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39º Encontro (30/10/21) - Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado?

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 30 de out. de 2021
  • 6 min de leitura

Do corpo do Senhor

ou

Como Deus revela a loucura de sua Paixão por nós



7ª. Parte


Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado?



Introdução


Com esta reflexão, chegamos, hoje, ao último parágrafo da 1ª Admoestação de São Francisco: Do Corpo do Senhor. Vejamos, primeiramente, o texto:


E assim: “Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado?” Por que não reconheceis a verdade e não “credes no Filho de Deus”? Eis que todos os dias, Ele se humilha, assim como quando desceu “do trono real” para o útero da Virgem; cada dia, vem a nós, sob a aparência humilde; cada dia desce do “seio do Pai” sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como se mostrou aos Santos Apóstolos em verdadeira carne, assim, de igual modo, se mostra a nós no pão sagrado. E assim, vendo a sua carne, eles viam apenas a carne d’Ele, mas contemplando-O com os olhos espirituais, criam ser Ele o próprio Deus; assim também nós, vendo o pão e o vinho com os olhos corporais, vejamos e creiamos firmemente ser d’Ele o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro. E desse modo, o Senhor está sempre com seus fiéis, como Ele mesmo diz: “Eis que estou convosco até a consumação do século” (Ad 1,14-22).


O parágrafo começa com um assim. Assim, soa como: consequentemente ou dessa forma, desse jeito. Francisco, acabara de mostrar como e quanto Deus se aniquila a ponto de caber num pedacinho de pão e de vinho. Tudo isso só para que assim Ele pudesse estar conosco e nós, seus filhos muito amados, com Ele, na intimidade de sua presença. Essa intimidade é tão forte e profunda que Ele se dá todo, a ponto de nós podermos recebê-Lo e comê-lo, sem nenhum receio ou constrangimento. Então é que Francisco, movido e comovido por esse inaudito mistério, faz sua grande exortação: Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado? (Sl 4,3a). A frase é do salmista, que lamenta o fato de os israelitas, em vez de seguir Jahvé, alimentando-se da Palavra de sua Aliança, preferem nutrir-se com o nada e com a ilusão dos ídolos (Sl 4,3b).



1. De filhos de Adão para filhos de Deus


Poderíamos começar perguntando por que Francisco, aqui, em vez de “irmãos”, chama seus companheiros de filhos dos homens? Talvez, possamos dizer que, depois de mostrar tudo quanto o Pai vem fazendo para estar conosco e fazer-nos seus filhos muito amados, Francisco percebe que nós, a exemplo dos discípulos de outrora, custamos ver, entender e acolher essa graça. Em vez de filhos dos homens poderia ser traduzido, também, como filhos de Adão. Ou seja, Francisco está proclamando que chegou a hora de libertar-nos de vez da grande mentira, a maior, única e primeira de todas: que o homem é filho do homem e não, primeiramente, filho de Deus que é seu Pai. A frase soa, então, como grito angustiado e ansioso de um filho mais velho aos seus irmãos mais novos: “Deixem de ser filhos de si mesmos! Acordem para vossa grandeza e dignidade de filhos do nosso grande Pai do céu, o ‘Pai Nosso!'"


É essa mentira que torna o coração pesado. Pesado por que, a exemplo do filho mais velho da parábola evangélica, nós também preferimos considerar-nos e conduzir-nos meramente como empregados, mesmo eficientes, cumpridores, ainda que fiéis, de nossas obrigações caseiras, cheios de direitos e merecimentos, esquecendo nossa dignidade maior e originária: o júbilo da graça de nossa filiação divina. Deus quer que sejamos seus filhos, morando em sua casa, e nós teimamos, a exemplo do filho mais velho da parábola de Jesus, em seus empregados, funcionários e mercadores, morando apenas no mesquinho e miserável galpão de nosso egocentrismo. Por isso, o grito de Francisco: Ó filhos dos homens! Acordem! Até quando tereis o coração pesado!?



2. Vejamos e creiamos


Mas, então, o que fazer para deixar de ser filhos dos homens e poder entrar na casa do Pai e assim tornar-nos seus filhos muito queridos e, desse modo, poder sentar, participar e comungar da mesa, da ceia de seu amor? Responde Francisco: reconhecer a verdade e crer no Filho de Deus acolhendo-o em seu caminho de humildade, pobreza e abaixamento (vs. 15).


