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5º Encontro (06/03/21) - São Francisco, um convertido por excelência

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 6 de mar. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 12 de mar. de 2021


2º Estágio: De sua conversão espiritual



Introdução


Na última reflexão, nos detivemos na primeira conversão de Francisco, a saber, sua “Conversão ética” ou “Humana”. Hoje, vamos ver e analisar a segunda, que pode ser chamada “Conversão espiritual”.


Movido pela graça do encontro com aquele pobre, Francisco se transformara num jovem de coração nobre, bem humano, alegre, jovial, cortês, generoso com todos, principalmente, com os pobres. Mas, continuava vivendo e trabalhando como comerciante na casa do pai.


1. UM SONHO MISTERIOSO


Aos poucos, vê e sente nascer, dentro de si, o desejo de tornar-se ainda mais nobre, mais generoso, grande, rico e importante. Decide, então, tornar-se cavaleiro. Para isso, vende tudo o que lhe pertencia, compra um cavalo, com toda a indumentária, e, ato contínuo, parte para a Apúlia a fim de fazer-se cavaleiro de um nobre senhor, chamado Gentil. Em meio à viagem, porém, um fato novo, surpreendente e muito promissor, atinge a raiz dessa sua nova ambição. À noite, enquanto dormia, é visitado em forma de sonho por um personagem misterioso que lhe lança um questionamento ainda mais radical, desafiador e profundo: “Francisco, porque você está deixando o senhor para ir atrás de um servo?” Francisco leva um susto: “Mas, há um senhor maior do que esse que estou buscando?” – “Há!”, responde-lhe a voz. E, de imediato, Francisco: “Quem é e onde está?” – “Volta para tua terra e procura”, contestou-lhe a voz. E acrescentou: “Francisco, deves interpretar de modo diferente teu desejo de ser um grande e nobre, famoso e rico cavaleiro (Cf. LTC 6,4-8). Francisco, então, abandonando a viagem e, com o coração nas mãos, volta para Assis, sua terra natal, a fim de entender melhor a mensagem que acabara de ouvir e encontrar seu novo senhor.


Analisando esse diálogo, podemos ver dois “eus” em Francisco, um se confrontando com o outro. O eu da subjetividade de Francisco, dominado pelo seu próprio saber, querer, poder e fazer; um eu cujo modo de ser é de viver atrelado ao “eu sei, eu quero, eu posso, eu faço”. São Paulo chama esse eu de “carnal” e, a propósito dele, fala de homem exterior, homem velho, homem psíquico ou anímico”, inimigo do “espírito”, do homem espiritual. Agora, porém, através dessa visão, começa a surgir em Francisco um outro “EU”, um “EU” mais profundo, que vem do íntimo mais íntimo dele, que se costuma chamar de “espiritual”. Por isso o destacamos em maiúsculo e em negrito.

O eu carnal nasce do pequeno e fechado mundo da subjetividade e vive voltado só para si, atrelado às coisas superficiais e imediatas. Já, o EU espiritual, ou do espírito, nasce de uma força diferente, maior e mais profunda. Nasce da graça, isto é, da gratuidade da visita, do encontro, do engraçamento.


Assim, Francisco começa a intuir e sentir que, para além de tudo o que ele queria e fazia, existe outra realidade muito maior, misteriosa, engraçada, que não cabe dentro das medidas que ele conhecia e estabelecia, das medidas do eu de sua subjetividade, nem mesmo dentro da subjetividade de todos os homens; uma realidade (força ou espírito) que o procura, ama, estima e que, por isso, também ele deve procurá-la, amá-la e acolhê-la.


Assim, antes, na conversão ética, ele se considerava maior e melhor que os pobres e leprosos. Por isso, os visitava como benfeitor a fim de fazer-lhes caridade, de promovê-los. Agora, movido por esse novo “EU” (espírito), ele vai ao encontro deles porque vê neles uma riqueza, uma nobreza, uma sabedoria, uma grandeza que o encantam e o tocam. E, porque ele não as tem, precisa conhecê-las, amá-las, acolhê-las e vivê-las. Descobre a grande verdade: que os pobres, os leprosos não são pobres ou carentes, desprezíveis ou indesejáveis, mas ricos e nobres, sábios e senhores, dotados de uma sabedoria e riqueza sumamente desejáveis e que ele não tem. Eis o princípio da graça da nova conversão: a conversão espiritual!


Francisco, então, movido pelo encantamento dessa graça, em vez de viver virado para seu pequeno eu, com seus interesses, gostos e projetos, começa a viver todo voltado para essa nova realidade. Assim, começa a morrer um Francisco e a nascer um outro, um novo Francisco. Abandonando as festinhas com os amigos, recolhe-se nas grutas e igrejinhas para pensar, meditar e rezar. Começa, também, a viver e a passar horas e horas com os pobres, principalmente com os leprosos, codividindo com eles o mesmo pão que ganhava através da esmola.


