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57º Encontro 11/6/22 - 4ª Admoestação Poder e autoridade na dinâmica do serviço e do cuidado humano

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    Frei
  • 11 de jun. de 2022
  • 12 min de leitura



Poder e autoridade na dinâmica do serviço e do cuidado humano



A Admoestação IV de São Francisco (“Que ninguém se aproprie da prelatura”), aprofunda o tema da obediência perfeita, tratado na Admoestação III.



1. Não apropriar para si o poder


A obediência é a pobreza do espírito no sentido do poder querer. O querer sempre quer poder. No entanto, qual a essência do poder? Qual o ser do poder? Resposta: o ser do poder consiste em poder ser, isto é, em ser capaz de ser. Em seu franciscano “Livro sobre nada”, o poeta matogrossense Manuel de Barros dedicou alguns poemas ao “desejar ser”. Esta parte do seu livro abre-se com uma citação do Padre Antônio Vieira, que diz: “O maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos vêem com amor o que não é, tem ser” [1]. A obediência diz respeito a este apetite de ser que se esconde no querer que quer o poder ser. Obediência é viver esta dinâmica do apetite de poder no sentido do querer poder ser, isto é, no sentido de empenhar-se por potencializar a vida. A obediência leva o homem a ter um relacionamento essencial com a essência do poder. Este relacionamento essencial, para São Francisco, consiste na pobreza, isto é, no “não apropriar para si” o poder.


Quando o homem apropria para si o poder, ele desvirtua, perverte o poder. Ele passa a se apegar à inessência, ao avesso do poder. Ele se apropria do poder para si e se torna propriedade da inessência do poder; ele se arroga a posição de senhor e se torna escravo da inessência diabólica, demoníaca, do poder. Dedicado à maquinação do poder, sem espírito, isto é, sem cuidado com a vida, o homem se põe a agenciar o seu mundo, entregue à sanha de um fazer sem ser. A terra se torna, então, palco da maquinação de um pseudo-poder, onde o fazer sem espírito, isto é, sem cuidado com a vida, impera, ou seja, manda, comanda, desmanda, autoritariamente, totalitariamente. Este é o modo de ser dominante do homem e do mundo hoje. Nós só conhecemos as formas decadentes e degeneradas, pervertidas, do poder. E achamos que nisso está a essência do poder. Na economia e na política este modo de ser se mostra, então, catastrófico. Este modo de ser produz opressores e oprimidos e induz os homens a grandes sofrimentos. A opressão, a subjugação, a exploração do homem sobre o homem imperam então. As injustiças sociais, a violência como estado permanente da sociedade, o império do ódio, da exclusão dos outros, as guerras civis e religiosas, as guerras entre nações, etc., tudo isso expressa o paroxismo deste desvirtuamento do poder. Tudo mostra o homem inumano, desumano.


Entretanto – voltamos a perguntar: o que é o ser do poder enquanto poder ser? O espírito do poder é dedicação, doação. É cuidar, é servir, de modo humilde. A humildade é a inocência do poder. Inocência significa: que não danifica, que não arruina, que não violenta, que não destrói e que não aniquila o ser, a realidade, a vida. O homem pobre de espírito, que não se apropria para si do poder, entrega-se à obediência, no cuidado da vida. Só com esta entrega, doação, só com este cuidado, que se concretiza como serviço humilde e que no fundo é, em sua essência, amor, o homem penetra num relacionamento mais profundo com as coisas e com os outros homens. Só com este modo de ser o homem deixa as coisas e os seres humanos brotarem e florescerem segundo suas próprias possibilidades. O homem se torna, então, humano. O homem humano é pastor, isto é, o cuidador, o servidor das possibilidades de ser, da realidade, da vida. A essência do poder consiste no pôr em obra as possibilidades de ser. Possibilidade, significa, aqui, o que possibilita ser, isto é, nascer, crescer, consumar, alcançar plenitude de vida. Possibilidade significa, ainda, o que potencializa, isto é, o que aumenta o vigor de ser, o que torna capaz de ser. A verdadeira essência do poder se mostra, assim como amar. Amar significa, de boa vontade, cordialmente, benignamente, dizer: quero que sejas. Amar é servir ao poder ser, ao nascimento, ao crescimento, à consumação da realidade, da vida. O bem de cada coisa consiste em alcançar esta plenitude de seu ser, de seu poder-ser.



