3º Encontro (20/02/21) - São Francisco de Assis, um convertido por excelência - Começo e Princípio
- Frei
- 19 de fev. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 12 de mar. de 2021
1º Estágio: De sua conversão humana ou ética
Primeiro encontro de Francisco com o pobre
Introdução
Quando queremos imitar São Francisco, fazer dele nosso modelo ou exemplo de vida e reconstrução do humano dos humanos, da Igreja e da criação, devemos “começar pelo começo”. Do contrário, estaríamos colocando a carroça na frente dos bois, como se costuma dizer, popularmente. Por sua vez, todo começo deve levar em conta o princípio. Pois, toda vez que iniciamos uma obra ela nasce porque está relacionada com seu princípio. Na verdade, o começo e o princípio não são o mesmo. Se há um começo é porque ele está sob a vigência e a atuação do princípio. Assim, é o vigor da gratuidade do princípio, da origem que deixa e faz não apenas começar a obra, mas, também, regê-la e conduzi-la em todo seu percurso, do seu começo até seu fim, isto é, até à consumação, à plenitude.
Assim, o começo, o meio e o fim da história de São Francisco deixam entrever esta regência do princípio em seu resplendor e gratuidade. O princípio é algo extraordinário, misterioso e oculto. Mas, a quem lhe dá atenção e lhe serve terá a graça de percebê-lo, intui-lo e verá seu poder de realizar coisas maravilhosas (Cf. Nossa Senhora em seu Magnificat). Nestas nossas reflexões, portanto, de novo, a exemplo dela, estejamos atentos, não apenas ao começo, mas acima de tudo ao princípio da vida de São Francisco.
Ora, a primeira coisa que se vê em Francisco é que ele foi um convertido. Sim, um convertido por Jesus Cristo para observar, viver e anunciar seu Evangelho. Essa conversão, porém, não aconteceu de uma hora para outra e nem de uma vez por todas. Ou seja, como diz nosso atual Papa: Francisco era, acima de tudo, um místico (LS 10). Místico significa tocado, movido pelo mistério de Deus. Se Francisco não tivesse passado pela graça da conversão continuaria sendo tão somente um filho do comerciante Pedro Bernardone e de dona Pica. Não seria São Francisco de Assis e, como tantos outros assisienses do seu tempo, dele nada saberíamos.
1º Estágio: CONVERSÃO ÉTICO-HUMANA
Vamos falar hoje da primeira conversão ou do primeiro estágio da conversão de São Francisco, que poderíamos chamar de: “Conversão ética ou humana”.
Filho de um rico comerciante, Pedro Bernardone, Francisco herdou dos pais e de sua comunidade, virtudes e vícios. Apesar de generoso e cortês, era também bastante vaidoso e ganancioso. É dentro deste contexto que nasce sua primeira conversão, assim relatada:
Certo dia, porém, tomado pelas coisas do mundo, vendia panos na loja do pai. Veio, então, a ele um pobre, pedindo-lhe uma esmola pelo amor de Deus. Como estivesse tomado pela cupidez das riquezas e entretido nos cuidados do comércio, negou-lhe a esmola. Iluminado pela graça divina, porém, repreendeu-se da grande grosseria, dizendo: “Se aquele pobre te pedisse alguma coisa em nome de um grande conde ou barão, com certeza tu lhe darias o que foi pedido. Tanto mais devias tê-lo feito, pelo Rei dos reis e Senhor de todos”. Desde então e por causa disso, propôs-se em coração, jamais negar o que fosse pedido por amor de tão grande Senhor (LTC 3).
Que o vigor da gratuidade do princípio, do qual falávamos acima, está presente, no começo da história espiritual do Assisiense, vemos claramente nessa passagem. Isso porque o propósito cordial de Francisco, de jamais negar o que fosse pedido por amor de tão grande Senhor, foi suscitado graças a uma iluminação da graça divina. Francisco costumava ser cortês com todos. Mas, quando, em razão da ambição de comerciante, comportou-se de modo mesquinho, logo, pela memória do coração, se deixou conduzir ao Grande Senhor que, mais do que todos, é cortês, nobre, generoso com todos e com tudo, principalmente com os mais frágeis e pobres.
A verdadeira conversão começa, pois, com a graça do encontro com a inocência, representada, aqui, pelo pobre. O verdadeiro humano sempre experimenta um quê de vergonha, um sentimento de vileza, baixaria, quando ofende e menospreza o limpo, o puro, o inocente. Inocente, do latim “innocens”, significa, justamente, aquele ou aquilo que não prejudica, não faz mal. Quando, então, isso acontece, começa uma pequena ou grande virada. Assim, de desprezador torna-se benfeitor e admirador dos pequenos, humildes e pobres. Foi o que aconteceu com Francisco.
