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55º Encontro 28/5/22 4ª Admoestação - 1ª parte - Ninguém se aproprie da prelatura

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 29 de mai. de 2022
  • 7 min de leitura


Ninguém se aproprie da prelatura


Sempre servir e servir



O texto desta Admoestação é bem breve. Mesmo assim, vamos desdobrá-lo em duas partes. Nesta primeira, vamos nos deter ao título e à primeira frase, composta, como de costume, por um dito de Jesus.



TÍTULO


Prelado e prelatura, ou prelazia, são palavras de pouco uso, hoje, entre nós. No tempo de Francisco eram bem mais comuns. Prelado indica(va) a pessoa que ocupa(va) algum cargo ou encargo de governo dentro da Igreja, como bispos, superiores religiosos e outras autoridades. Prelatura ou prelazia, por sua vez, indica(va) o próprio cargo ou função como, por exemplo, o papado, o episcopado, o monacato, etc. Assim, por exemplo, o geral, o papa, o provincial, o bispo, eram e são chamados de prelados e seus cargos de prelatura.


Pode-se perceber, já no título, o tom que vai conduzir essa Admoestação: a preocupação de Francisco para o grande e constante perigo do seguidor de Cristo de perseguir caminho inverso do próprio mestre que, sendo Senhor, se expropriou de tudo o que lhe era próprio, até mesmo de sua divindade e vontade para, tão só e unicamente, fazer-se servo do Pai e seguidor de sua vontade. Temos, assim, um eco bem expressivo do que escreveu São Paulo: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (Fl 2,5-8).


Nesse sentido, se há alguém que merece o nome de prelado seria Ele, porque o sentido primeiro de prelado indica o modo de ser daquele que se adianta, não para ser servido, mas para servir; daquele que desaparece a fim de que apareça a obra. Esse modo de ser faz jus ao sentido etimológico de prelado. Pois, em latim, “praelatus” significa, justamente, aquele que vai à frente (“prae”), a modo de pastor ou rei, sim, mas sempre deixando-se conduzir e orientar pela alma de seu rebanho, de seu povo, de sua gente, de sua pessoa amada, carregando (“latus”), do verbo latino fero, tuli, latus: (carregar) com ela o pesado fardo de suas reais necessidades.


Ora, o perigo para o qual a Admoestação está apontando, através do título, é de fazer justamente o contrário: em vez do brilho da obra querer e empenhar-se para que apareça o eu da nossa subjetividade.



2. NÃO VIM PARA SER SERVIDO, MAS PARA SERVIR, DIZ O SENHOR (1)


Não é de estranhar, portanto, que Francisco, mais uma vez, comece recordando seu e nosso Senhor; Aquele que, sendo Senhor, faz de sua prelatura um serviço aos homens todos, principalmente aos doentes, pobres e pecadores. Assim, Francisco faz-nos retornar às origens do próprio humano, criado por Deus para ser o “dominus”, isto é, o senhor de toda a criação. “Dominus” ou senhor, em seu significado original, limpidamente perceptível na missão que o próprio Criador entrega ao homem, no livro do Gênesis, tem, justamente, este significado rico, nobre e dignificante de estar a serviço da vida, cuidando de cada criatura. Para Francisco, não há prelatura maior, mais nobre e mais enriquecedora do que ser servo do mistério da vida, que nasce do Desejo, da Palavra amorosa, da fala do Pai, pulsante em cada uma e em todas as criaturas! Eis o modo de ser originário, próprio do homem, sua dignidade, grandeza e realização.


Ser servo, portanto, antes de prender-se a uma categoria social – escravo, súdito, empregado – diz respeito à postura básica – vocação-missão – de todos os homens, bem como de todas as criaturas. Por isso, proclamava com razão outro grande mestre: quem não vive para servir não serve para viver (Mahatma Gandhi). Não é à toa, também e então, que essa palavra não apenas perpasse todas as páginas da Sagrada Escrituram, mas também seja uma das mais usadas e seus principais personagens venham alcunhados com esse honroso título: servos de Jahvé. Ainda hoje, na Igreja conserva-se esse costume. Os Papas, por exemplo, intitulam-se a si e aos fiéis com essa significativa denominação: “Servo dos servos de Deus!”