2. A essência do poder é servir à autoridade da vida


À força originária da vida nós chamamos de autoridade. A essência do verdadeiro poder consiste em servir à autoridade da vida. Autoridade significa possibilitação da vida. Autoridade quer dizer deixar-ser, isto é, deixar a vida ser vida, deixar a vida nascer, crescer, consumar-se. A obediência, que é a pobreza do querer, não se apropria para si do poder, e, assim fazendo, ela converte o poder à autoridade da vida. A Admoestação IV é um projeto de uma nova antropologia, isto é, de uma nova autocompreensão do homem, em que o homem se torna homem humano, com a conversão do poder à autoridade da vida, mediante o cuidado, que é serviço humilde. Ela projeta o homem como o pastor, o cuidador, o servidor, das possibilidades de ser, da vida. Ela projeta o cuidado pelo humano do e no homem, quer seja em si, quer seja nos outros. Ela projeta, assim, também, uma nova possibilidade de convivência humana.


A concepção do homem como sendo essencialmente não o senhor, mas o servo da realidade, da vida, Francisco haure do Evangelho. Jesus Cristo é o exemplar, a forma originária, o arquétipo do homem humano. Ele aparece como “o servo”: não vim para ser servido, mas para servir. O envio da vida, Jesus assumiu como serviço humilde à terra dos homens e aos homens da terra. Na cruz, ele consumou este serviço. Seu gesto de lavar os pés dos discípulos na noite em que foi entregue diz, isto é, mostra, declara isto. Jesus mostra em que consiste ser homem humano: em ser servo da vida, em se empenhar, pela ação e pela paixão, para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Comentando a IV Admoestação em chave desta nova autocompreensão do ser-homem, proclamada como alegre notícia no Evangelho, frei Hermógenes Harada diz:


Está nisso a origem de todo esforço de São Francisco de imitar Jesus Cristo. Tudo o que guarda e desenvolve a vida tem jeito de servo: mãe, terra... São Francisco diz: o meu Senhor abandonou tudo para se tornar servo e guardar a vida onde estiver, nem que mínima; então eu que sou seu servo faço o mesmo. Por ser servo ele também, como Nosso Senhor, está inteiramente a serviço do aumento, do crescimento do bem, i.é, da riqueza, do poder, do domínio, da beleza do seu Senhor.


Francisco fala de não se apropriar para si da prelação. Prelação quer dizer: ir à frente. É a função daquele que vai à frente dos outros, para servir de guia, para mostrar o caminho. Os pais para os filhos, os mestres para os aprendizes, os governantes para os governados, por exemplo, exercem esta função de prelação. Eles devem ser mais obedientes do que aqueles a quem eles servem. Somente sendo mais obedientes é que eles podem servir, isto é, podem prestar, ser úteis, ser dignos, ser bons para os outros, na convivência humana. Na visão da obediência, os pais não se servem do poder e da autoridade da paternidade para si mesmos, para seus interesses particulares, mas servem ao poder e à autoridade da paternidade para o bem comum da família; os mestres não se servem do poder e da autoridade do magistério para seus interesses egoísticos, mas servem ao poder e à autoridade do magistério para o bem comum da comunidade de aprendizagem, que une mestres e aprendizes; os governantes não se servem do poder e da autoridade do governo da sociedade e do Estado para seus interesses particulares, mas servem ao poder e à autoridade da cidadania em vista do interesse público (res publica), em vista do bem comum. Assim, autênticos soberanos são aqueles que sobressaem no servir, no cuidar do poder e da autoridade da vida.


A superioridade consiste em ser menor, isto é, em se pôr aos pés de tudo e de todos, na atitude de servo, de serviço. Para São Francisco, Jesus Cristo é aquele “Grande Senhor” que mostrou em que consiste a grandeza e a dignidade do ser humano e de Deus mesmo, vivendo como servo ínfimo de tudo e de todos. Em Jesus Cristo, todo o poder se converteu para a autoridade do amor, de um amor absolutamente gratuito, primeiro e universal. Jesus Cristo mostrou este modo de ser do Pai, que faz nascer o sol para bons e maus e faz cair a chuva para justos e injustos (Mt 5,45). Em Jesus todo o poder se converteu na autoridade do amor que ama por primeiro, gratuitamente, sem se perguntar se o a ser amado é digno ou não de ser amado. Este amor é “católico”, isto é, universal, ele vê a faísca do divino arder em tudo e em todos, mesmo naqueles que a nós, míopes, parecem indignos ou impossíveis de serem amados. Da catolicidade, isto é, da universalidade deste amor, nos fala frei Hermógenes Harada, quando diz: “Isso é ser "católico": não excluir, não dividir, não separar ninguém, mas servir à vida e criar força para o futuro da humanidade. Esta é uma nova antropologia, é o novo céu e nova terra, algo revolucionário!”. Na catolicidade, isto é, na universalidade e na identidade desse amor, que é cuidado e gratuidade, nenhuma diferença fica excluída. A vigência e a regência deste amor é o que o Evangelho chama de “Reino de Deus”.



