1º Encontro - São Francisco de Assis, um exemplo por excelência

Introdução

Buscar o espírito originário que moveu São Francisco, a partir de seus Escritos e de outros textos das demais Fontes Franciscanas (FF) é, certamente, uma das maiores aspirações de um seguidor desse Santo. Essa aspiração se torna ainda mais premente com esta calorosa e paternal exortação do nosso Papa Francisco:

Não quero prosseguir esta encíclica, sem invocar um modelo belo e motivador. Tomei seu nome por guia e inspiração, no momento da minha eleição para Bispo de Roma. Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado pela sua alegria, pela sua dedicação generosa e pelo seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo (LS 10).

Antes de começar com os temas propriamente ditos deste Blog, neste primeiro Encontro, gostaríamos de tecer dois breves comentários acerca desta exortação do nosso Papa.

1. O nome Francisco e seu significado

Hoje, o nome Francisco nos remete não tanto a um indivíduo, o filho de Pedro Bernardone, mas ao Francisco, filho do Pai do Céu, que começou a nascer nele a partir do seu encontro com Jesus Cristo Crucificado. O começo desta admirável troca de identidade, que então começou a processar-se em Francisco, brilhou de modo admirável e provocante em seu desnudamento, diante do Bispo de Assis e de toda a multidão. Foi lá que ele exclamou bem alto: “Entendam todos que, a partir de hoje, não direi mais pai Pedro Bernardone, mas Pai Nosso que estás nos céus!” (LTC 20).

Desde então, aproximar-se e identificar-se com Jesus Cristo, pobre e crucificado, passou a ser sua paixão, sua ardorosa busca, que culminou com a graça do recebimento dos sagrados estigmas, no Monte Alverne. Por isso, o Papa Gregório IX, em sua Homilia, na Missa de exéquias do Santo, escolheu como tema esta significativa frase: Como a estrela matutina em meio às nuvens e como o sol reluzente em seus dias, assim fulgiu na casa do Senhor (Eclo 50,6-7).

Mestre Eckhart faz e seguinte reflexão acerca do simbolismo dessa estrela. Mais que todas, diz ele, essa estrela está sempre próxima do sol; nunca está mais distante ou mais próxima do sol, nem mais nem menos. Ora, assim foi com Francisco! Sempre viveu próximo do grande e único Sol de nossa vida: Jesus Cristo crucificado. Ele foi o que seu próprio nome diz: “Francisco”, um homem “franco”. Pois, o nome “Francisco” vem de França > francês > franco, isto é, franqueado, desimpedido, desprendido, livre para amar e seguir seu único e grande amor: a Altíssima Pobreza, ou melhor, a Senhora Pobreza que forma uma só coisa com Jesus Cristo, pobre, humilde, crucificado. Toda a sua liberdade, testada em muitas batalhas carnais e espirituais, cheias de revezes e vitórias, se consumou em desvencilhar-se do mundo, de seus senhores e ídolos, para estar tão só e unicamente vinculado, preso a seu único Senhor: Jesus Cristo e sua missão evangélica.

2. Um exemplo por excelência

É assim, ou desta forma, isto é, a partir desse princípio que Francisco se faz exemplo para todos os homens. Pois, Cristo, o Homem perfeito, o Homem de todos os homens, o Senhor de todos os senhores, o único Homem confiável, era o Sol que iluminava e acalentava Francisco na busca de seu novo humano; o humano que se estende a todos os homens e, até mesmo, às mais ínfimas criaturas. Por isso, as acolhia, todas, sem discriminação, com a carinhosa distinção e afetuoso trato de “irmãos” e de “irmãs”: “Fratelli tutti!”.

Por isso, mais recentemente, assim se expressou o nosso atual Papa:

Este Santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, que me inspirou a escrever a encíclica “Laudato si", volta a inspirar-me para dedicar esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social. Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos (FT 2).

Propor-nos Francisco como exemplo por excelência, porém não significa “macaqueá-lo”, querendo repetir seus gestos, suas palavras, ações ou omissões. Significa, antes, deixarmo-nos tocar pela sua dedicação à obra de sua vida; significa, como ele deu o melhor de si em vista da causa dessa obra, assim também nós colocarmo-nos na disposição de dar o melhor de nós para a nossa própria obra, para a nossa própria causa. Ora, a obra ou a causa de Francisco e a nossa é a mesma: o Evangelho vivido na minoridade (pobreza de espírito ou humildade) e na caridade fraterna universal.

A realização, porém nunca é igual. É cada vez diferente, singular, única. Por isso, não seremos indagados pelo Senhor por que não fomos São Francisco... Seremos indagados, caso não atendamos à nossa vocação singular, por que não fomos nós mesmos, não nos deixando tocar pelo exemplo de Jesus Cristo e de seu mais apaixonado imitador, São Francisco de Assis... A imitação é, assim, bem-entendida, um caminho para a originalidade e originariedade. Propor-nos Francisco como exemplo, portanto, significa imbuir-nos desse seu espírito a fim de podermos nós, hoje, colocar nossa pedra, grande ou pequena, de colaboração na reconstrução do humano de todos os humanos, da Igreja e da Criação. Só assim, poderemos atender a esta exortação do Papa Francisco: tomar São Francisco de Assis como exemplo para a reconstrução de nossa Casa Comum, do nosso humano e de nossa Igreja.

Conclusão

Em meio à pandemia de tantas ideologias que grassam em nosso meio, principalmente à pandemia da “consciência isolada”, que nos fecha e torna insensíveis ao sofrimento dos outros, pôr “São Francisco como exemplo por excelência” significa, ou implica, aproximar-nos dele para que os raios de seu espírito originário iluminem as decisões e os passos que devemos dar; significa aquecer-nos com o ardor de sua paixão na reconstrução do humano de nossa humanidade, da alma de nossa Igreja e de toda a criação. Cada um, com sua “originariedade”, vocação e missão, como nos adverte muito bem o garoto, o novo Bem-aventurado da Igreja, Carlos Acutis, um apaixonado por São Francisco: Nascemos todos originais, mas corremos o risco de morrer fotocópias.

Acima de tudo, São Francisco é um exemplo por excelência

na imitação de Jesus Cristo crucificado.

Para pensar, conversar e comentar:

1. O que pensar da exortação do Papa, acima transcrita? O que significa escolher e pôr São Francisco como nosso exemplo a fim de bem desempenharmos nossa missão na Igreja e no mundo de hoje?

2. Quais os perigos que hoje podem levar-nos a perder nossa “originariedade” e morrer como fotocópias?

Continue bebendo do espírito deste tema, indo ao Texto Fonte.

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