A partir de então, envergonhado e humilhado, Francisco promete a si mesmo, firmemente e por duas vezes, mudar: não irá mais deixar soltas as forças de sua natureza; não irá mais seguir os gostos, as simpatias, os desejos de seu instinto, nem seguirá o modo habitual de viver do “mundo”. Em vez disso, começa a assumir e a colocar todas essas suas forças naturais dentro de um propósito ou projeto de vida. A partir daquela experiência, que o envergonhara tanto, começa a não negar mais nada a quem viesse pedir-lhe uma esmola pelo amor de Deus (LTC 3,7-10).
Se, até então, Francisco vivera fechado e atrelado ao seu querer, saber, poder e fazer, agora, movido pelo vigor da graça daquele princípio, começa a viver aberto e atento às necessidades dos outros, principalmente dos pobres e sofridos. De alienado torna-se um grande benfeitor dos pobres e mendigos.
CONVERSÃO ÉTICA OU HUMANA, HOJE
Se quisermos reconstruir nosso humano, nossa Humanidade, nossa Igreja, precisamos, primeiramente, reconstruir nosso coração: fazer que passe da dureza da ganância para a docilidade do desprendimento, da prepotente soberba para a humilde e alegre solidariedade da amizade social. Enfim, que sejamos fratelli tutti, como pede nosso Papa, repetindo São Francisco. Enfim, que sejamos humanos! Que sejamos nobres, corteses, respeitosos, sobretudo para com os mais frágeis, os menores, os últimos dos homens.
Quem é verdadeiramente humano não se põe acima dos outros, não prejudica, não mente, não corrompe nem se deixa corromper. Torna-se uma pessoa simples, alegre, sensível e solidária com todos. Um homem ou humano no verdadeiro sentido da palavra! E este é, certamente o primeiro e mais fundamental desafio do homem de hoje. O Francisco, que ignorou o pobre, porque estava tomado pelo poder da ganância e do lucro, atravessa os séculos, está presente em todos os nossos meios sociais, desde a família, desde as pequenas sociedades ou comunidades da Igreja e até nas grandes potências mundiais. Mas, como ele, também nós podemos começar não apenas a sentir vergonha de tal grosseria e a determinar-nos a mudar de atitudes, mas também a perceber, acolher e seguir o princípio desta graça.
Conclusão
O Papa Francisco, depois de recordar, com profunda dor, o que certos homens e povos, principalmente através do Nazismo, Capitalismo e do Comunismo, aprontaram e aprontam contra seus semelhantes, matando milhões de pessoas com as bombas atômicas e as câmeras de gás, diz: Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma (LS 105). E conclui:
A verdade é que «o homem moderno não foi educado para o reto uso do poder», porque o imenso crescimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento do ser humano quanto à responsabilidade, aos valores, à consciência (Idem 106).
O pobre que outrora entrou na loja de Francisco e, com o vigor de sua inocência, mexeu com a vida dele, hoje é a pandemia que grassa em toda a parte. Por isso diz, ainda, nosso Papa: Não podemos sair dela como entramos. Temos que sair melhores.

Fachada atual da casa onde São Francisco nasceu
e teve o primeiro encontro com o pobre.
Para pensar, conversar e comentar:
1. A conversão humana de Francisco se dá mediante um começo e um princípio. O que são, qual a diferença e o papel de cada um neste processo?
2. O que você teria a comentar dessas reflexões e da fala do Papa?
3. Tem exemplos de atitudes humanas e desumanas? As pessoas verdadeiramente humanas carregariam armas, fariam guerras, abortos, acumulariam terras e bens desnecessários, deixando na miséria e na fome milhares e milhares de seus semelhantes? Sim? Não? Por quê?
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Próximo Encontro: Excelência, exemplo e vida ética: o que a história da conversão de São Francisco nos ensina?
A diferença entre o princípio e começo e que o primeiro e uma graça de iluminação que dá origem al proceso de conversão e o começo e o início de esa história espiritual.
Das palavras do Papa Francisco concordo que depois de esta pandemia deveríamos sair melhores, convertirnos de uma sociedade consumista a uma sociedade mais fraterna, mais de irmaos( fratelli tutti) mais austera, mais solidária.
Luz para viver no espírito de São Francisco, no seguimento de Jesus Cristo
A diferença entre COMEÇO e PRINCIPIO - Penso que o Principio é anterior ao começo .O Principio seria aquele algo misterioso e oculto , extraordinário que pode nos fazer perceber, quando atentos ao nosso interior .
O QUE DIZER DA REFLEXÃO DO PAPA;
Concordo. Com o crescimento da tecnologia o Humano não cresceu para uma reta consciência e responsabilidade diante do bem e do mal. As crianças , os jovens e os adultos não tem mais tempo para ter contato sadio com as plantas, os animais, as pessoas . Não tem mais tempo para parar simplesmente, para pensar, escutar o intimo mais intimo. Os pais não consegue passar os verdadeiros valores para seus filhos. Eles aprendem outras coisas .As nove…