Mas, quem, dentre todos, realizou em plenitude e máxima profundidade essa vocação a ponto de levá-la até o seu sumo foi Jesus Cristo, tão bem decantada nessa passagem do profeta Isaias: Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime. [...] Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca. Pela opressão e pelo juízo foi arrebatado; e quem dentre os da sua geração considerou que ele fora cortado da terra dos viventes, ferido por causa da transgressão do meu povo? E deram-lhe a sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte, embora nunca tivesse cometido injustiça, nem houvesse engano na sua boca. Todavia, foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se puser como oferta pelo pecado verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos (Is. 52,13 a 53,12).


Jesus Cristo servo é o exemplar número um, a “idéia”, o conceito, o arquétipo de todo humano, declarado, por diversas vezes, pelo próprio Pai como seu Filho primogênito, o sangue do seu sangue, a vida de sua vida, a paixão de sua paixão. É a Ele, pois, que precisamos ouvir, seguir e imitar se quisermos ser humanos perfeitos (Mc 1,11; 9,7). Por isso, para Francisco, ser seguidor de Cristo é fazer-se como Ele servo não apenas das pessoas, mas também de todas as criaturas.


1. SER SERVO, HOJE


São João Paulo II propôs à humanidade que inicie e promova uma nova Cultura: a Cultura do Amor. A Cultura do Amor, porém, só será possível se a ela se aliar outra: a Cultura do serviço, de ser servo. Uma cultura que leve o homem todo e todos os homens a retornar à sua vocação-missão originária, dada por Deus na Criação, recriada por Jesus Cristo e confiada aos seus seguidores; uma cultura na qual vai se aprendendo, aos poucos, a passar daquilo que eu quero para aquilo que Deus quer, para aquilo que o outro quer, para aquilo que a natureza, a história querem. Só assim surgirá uma Igreja serva, um humano servo! Só assim poderá surgir na Igreja e no mundo comunidades, povos e nações com uma evangelização, uma política, uma educação, uma economia, etc., servas e não colonizadoras, exploradoras e opressoras.

Falando da importância de uma política e de políticos que servem, diz o Papa Francisco:


Existem líderes populares, capazes de interpretar o sentir dum povo, a sua dinâmica cultural e as grandes tendências duma sociedade. O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento, que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum. Mas, degenera num populismo insano, quando se transforma na habilidade de alguém atrair consensos a fim de instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer sinal ideológico, ao serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas dalguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou subtis, o servilismo das instituições e da legalidade.


Por isso, o mesmo papa em sua primeira exortação apostólica fez esta oração:


Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. ... Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos.



Conclusão


Os ventos e as ondas das paixões humanas e do mundo – os ídolos do $, do poder, do domínio sobre os outros, da competição profissional e religiosa, do ritualismo vazio; a ansiedade pela fama e pelos aplausos do mundo etc. – sempre acompanham os homens e os discípulos de Jesus e, por vezes, suas ondas invadem violentamente não apenas as famílias, as comunidades, as salas paroquiais, os conventos e demais comunidades cristãs, mas também os salões do Vaticano. Por isso, vale a pena ouvir e fazer nossa esta oração do Diário de Marina, uma terciária franciscana, no dia de sua consagração ou Promessa:


Meu lema, já Te disse, é servir, servir e servir. Minha vida será metade serviço e metade oração (Livro de Marina, pág. 238).



Para pensar e compartilhar:


1. Qual a primeira vocação-missão do homem? Por quê?

2. Segundo o Papa Francisco, qual a maior carência, hoje, na política?



Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes




Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 55º Encontro - 4ª Admoestação - Ninguém se aproprie

da prelatura


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