3. O ofício de lavar os pés, o cuidado pela fragilidade humana


Ao exercício de liderança e de coordenação assumido neste espírito São Francisco chama de “ofício dos pés”. O pé é nossa pertença à terra, ao chão da realidade. Todo ser humano tem pés de barro, isto é, é frágil. O ofício dos pés é o cuidado da fragilidade humana. Todos nós temos o nosso “calcanhar de Aquiles”. Por mais heróicos que sejamos, trazemos nossas vulnerabilidade. O “ofício dos pés” é o pôr em obra o cuidado para com a vulnerabilidade humana. É o serviço que se volta para o homem enquanto mortal. Dizem que em vários pórticos de templos zen na China e no Japão encontra-se uma tosca tábua que traz a inscrição: “olha bem debaixo de teus pés!”... Somos convidados a olhar para a terra dos homens e para os homens da terra enquanto seres mortais e frágeis que são. Os pés, bem como a terra, a que eles pertencem, são por nós considerados vis. A terra serve aos pés e os pés servem ao corpo inteiro. E, no entanto, são desprezados, considerados como vis. Ao modo de ser desta vileza, que serve e cai no esquecimento, que não é enobrecido, exaltado, são Francisco chama de humildade. Só o amor pode descobrir a nobreza escondida nesta vileza, a grandeza escondida nesta humildade. Jesus Cristo que lava os pés dos seus discípulos mostra o que é grandeza, o que é nobreza, o que é dignidade, para valer, de verdade. Mostra-se como servo e, nisso, como senhor. São Francisco ambicionava servir ao maior de todos os senhores e ser senhor também ele. E descobriu, aos poucos, na sua conversão e iluminação, que isso só se realizaria se ele se tornasse inteiramente servo daquele que viveu como servo de tudo e de todos, que se dedicou ao “ofício dos pés” por toda a sua vida. Servir aos pés significa também servir ao caminhar humano sobre a terra. É saber-se peregrino a serviço de peregrinos. Lavar os pés significa ter a paciência necessária para com os seres humanos, que, caminhando, “pegam poeira”. Servir aos pés significa ajudar aos seres humanos em seu caminho, em suas andanças e em suas paragens. É encarnar o sentido da encarnação do Filho do Altíssimo no Servo do lava-pés, no Cristo Crucificado.



4. O perigo da perturbação pela perda do cargo


Por fim, São Francisco adverte para o perigo de turbar-se com a privação do poder. A privação costuma nos perturbar. Ficamos encafifados com aquilo que nos falta, com aquilo cuja posse não nos foi concedida ou nos foi tirada. Este ficar encafifado com a privação é chamado por São Francisco de “vontade própria”. Não suportamos a privação. Por isso, não suportamos a realidade, a vida mesma! É que a plenitude inesgotável da realidade nos é dada sempre no movimento, na mudança, no devir. E movimento implica privação. No devir da árvore, o botão precisa morrer como botão, para aparecer a flor; a flor precisa morrer como flor, para aparecer o fruto. A árvore precisa privar-se da forma botão, para que aconteça a transformação que faz aparecer a flor; precisa privar-se da forma flor, para que aconteça a transformação que faz aparecer o fruto. Precisa, enfim, privar-se do próprio fruto, para que, caído por terra, ele libere a semente, que faz surgir outra árvore. Em nosso delírio de onipotência odiamos a privação, e, assim, somos incapazes de amar a vida, a realidade em realização, cuja plenitude está sempre de novo se dando, mas, ao mesmo tempo, se retraindo. Mas acolher no ser o não-ser, no devir a privação, é exercício de desapego, de desprendimento, do poder, que deixa ser o mistério da vida, que traz consigo sempre a morte. A morte não é nada mortal. A morte é vital: é o retraimento do mistério da vida. A obediência é o exercício de não se se fazer possuidor da vida. É acolher que a vida é dom inesgotável que se nos doa e se nos escapa sempre de novo. Obediência é abrir-se ao silêncio deste retraimento da vida. É, com paciência e serenidade, acolher as transformações da vida, sim, a morte da vida, como dom de uma misteriosa provocação. Frei Harada diz:


Na espiritualidade, "privação", "finitude" são lugares de desafio para descobrir nelas próprias uma energia nova escondida que gera grande serenidade e vigor vital; é lugar de realização, lugar de se fazer uma história de bem e de salvação. São Francisco chama esta atitude de "fazer a vontade de Deus". Na espiritualidade, toda situação de privação e finitude é sempre "um patinho feio" escondendo "um cisne real".


