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29º Encontro (21/08/21) - Primeira Carta aos Fiéis, Vida e Regra dos Franciscanos Seculares e dos...

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 21 de ago. de 2021
  • 7 min de leitura


Primeira Carta aos Fiéis, Vida e Regra dos Franciscanos Seculares

e dos Irmãos e das Irmãs da Terceira Ordem Regular




A Regra não Bulada, por ser o documento que nasceu mais intimamente ligado à inspiração originária de São Francisco, é, dentre todos, juntamente com o Testamento, o escrito que mais fielmente guarda e nos comunica o carisma fundacional franciscano. Por essa razão, também, ela serviu de inspiração para que Francisco redigisse outras Regras, entre as quais a “Primeira Carta aos Fiéis”, também conhecida como “Exortação aos Irmãos e Irmãs da Penitência”.


Trata-se de um texto que Francisco escreveu em 1221, como resposta a muitos seculares leigos que queriam segui-lo, vivendo a mesma vida dele e de seus Irmãos, mas no mundo e com o mundo, principalmente com suas famílias. Por isso, neste ano de 2021, além do jubileu da Regra Não Bulada, estamos celebrando, também, o jubileu dos 800 anos desta Carta que serviu como embrião da Regra para os então denominados Irmãos e Irmãs da Penitência ou, simplesmente, os Terciários de São Francisco, hoje denominados Ordem Franciscana Secular (OFS). A mesma Carta, posteriormente, e no decorrer dos séculos, serviu, também, de princípio para a Regra de muitas Congregações religiosas franciscanas, denominadas, hoje de “Irmãos e Irmãs da Terceira Ordem Regular de São Francisco” (TOR).


Hoje, depois de alguns séculos de esquecimento, as novas redações, tanto da Regra da Ordem Franciscana Secular (ROFS), como da Regra da Terceira Ordem Regular de São Francisco (RTOR), reintroduziram, como seu Prólogo, princípio e coração, o texto dessa Carta. A OFS na sua íntegra e a TOR a primeira parte.


Dividida em duas partes, (Dos que fazem penitência e Dos que não fazem penitência), essa Forma de Vida resgata o sentido original e inédito da Penitência evangélica: Amar o Senhor de todo coração, de toda alma e de toda a mente, com todas as suas forças e amar o próximo como a si mesmo e odiar o próprio corpo com seus vícios e pecados e receber o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo (1CF 1). Não poderia haver descrição mais originária de penitência evangélica do que essa! Quem de nós, ou qual o teólogo, hoje, imaginaria ser essa a penitência do seguidor de Cristo, a penitência genuinamente cristã!?


Estamos diante de algo inédito para os últimos séculos, mas não para a Igreja primitiva, muito menos para o Evangelho. Tanto naqueles como nesses a exortação para poder acolher a Boa Nova do Reino de Deus é sempre a mesma: “Convertei-vos e crede no Evangelho!”


Mas, quando Jesus ou os Apóstolos fazem essa exortação não estão pensando apenas numa penitência ou conversão meramente ética ou religiosa, tipo cidadão correto, exemplar, ou bom fariseu, fiel cumpridor da lei, etc; uma conversão nascida a partir do próprio homem, com sua vontade de ser bom, justo e santo. Na conversão evangélica o centro, o coração que move o penitente, é sempre o Amor Daquele que nos ama por primeiro. Por isso, se na penitência ética ou religiosa busca-se o engrandecimento de si, aqui, é o engrandecimento da pessoa amada, como o expressou muito bem São João Batista: É preciso que ele cresça e eu diminua. É ela, no caso, Jesus Cristo, a origem da nossa conversão.


Nesse sentido, penitência, aqui, nada tem de sacrificação pesada, dura e que, se fosse possível seguir o Senhor, ser cristão, sem ela a dispensaria. Tem tudo a ver, sim, com o vigor do entusiasmo de ter sido escolhido para seguir, amar, servir tão grande Senhor. Nesse sentido, a penitência evangélica, em vez de sacrificação, é movida pelo sacrifício, isto é, pela alegria, pelo júbilo de poder dedicar e doar sua vida ao Senhor, como Ele dedicou e deu sua vida ao Pai por nós. É como mãe que, ao gerar o filho, está tão tomada pela alegria da maternidade que, para ela, os sacrifícios são graças, bênçãos, alegria.


Como é essa dedicação, essa doação, coração da penitência evangélica? É como o grande mandamento do Amor, assim expresso por Jesus na Última Ceia: Dou-vos um novo mandato: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei... (Jo 13,34).


Novo, aqui, nada tem a ver com renovado ou recauchutado, mas com o originário. Trata-se de algo inaudito, nunca visto e completamente fora de nossa imaginação ou alcance. E mandato, por sua vez, mais que uma simples ordem de um chefe ou superior, é uma eleição especial com caráter de consagração, unção, glorificação, missão.


Assim, como os Apóstolos foram ungidos, também os seguidores de Francisco, agora, assumindo e seguindo essa Regra, tornam-se, verdadeiramente, no mundo, a presença do Senhor que ama a todos num amor radical, que vai até a morte e morte de Cruz. Como é esse Amor, vai aparecer na frase que segue: Amar o Senhor de todo o coração, de toda a alma e de toda a mente, com todas as suas forças.


