vem da ausência para a presença, da lonjura para a proximidade, do desconhecido cada vez mais conhecido.


Este advento, chegada ou “parusia”, a Legenda chama de “visita”; uma visita que advém e sobrevém subitamente, do nada, e de modo inesperado; uma visita que acontece de modo absolutamente gratuito, numa iniciativa impregnada de benevolência, doçura, encanto e amor por Francisco. Eis o vigor, a virtude da graça divina! (10). Eis o princípio, a força originária, a raiz do deslanche da conversão espiritual! Se, antes, era ele que comandava sua transformação, agora ela é fruto do Senhor e sua graça. Assim, em sua visita furtiva, o Senhor começa roubando Francisco de Francisco, da família e do mundo, fazendo com que ele, Francisco, comece a sentir-se estranho a si mesmo. Só assim, o Senhor, poderá dar-se a si mesmo (doar-se, dar o seu “Eu”) a Francisco. Ao ser expropriado de si, de seu eu, de seu “si-mesmo”, Francisco passa a ser apropriado pelo Senhor. Em troca, o Senhor dá a Francisco um novo eu, um novo “si-mesmo”, muito melhor do que ele tinha ou era antes. Eis o começo da troca, a força que sempre, ao longo da vida, dá e dará o deslanche da conversão espiritual, princípio e coração da conversão crística.


Esse roubo, arroubo ou êxtase vem belamente descrito assim: E eis que de repente é visitado pelo Senhor; seu coração ficou repleto de tanta doçura que não podia falar nem mover-se, e nada conseguia ouvir nem sentir senão aquela doçura; ela, de tal modo o alienara do sentido carnal que – como disse mais tarde – se na ocasião fosse todo cortado em pedaços, não poderia mover-se do lugar (LTC 7).


A mudança, é tão profunda que Francisco deixa seus companheiros de festas e divertimentos “espantados”, pois veem-no já mudado quase em outro homem (LTC 7).

Esta mudança leva Francisco a ir se desligando, aos poucos, da “vaidade do século”, isto é, daquilo que no modo usual de viver dos homens é vão, ou seja, vazio, porque enganoso, passageiro. Trata-se, aqui, de um caminho de soltura, isto é, de libertação da vaidade do século para a verdade daquilo que em nós é pleno e eterno e que os autores da Legenda percebem com clareza: Jesus Cristo. Por isso, dizem que Francisco, embora ainda não o percebesse com toda a clareza, já estava se esforçando para, a exemplo de uma pérola preciosa ou de uma pessoa muito querida, ocultar Jesus Cristo no homem interior.


Isto quer dizer que Ele já estava sendo visitado e possuído por Jesus Cristo. Assim, aos poucos, se empenhava no sentido de vender, isto é, de se desfazer e se desapegar de tudo o mais, para poder possuir e ser possuído por este tesouro. A nova visita do Senhor fá-lo intuir que ali estava aquela “noiva” que vira no famoso sonho a caminho de Espoleto (LTC 5). A noiva que, por causa da pobreza, depois, se tornará a verdadeira “religião” (Religião, Ordem), isto é, a sua Fraternidade religiosa.

Antes, e ao contrário, de uma vivência do mundo e da esfera da subjetividade ou da consciência estamos diante de uma experiência. Experiência diz um encontro, um ser tocado, atingido, e, a partir deste atingimento, um ser transformado; diz que algo nos alcança e nos impacta e, assim, nos muda, nos envia e nos abre um novo caminho para nossa existência. Neste caminho, somos expostos e postos em perigo, pois podemos nos ganhar ou nos perder. Por isso, toda experiência é um pôr à prova a nós mesmos. Eis o mundo da conversão ou da existência espiritual!


Ao toque, ao atingimento, da experiência, nós chamamos de “afeição”, a Legenda de doçura. A afeição, ou doçura, é graça do encontro da experiência e da experiência do encontro; é certa sonância e ressonância, em nós, em nosso coração, isto é, no âmago, no centro de nosso ser e a partir daí, em todas as nossas relações; é um modo de vibrar na vida e com a vida.


Costumamos chamar de amargor a experiência do que nos agride e nos repugna e de doçura a experiência do que nos atrai, fascina, alicia, enamora. Por isso a mãe chama o filho de “meu doce” e nós a Nossa Senhora de “nossa doçura”. Eis o fruto, a sonância ou ressonância da graça da doçura, da afeição do encontro experienciados por São Francisco nestes primeiros passos de seu caminho espiritual. Levado pelo vigor dessa graça começa a progredir no desprezo de si mesmo e de todas as vaidades, na oração e nas esmolas, e no amor da pobreza. Ou seja, Francisco foi se tornando proficiente, isto é, entendido e competente, profícuo, proveitoso e experto nas coisas do espírito. Crescia no amor àquele que o visitara por puro amor, inventado cada vez novos e mais expressivos gestos de sua correspondência.

Nesse progresso espiritual merece destaque o crescimento de sua expropriação em favor dos pobres. Francisco se expropriava cada vez mais de tudo a que pudesse estar apegado. Tornava-se mais pobre e vinha em socorro dos pobres que lhe pediam por amor de Deus. Diz a Legenda que desejava tanto estar com eles que a pressa era tanta que costumava pôr o coração nos pés para ajuntar-se aos seus novos companheiros (LTC 9). Assim, foi trocando a amizade dos amigos ricos pela amizade dos amigos pobres e descobrindo a riqueza da pobreza latente na indigência dos pobres; foi alargando o coração para se tornar cada vez mais generoso, dadivoso, para com tudo e para com todos. Tudo isso era ressonância da graça divina nele. Uma ressonância que o ia transformando cada vez mais de um homem carnal, centrado em si mesmo, para um homem novo, espiritual. Movido por esse espírito, começou a orar a Deus para que dirigisse seus caminhos (LTC 10).



Para pensar, conversar e compartilhar


1. Qual o significado e a importância da visita do Senhor a Francisco em forma de doçura?

2. Qual a transformação que Francisco experimenta a partir dessa visita? E qual seu significado para o caminho espiritual, religioso?


Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes




Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: São Francisco, um convertido por excelência:

Da graça, sua doçura e ressonância: conversão espiritual de São Francisco


- postando seus comentários;

- ouvindo no YouTube: Frei Dorvalino - São Francisco, um convertido

por excelência: Da graça, sua doçura e ressonância: conversão espiritual

de São Francisco - o belo e esclarecedor vídeo do Prof. Marcos Aurélio Fernandes


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Próximo Encontro: Capítulo IV da Legenda dos Três Companheiros: Do conhecido encontro com o leproso e seu beijo da Paz



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1 Kommentar


Mariana Coltro
Mariana Coltro
05. Juli 2021

Gostei muito da reflexão que assisti hoje.

Acredito que uma das maiores transformações de Francisco foi conseguir ver na pobreza, toda a riqueza de Nosso Senhor, ao se aproximar dos pobres, percebeu que o Senhor estava com eles, e isso os tornava mais ricos do que qualquer um. Se não nos prendemos às coisas materiais, estamos livres para Deus, livres para estarmos em sua doçura.

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