Aquele que fica encafifado com a privação se torna ressentido com o tempo, magoado com a vida. O homem que assim vive perde o espírito, isto é, perde o sopro e a faísca do divino que habita seu íntimo mais íntimo, seu coração. Melhor: se perde deste sopro e desta faísca, pois esta inabitação continua acontecendo: ela é a “imago Dei”, isto é, a imagem de Deus no homem. Por ela o homem é da estirpe de Deus, por ela o homem é filho de Deus. E, para Deus, o homem nunca deixa de ser seu filho, de ser de sua descendência, de sua raça.


O homem que assim se perde e, assim, vive ressentido, deixa de ser o pastor do ser, da vida, da realidade, e passa a ambicionar sempre mais e mais o explorador, o conquistador, o subjugador dos seres, dos viventes, do real. Este homem espalha o desamparo por toda a terra.


Já o homem servo, isto é, o homem humilde, o homem humano, acolhe o ser e o não ser, a posse e a privação da vida, como graça. Ele se considera a si mesmo responsável pelo cuidado com o sentido de ser de tudo o que é e não é, sim, pelo sentido de ser mesmo daquilo que parece sem sentido, absurdo. Ele vive na “finitude agraciada e agradecida”. Frei Harada assim se expressa: “Por isso a espiritualidade, como é vivida na experiência cristã, tem a coragem de dizer: tudo é graça, tudo é "dom-convite" para realizar obra de grandeza humana”. Na impossibilidade, assim, o homem humano deixa gerar nova possibilidade! “Isto é "lavar os pés" da realidade!”.


São Francisco fala do “perigo para a alma” que é a perturbação com a privação do poder. É que aquele que se turba não entende que a privação do poder é chance e oportunidade de entrar mais profunda, mais ampla e originariamente na autoridade do mistério da vida. Ele fica tapado para as possibilidades que nascem, gratuitamente, da impossibilidade da vida. Ele não percebe que na morte a vida não é tirada, mas transformada. Ele não percebe que, em cada morte, em cada privação da vida, que vivemos ao longo de nosso caminho sobre a terra, nos está sendo concedida uma dádiva oculta. Assim, ele se torna ingrato com o dom de ser e não ser, que perpassa e pervade nosso inteiro viver, do nascimento à morte. O homem enlouquecido com o pseudo-poder é o “bípede ingrato”. O homem serenedado pela autoridade do mistério da vida, que vige e reina sem se impor, sem mandar, comandar, desmandar, é o homem da finitude agraciada e agradecida. É o homem pobre. Citemos, mais uma vez, a fala de frei Harada:


O perigo para a alma não se origina na fraqueza, no limite, no finito (ter nascido sem braços), pois isso não é "pecado", mas na ingratidão como história que eu faço do fato de ter nascido sem braços; poderia (e São Francisco diz, deveria) fazer uma história de gratidão. Assim se numa privação surge ressentimento, este tem sua raiz na ingratidão e dessa você é responsável, pois dentro de você devia ter amor e, conseqüentemente, gratidão pela realidade (ainda que dura e fora do padrão) que você recebeu. A partir do ser servo, as posições se invertem e surge um outro relacionamento com a realidade!


O homem ingrato ajunta bagatelas para si e acha que isso é riqueza. O homem da finitude agradecida e agraciada sabe que a riqueza não se confunde com posse, que a verdadeira riqueza é a inesgotável doação do ser, da realidade, da vida. Para o homem da finitude agraciada e agradecida, o homem pobre, o homem humano, a verdadeira riqueza é o bem que se difunde de si mesmo em tudo e em todos, com tal generosidade, que transforma toda a privação, todo o sofrimento e todo o mal em chance e oportunidade de um ressurgimento de um novo céu e uma nova terra. O novo céu e a nova terra não é outro céu e outra terra. É o mesmo céu e a mesma terra repercutindo em som puro e nítido o mistério da bondade originária, que Jesus Cristo revelou e que chamou pelo nome de “Abba”, Pai.


[1] Barros, Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2002, p. 36.



Para pensar e compartilhar:


1. Qual a essência do poder em sua originalidade?

2. Por que Jesus usou a figura, o exemplo do lava pés para ensinar o verdadeiro sentido do poder, da autoridade?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes




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