Nesta fase de transformação, Francisco teve a graça de diversos outros encontros. Um, porém, marcou o rumo de toda a sua existência: o encontro com o leproso. Se, até então, tinha horror aos leprosos, a ponto de fugir deles, agora, isto é, certo dia, encontrando um deles, desceu do cavalo, deu-lhe uma esmola e o beijo da paz, da reconciliação. O próprio Francisco considera esse evento tão significativo, coisa tão espiritual, ou de Deus, que, em seu Testamento, no fim da vida, chega a colocá-lo como ponto de partida de sua conversão sobrenatural (Cf. T). Estava selada assim a conversão espiritual.


A partir de então, há um antes e um depois: antes era amargo ver leprosos, agora se tornou doçura; antes, as coisas, as glórias e grandezas do mundo eram importantes, agora, desprezíveis, um lixo.


2. CONVERSÃO ESPIRITUAL, HOJE


Como Francisco, todos nós somos visitados por inspirações, desejos ou sentimentos que nascem do fundo de nosso ser, do nosso espírito. Quem nunca sentiu dó, compaixão e até mesmo desejo de ajudar uma criança abandonada, um idoso que quase não conseguia andar, um doente? Quem não se sentiu, alguma vez, entristecido e desejoso de pedir perdão porque ofendeu, machucou alguém? Quantas vezes, principalmente em momentos de vida e morte, não sentimos vontade de elevar a mente para Deus, de rezar?

Mas, e infelizmente, hoje, dominados pelo ídolo do “eu”, aquele eu da subjetividade, deixamos de cultivar o espírito, deixamos de ser espirituais. Até em coisas essencialmente espirituais, como, rezar, nos comportamos de modo carnal, materialista, consumista, procurando mais a autossatisfação do que a alegria da graça do encontro ou do encontro da graça.


Por isso, além da conversão ético-humana, a maior necessidade do homem de hoje, principalmente no ocidente, é a conversão espiritual. Sem essa não se chegará jamais a lugar algum, muito menos à conversão cristã, evangélica. Ouçamos este testemunho do cineasta francês, Vincent Moon, falando sobre a espiritualidade do povo brasileiro: “Quando eu estava gravando bandas, na rua, eu não queria gravar pessoas famosas, mas música, pesquisar algo do invisível. Odeio tudo o que tem a ver com fama; é uma doença da nossa época. O que eu quero é ver a mente, o espírito das pessoas e não seus gostos, seus sucessos, erros e pecados, sua subjetividade (Entrevista ao jornal Zero Hora).


São Boaventura explica assim a manifestação do espírito. Para quem tem um pouco de bom senso, diz ele, descobre logo que a verdadeira felicidade não está no gozo das coisas passageiras, mas no convívio do sumo e eterno Bem, isto é, daquelas realidades que nunca terminam, que estão acima de nós, da nossa natureza meramente humana, subjetiva. Tais realidades são, por exemplo: o amor-doação ou caridade, o perdão, a paz, a alegria, a concórdia, etc.


Conclusão


Nosso Papa Francisco, falando do espírito farisaico, que nasce do endeusamento da subjetividade, resume muito bem a falta de atenção ao espírito, hoje, por parte da sociedade moderna e de nós católicos:


“A «religião do eu» continua hipócrita, com os seus ritos e suas «orações»: muitos dos seus praticantes são católicos, confessam-se católicos, mas esqueceram-se de ser cristãos e humanos, esqueceram-se do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo cristãos que rezam e vão à Missa ao domingo são seguidores dessa «religião do eu».


Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e vilipendiadores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus. (Homilia proferida na Missa no dia 27-10-2019).


Mas, também e por outro lado, graças a esta pandemia que grassa por toda a parte, nunca houve na história da humanidade um transbordamento de misericórdia tão universal. Os corações, diz nosso Papa, foram postos à prova. A crise suscitou em alguns uma coragem e uma compaixão novas. Alguns foram sacudidos e responderam com o desejo de reimaginar nosso mundo; outros procuraram socorrer, com gestos bem concretos as carências de tantos, capazes de transformar a dor do próximo. Isso me faz acreditar que somos capazes de sair melhores desta crise (Papa Francisco, Vamos Sonhar Juntos, o Caminho para um Futuro Melhor, Pág.13).



Para pensar, conversar e comentar:


1. Como se caracteriza o modo de ser do espírito ou da conversão espiritual? Qual seu papel ou importância na conversão de Francisco e de cada um de nós? O que, hoje impede ou ajuda para sermos espirituais?

2. A fala do Papa Francisco ajuda a compreender e a assumir a conversão espiritual? Sim? Não? Por quê?


*****


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1 Comment


silviamfve
silviamfve
Apr 08, 2021

O modo de ser do espiritu se carateriza pela profundidade, pela saída de si mesmo aos outros especialmente aos mais pobres, pela busca de uma outra realidade que vai além do próprio eu da subjetividade. Este modo de ser nos permite viver nossa conversão espiritual porque nos ajuda a sair de nosso pequeno eu para ir a nosso EU ( ser espiritual) e poder perceber a realidade divina e entrar em comunhão con Ela.

Na atualidade e difícil viver a conversão espiritual porque se enfatiza a superficialidade do eu buscando satisfazer as suas necessidades, se vive en torno ao individualismo que esquece aos outros, ao egocentrismo, as aparências.... mas também o ser humano hoje cansado de tanta superficialidade busca o…


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