Reconhecer e crer são palavras muito preciosas na vida do amor, na vida religiosa. Sem sua dinâmica não existe amizade, família e muito menos Vida cristã. Reconhecer expressa o trabalho sereno, mas contínuo, de quem procura olhar, ver, descobrir e compreender sempre mais, melhor e de novo, a graça de ser escolhido e amado por tão grande Senhor; um Senhor que, assim como quando desceu “do trono real” para o útero da Virgem, cada dia, vem a nós, sob a aparência humilde; cada dia desce do “seio do Pai” sobre o altar, nas mãos do sacerdote. Nesse sentido, mais que informações ou saberes, reconhecer indica a busca de identificação com a pessoa amada e, acima de tudo, a disposição de servi-la com toda gratidão e diligência.


É nessa mesma dinâmica que devemos entender a exortação de Francisco para que também creiamos no Filho de Deus (vs. 22). Crer, antes de crença, é alegria, vigor, entusiasmo que nasce e floresce da experiência de ser visto, aceito e amado; é aceitar que se é acolhido, mesmo sendo rejeitável. Nesse sentido, crer sempre se constitui e se transforma em novo nascimento. E, quando na origem dessa experiência está o Filho de Deus, que se humilha e se apequena, fazendo-se “Filho do Homem”, tão somente para que nós O pudéssemos receber, é evidente que sua filiação ou condição divina também passa para aquele que O acolhe, para aquele que a Ele se entrega e confia. Nesse caso, fé passa a ser a seiva que nos faz crescer para dentro da pessoa que nos ama. Assim, crer em Jesus Cristo significa crescer no Filho amado de Deus Pai que nos faz também a nós filhos amados de seu Pai.


Francisco termina exortando-nos para que vendo o pão e o vinho com os olhos corporais, vejamos e creiamos firmemente ser d’Ele o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro (vs. 21)


Além de reconhecer e crer, também ver e contemplar são verbos que dinamizam tanto o nascimento como o crescimento do discípulo no seguimento e na imitação do seu Mestre. Podemos dizer que assim como o alimento do corpo segue o caminho da boca, o alimento do espírito, ao contrário, chega ao nosso interior pela porta dos olhos e pela contemplação. Nosso espírito, nossa alma são aquilo que nossos olhos veem e contemplam. Na verdade, os olhos são o brilho, a luz da alma. Refletem aquilo ou aquele que mais buscamos e amamos. No caso, o Filho de Deus vivo que, através do seu Corpo que comemos, nos dá a graça de sempre de novo tornarmo-nos, também nós, filhos do Deus vivo.



Coração pesado, hoje


Quem nos exorta a um coração atento, alegre, reconhecido e agradecido para com a Eucaristia, como cume para o qual deve tender toda a vida e toda a ação da Igreja e ao mesmo tempo como a fonte de onde emana toda a sua força (Cf. SC 10), é nosso Papa Francisco. Diz ele na Laudato Si:


A criação encontra sua maior elevação na Eucaristia. A graça, que tende a manifestar-se de modo sensível, atinge uma expressão maravilhosa quando o próprio Deus, feito homem, chega ao ponto de fazer-Se comer pela sua criatura. No apogeu do mistério da Encarnação, o Senhor quer chegar ao nosso íntimo através dum pedaço de matéria. Não o faz de cima, mas de dentro, para podermos encontrá-Lo em nosso próprio mundo. Na Eucaristia, já está realizada a plenitude, sendo o centro vital do universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim. Unido ao Filho encarnado, presente na Eucaristia, todo o cosmos dá graças a Deus. Com efeito a Eucaristia é, por si mesma, um ato de amor cósmico. «Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo». A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo, saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico, « a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador». Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira (LS 236).



Para pensar, conversar e comentar:


1. Qual a lamentação de Francisco acerca da atitude dos frades em relação ao sacramento do Corpo do Senhor? Donde nascia sua exortação?

2. Como a Igreja, hoje, principalmente através do Papa Francisco, vê e celebra o mistério do Corpo do Senhor?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM, e Marcos Aurélio Fernandes



Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 39º Encontro - Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado?


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Próximo Encontro: 40º Encontro - 8ª parte - Ver com o coração leve


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