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25º Encontro (24/07/21) - Leitura Espiritual Franciscana - 1ª parte

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 23 de jul. de 2021
  • 7 min de leitura


Leitura Espiritual Franciscana

1ª Parte

Caminho de Formação e de Vida



Introdução


Como vimos, nos últimos Encontros, os Escritos de São Francisco, e demais textos das Fontes Franciscanas, brotaram da inspiração que germinou no coração e na mente de São Francisco, mediante a graça do encontro com Jesus Cristo crucificado e com o Evangelho do envio dos Apóstolos. Mas, são, também, fruto de um estudo apaixonado, de um empenho diligente de São Francisco a fim de bem compreendê-la, amá-la e segui-la, com as devidas repercussões e consequências no cotidiano de sua vida. Trata-se, pois, de um trabalho de colheita, leitura e corresponsabilidade existencial. Desse empenho nasceu o conhecido exercício denominado Leitura Espiritual Franciscana, tema deste nosso Encontro de hoje.


No título, dissemos que a Leitura Espiritual é um caminho. Isso significa que ela tem o modo de ser de quem caminha, viaja, procura, investiga! Não de quem passeia, faz turismo ou busque apenas satisfazer sua subjetividade. Assim, quem lê deve pôr-se à disposição do texto como o caminheiro deve pôr-se à disposição do caminho. Só então poderá colher dele as surpresas que o espírito lhe oferece e aprender a confrontar-se com elas.


Temos, assim, a primeira regra da Leitura Espiritual. Primeira como básica, fundamental, originária. Se é verdade que o caminheiro faz o caminho, também é verdade que o caminho faz o caminheiro. Ou seja, o caminheiro, para que se torne bom, deve andar de acordo com o caminho e não de acordo com seus caprichos ou interesses particulares, subjetivos. Isso significa que, na Leitura Espiritual Franciscana, o leitor deve dar os passos sobre um caminho que já existe: o caminho evangélico-franciscano. Daí o título: Leitura Espiritual, Caminho de Formação e de Vida. Por isso, a preocupação maior do leitor, deverá ser a de jamais desviar-se dele.

Isso significa, portanto, que o leitor, a modo de quem caminha ou viaja, deve pôr-se à disposição do texto para colher dele as surpresas, as encruzilhadas, os questionamentos, as contradições que o espírito evangélico lhe oferece. Consequentemente, em lendo suas páginas ou frases no vigor desse espírito, pura e simplesmente, estará se fazendo, se convertendo, se transformando em São Francisco, ou melhor, no mistério que ele recebeu, acolheu e cultivou: Jesus Cristo crucificado. Consequentemente, estará realizando a mais simples, verdadeira e originária Formação Franciscana. Nesse sentido Leitura Espiritual Franciscana é a mais expressiva e originária forma de seguimento de Francisco. Quem lê São Francisco, segue-o; quem não o lê não o segue, pelo menos não na sua originalidade.



1. Leitura espiritual franciscana


Portanto, pelo fato de a Leitura Espiritual Franciscana ter uma origem toda própria, chamada Espírito, não pode processar-se por outro caminho senão o do espirito franciscano. É o que nos diz um grande mestre: ninguém é capaz de compreender ou de ensinar o que São Paulo escreve, se não tiver do espírito em que São Paulo falou e escreveu.


Mas, então, alguém poderia perguntar: o que é que faço para ter do espirito de São Francisco, a fim de poder ler seus Escritos? Ora, se você faz essa pergunta com sinceridade, é porque já tem algo de seu espírito, já é, de certa forma, franciscano/a, admirador/a ou devoto/a dele. O que se faz necessário, então, é mergulhar cada vez mais para dentro dessa água cristalina para que ela purifique seu pensar e viver, tornando-os, assim, cada vez mais semelhantes ao espírito de Francisco.


São Francisco fala do desafio desse caminho numa de suas Admoestações:


Diz o Apóstolo: A letra mata, mas o espírito vivifica. São mortos pela letra os que cobiçam saber só as palavras, a fim de serem tidos mais sábios entre os outros e poderem adquirir grandes riquezas, para dá-las aos parentes e amigos. E são mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito da letra divina, mas só cobiçam saber mais palavras e interpretá-las para os outros.


Mas, são vivificados pelo espírito da letra divina os que não atribuem a si toda a letra que sabem e cobiçam saber. Mas, pela palavra e pelo exemplo, devolvem-na ao altíssimo Senhor Deus, de quem é todo o bem.


Segundo essa admoestação, a primeira coisa que a Leitura Espiritual exige é que nos despojemos do nosso próprio espirito, tomado pelos nossos interesses particulares, nascidos do nosso próprio eu, por mais nobres e importantes que pareçam ou sejam. Pois, para usar um exemplo do Evangelho: só poderá receber vinho novo o odre novo, isto é, um odre que se renova, mediante um esvaziamento radical do vinho azedo e de todas as suas borras. O mesmo vale para a Leitura Espiritual: ela só pode dar-se num coração que se esvazia e se purifica. Caminho da Pobreza, da Cruz!