Sendo o Amor de Deus, ou o Amor que é Deus, o princípio da Vida e da Regra franciscana é indispensável que, antes e acima de tudo, se procure compreender bem a dinâmica e o modo de ser desse Amor. Não se trata do amor gosto, do amor satisfação nem mesmo do amor que promove o outro. Tudo isso, pode estar presente, mas o amor do primeiro e único mandamento de Deus pertence a outro quilate: a doação total, inteira de si mesmo como Cristo fez em toda a sua vida, principalmente na Cruz e hoje na Eucaristia.


Por isso, Francisco, em vez de amor ou de amar, fala em dileção, diligere, verbo latino que significa amar com diligência, cuidado, atenção e doação total; um amor que é sem fim e sem limites, sem nenhuma discriminação ou interesse particular, coisa que só Deus é capaz de fazer. Eis a grandeza e profundidade desse Mandamento, proposto por Francisco como Regra ou Forma de Vida para seus Irmãos e Irmãs da Penitência. Por isso, ele inclui não apenas o amor a Deus, mas, também, o próximo e a si mesmo. Ao dizer próximo Jesus não determina, como os judeus faziam, justamente para dizer que se trata de toda a e qualquer pessoa que estiver à minha frente, amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, santo ou pecador.


Amar a mim mesmo, por sua vez, significa, acima de tudo, acolher com alegria e gratidão a vida que Deus me dá, com todas as suas circunstâncias, limitações, defeitos, dons e talentos, aproveitando tudo para devolver a Deus aquele homem novo, bom e perfeito que Ele criou e que Cristo veio recriar.


Como pano de fundo desse mandato, gravado aqui, por Francisco, como o princípio originário, a fonte de nossa Vida e nossa Regra, está o modo de amar das Três Pessoas divinas, a Santíssima Trindade. Um amor que não apenas jamais se cansa de cuidar e perdoar, mas que tem neste gesto seu prazer, sua honra e glória a ponto de entregar seu Filho muito amado para a salvação dos homens até a morte e morte de Cruz. Eis o princípio dos princípios, o resumo dos resumos, a essência das essências de toda a nossa Vida e de toda a nossa Regra. Eis a seiva, o espírito que deve animar e perpassar tudo o que fazemos ou deixamos de fazer no dia-a-dia de nossa vida.



Amar, a Penitência Evangélica, Vida e Regra, hoje


Mas, por que o amor é tão importante a ponto de Jesus proclamá-lo como o primeiro de todos os mandamentos e São Francisco propô-lo como Vida e Regra para seus seguidores seculares e regulares?


A razão é muito simples: porque Deus, o princípio, a origem, a fonte de tudo e de todos é assim: Amor-Doação. Por isso, também, suas criaturas carregam como sua marca mais profunda a de serem sacramentais ou “amores” do Amor e, por conseguinte, como tais, com a necessidade interior de amar ou servir como Ele ama e serve. Nesse sentido, todas as criaturas amam porque servem e servem porque amam. Serve o sol, servem as estrelas, a água, o grão de areia, a vida e a morte.


Por isso, não pode ninguém, jamais, viver numa atitude de indiferença, alheio às demais criaturas, tanto humanas como cósmicas. Daí essa magnífica conclusão do Papa Francisco:


Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos (EG 183).


E, para consolidar sua exortação, o Papa faz questão de evocar dois significativos exemplos:


Quem ousaria encerrar num templo e silenciar a mensagem de São Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá? Eles não o poderiam aceitar. Uma fé autêntica - que nunca é cômoda nem individualista - comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela (idem).


Leiamos, também, essa sua admirável conclusão:


Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com todos os seus dramas e cansaços, com os seus anseios e esperanças, com os seus valores e fragilidades. A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos... Todos os cristãos, incluindo os pastores, são chamados e preocupar-se com a construção de um mundo melhor (EG 183).


Finalmente, a atualidade dessa Forma de Vida, que tanto moveu aqueles franciscanos e franciscanas, no século XIII, aparece neste testemunho de uma franciscana secular, Marina (+1991): Não tenho culpa por ter-me apaixonado por Ele. Deus me amou por primeiro. Foi Ele quem despertou em mim a paixão e me seduziu. E eu deixei-me seduzir. E gosto de continuar seduzida por Ele (O Livro de Marina, Adelino Pilonetto, pág. 65).



Para pensar conversar e comentar:


1. Em que consiste a novidade da Primeira Carta aos Fiéis, escrita por São Francisco como Regra ou Forma de Vida para os franciscanos seculares e regulares?

2. Como se pode ver a atualidade e a importância dessa Forma de Vida para a Igreja e para o mundo de hoje?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM, e Marcos Aurélio Fernandes.



Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 29º Encontro - Primeira Carta aos Fiéis, Vida e Regra dos Franciscanos Seculares e dos Irmãos e das Irmãs da Terceira Ordem Regular


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- ouvindo no YouTube: Frei Dorvalino - 29º Encontro - Primeira Carta aos Fiéis, Vida e Regra dos Franciscanos Seculares e dos Irmãos

e das Irmãs da Terceira Ordem Regular


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