A admoestação de Francisco faz sentido, portanto, porque sempre estamos correndo risco de não seguir o espírito da letra divina, mas tão somente a letra, a nós mesmos, nossos interesses e preferências com nossos (pre)conceitos e saberes. Esse “a nós” pode ser um indivíduo ou um grupo, como, por exemplo, uma Fraternidade e, até mesmo, uma Ordem e Congregação toda. Era o que faziam os fariseus de ontem e de hoje. Tanto eles como nós, corremos o risco de ficar olhando apenas a letra, a estrutura, a organização, os esquemas sociais e mentais, a beleza literária do texto ou as ocorrências circunstanciais e suas contradições, etc. e não o espírito que os move. Nesse caso, como franciscanos, estamos mortos. Por isso, isto é, para não cairmos nesse perigo, vem, como chave de ouro, a exortação final de Francisco: sempre, tudo o que colhemos na Leitura, deve ser devolvido, pela palavra e pelo exemplo, ao altíssimo Senhor Deus, de quem é todo o bem. Como no amor, o cristão e o franciscano têm no engrandecimento, na glória do outro, sua maior alegria e realização.



2. Leitura espiritual, hoje


Por tudo isso, não basta ler um texto espiritual, em sua materialidade, para que se esteja no vigor da leitura espiritual. Isso, porque essa se caracteriza mais pelo modo do que pela matéria, isto é, mais pelo vigor da alma de quem escreveu e de quem lê do que pelo texto em sua forma material ou física. Assim, a desconformidade do espírito do leitor com o espírito dos textos sagrados é o maior desafio da Leitura Espiritual. Por isso, atos ou exercícios nascidos do vigor do espírito, como, por exemplo, rezar, celebrar a Missa, fazer caridades, etc., correm o risco de se tornarem carnais, materialistas porque tomados e dominados pelo poder da subjetividade, do egocentrismo. Exemplo clássico dessa discordância ou decadência são os fariseus. Eles jejuavam e rezavam, pagavam o dízimo apenas para levar alguma vantagem, como, aplausos, lucros e até mesmo para obter a salvação de Deus. Ao contrário, pode-se transformar atos usualmente tidos como materiais em atos espirituais. Assim, por exemplo, alguém pode ser espiritual quando, mesmo doente de estômago, come, com alegria e gratidão, uma feijoada, só para agradar o amigo que lha preparou e ofereceu. Nesse caso, comer não está mais no vigor do material ou carnal, mas do espirito, do amor. Será um ato espiritual!


Sendo essa a natureza da Leitura espiritual, deve-se concluir que sua eficácia não depende da inteligência ou da moralidade do leitor. Olhemos esse exemplo. Se alguém, diária e continuamente, mesmo de má vontade, se expuser ao sol, certamente virá a se aquecer e a se iluminar com o calor e a luz de seus raios. E, para que isso aconteça não precisa tornar-se um cientista, saber o que vem a ser o sol, conhecer sua história, natureza e propriedades. O mesmo acontecerá com o seguidor de Francisco se ele se colocar à disposição do calor de seu carisma e da luz dos raios de seu espírito, guardados em seus Escritos e nas Fontes Franciscanas. Com o tempo, também nele irá florescer, como outrora em Francisco, aquela Forma de vida evangélica que o transformou de filho de Pedro de Bernardone em filho do Pai nosso que está no céu.


Usualmente, os textos das Fontes Franciscanas vêm acompanhados de informações de cunho científico, historiográfico, etc. Porém, por nasceram da graça da fé, do amor, do Espírito, na sua leitura, mais que a ciência ou a história, o que mais importa é a boa vontade, a fé, o amor, o bem querer pelo texto mesmo. Isso porque, enquanto, nas coisas meramente humanas ou materiais importa primeiro conhecê-las para amá-las, nas realidades do espírito o princípio é o inverso: primeiro importa que se as ame. Em amando-as, vai-se conhecendo.


Conclusão


Quem nos dá uma bela e magistral apresentação do que seja Leitura Espiritual é o Papa Bento XVI. Ouçamos:


Assim, o Povo de Deus precede os teólogos, e tudo isso graças àquele sobrenatural “sensus fidei”, ou seja, àquela capacidade infundida pelo Espírito Santo, que habilita a abraçar a realidade da fé, com humildade de coração e mente. Nesse sentido, o Povo de Deus é "magistério que precede", e que, então, deve ser aprofundado e intelectualmente acolhido pela teologia. Possamos sempre os teólogos colocar-nos em atitude de acolhida dessa fonte de fé e conservar a humildade e simplicidade dos pequenos! Já o recordei há alguns meses atrás, dizendo: "Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura, […] mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo. […] O essencial permaneceu escondido! […] Em contrapartida, no nosso tempo existem também os pequeninos que conheceram este mistério. Pensemos em Santa Bernadete Soubirous; em Santa Teresa de Lisieux, com a sua nova leitura da Bíblia 'não científica', mas que entra no coração da Sagrada Escritura" (Homilia. Missa com os membros da Comissão Teológica Internacional, 1 de dezembro de 2009).


Dentro dessa mesma forma, dizia São Boaventura: uma simples velhinha poderá amar a Deus mais do que um professor de teologia!



Para pensar, conversar e comentar:


1. Como se caracteriza, essencialmente, o caminho da Leitura Espiritual Franciscana?

2. Qual seu papel no processo de nossa conversão e formação permanente?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes.




Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 25º Encontro - Leitura Espiritual Franciscana

1ª Parte: Caminho de Formação e de Vida


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- ouvindo no YouTube: Frei Dorvalino - 25º Encontro - Leitura Espiritual Franciscana

1ª Parte: Caminho de Formação e de Vida



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