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17º Encontro (29/05/21) - São Francisco de Assis, escritor e teólogo

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 29 de mai. de 2021
  • 5 min de leitura

São Francisco de Assis, escritor e teólogo



Introdução


Nos últimos encontros vimos como o Carisma franciscano irrompeu beneficamente não apenas dentro da Igreja, mas também na história da Humanidade. É o vigor do Evangelho, do Espírito de Jesus Cristo crucificado, vivo no meio de nós que, a exemplo de Maria e dos Apóstolos, encontrou em Francisco e nos primeiros frades um coração generoso e bem disposto, um terra boa e fecunda!


Hoje, vamos nos deter num belo exemplo dessa irrupção, muito ligado ao próprio São Francisco: seus Escritos. De fato, entre os inúmeros feitos e prodígios de Francisco, muitas vezes esquecido, está o belo acervo de seus Escritos: 28 pequenas obras, impregnadas de uma profunda espiritualidade evangélica. Isso é realmente admirável, uma vez que ele mesmo se denominava um homem que não sabia falar porque era simples e idiota! (2C 145).



1. O PRINCÍPIO


Como, então Francisco chegou a esse feito? Primeiramente, devemos recordar que ele tinha uma consciência muito viva e clara acerca da graça de sua vocação-missão: que, a exemplo dos Apóstolos, também ele devia ir pelo mundo para ministrar as odoríferas palavras do seu Senhor (2CFi 2). E quando, mais no final de sua vida, por causa de suas doenças, não podia mais viajar, sentiu que, para continuar essa sua vocação-missão, devia fazê-lo por escrito. Ele mesmo o diz claramente: considerando em minha mente, não poder visitar pessoalmente a cada um, por causa da enfermidade e debilidade do meu corpo, propus, pela presente carta e mensageiros, dirigir-vos as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo do Pai, e as palavras do Espírito Santo! (2CFi 2). O que ele diz dessa Carta, podemos e devemos dizer de todos os seus Escritos. Ou seja, atrás de cada texto, frase ou palavra está um coração apaixonado e desejoso de tornar conhecido e amado Aquele que muito nos amou (1B 9,1).


Francisco, porém, não escreveu, sentado diante de uma escrivaninha, buscando ideias e pensamentos. Seus escritos são fruto de um profundo diálogo com a vida. Uma vida feita de profundas, longas e contínuas meditações, unidas a não menos e intensos exercícios de mendicância, pobreza, fraternidade e penitência evangélica; de provações e enfrentamentos com o espírito do mundo, da carne e, até mesmo, com alguns companheiros que queriam desviá-lo de sua inspiração originária, propondo-lhe o direito à posse de certos bens, ferindo, assim, a Dama Pobreza e, até mesmo, o seguimento de outra Regra ou Forma de Vida (Cf. Compilação de Assis, 18). Por isso, mais que pedaços de papel, seus Escritos são pedaços de vida... de vida evangélica, apostólica, replenos de ciência divina e teológica que, ainda hoje, faz inveja aos mais entendidos do ramo.


Além do mais, Francisco é, também, o primeiro responsável pelo arquivamento dessa significativa herança. Não são poucas as vezes que ele mesmo recomenda a leitura, a conservação e a divulgação de seus Escritos. Não é de estranhar, portanto, que, passados apenas trinta anos de sua morte, os frades organizassem a primeira coletânea de seus Escritos, como vem registrada no códice 338 da Comuna de Assis, datado por volta de 1250.


Francisco, porém, não é autor ou escritor no sentido moderno de ser ele o sujeito ou criador de seus escritos. Também, não é teólogo no sentido de alguém que faz teologia. Ele não fala nem escreve a partir de si. Por isso, não é ele o sujeito de seus escritos e de “sua” teologia ou espiritualidade. A origem de ambos está no Espírito do Senhor e seu santo modo de operar (RB 10,9). Tudo isso aconteceu porque, desde seu comovente encontro com Jesus Cristo Crucificado, na igrejinha de São Damião, todos os eventos de sua vida, passam a ser fruto de uma profunda experiência religiosa, mística, isto é, de um enamoramento amorosíssimo e de um diálogo muito íntimo com Cristo. Portanto, como toda sua vida, também seus Escritos são obra de Deus, atestada nesta sua clara afirmação: O Senhor me deu a graça de escrever pura e simplesmente (T 39). Portanto, estamos diante de uma obra visceralmente pessoal, divino-humana; admirável e gracioso reflexo do mistério da encarnação! De um lado, o Senhor que o ilumina, inspira e comove e, de outro, Francisco que, qual Maria, escuta diligentemente, acolhe amorosamente, obedece fielmente e colabora ardorosamente, vivendo, falando e escrevendo.


Quando se diz “escrevendo”, não significa que ele, Francisco, de próprio punho, tenha redigido seus Escritos. Significa que ele os ditava na língua vulgar a algum frade, entendido no latim, que então, os redigia nos pergaminhos. Compreende-se, agora, porque ele mesmo considera seus Escritos como palavra de Deus. Por isso, no final de quase todos eles, pede a todos, com fervorosa solicitude e insistente veemência, que os leiam, conservem e divulguem.


Francisco, torna-se, assim, autor e teólogo no sentido pleno e originário desses dois conceitos. Autor porque dá tudo de si para que apareça e cresça a inspiração divina. Autor, do verbo latino “augere”, significa, justamente, a exemplo da mãe que gera o filho, fazer crescer, dar corpo, vida à inspiração. Teólogo, por sua vez e porque, em vez de falar sobre Deus, fala, mostra, revela, espelha Deus. Por isso, o povo, quando via Francisco, parecia-lhe estar vendo o Evangelho vivo: Jesus Cristo.



2. ESCRITORES DA PALAVRA DE DEUS e TEÓLOGOS, HOJE


Mais que em outros, o nosso tempo, afetado por tantas pandemias de ídolos falaciosos, que corroem nosso humano por dentro, exige reconstrução. Uma reconstrução que comece a pensar grande, que saiba olhar para os outros e sentir os direitos e as necessidades dos mais abandonados e sofridos. Acima de tudo, que comece a sentir a soberania de Alguém maior que toda a criação e toda a Humanidade. O Papa Francisco diz até que é preciso reinventar a Vida cristã. Para isso, a exemplo de São Francisco, temos de tornar-nos teólogos, isto é, pessoas que nos disponhamos a ler, meditar sua Palavra, seu Evangelho; que mantenhamos com Jesus Cristo um diálogo de profunda intimidade.


Ser teólogo, na Igreja, deveria ser o natural para todos os fiéis e não uma especialidade de alguns apenas. É o que nos exorta, muito claramente, o Papa Bento XVI. Depois de recordar que o Povo de Deus, com seu “sensus fidei” (senso da fé), vem antes dos teólogos, fala:


Já recordei isto há alguns meses, dizendo: "Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, grandes mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura... mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo... O essencial permaneceu escondido! Em contrapartida, em nosso tempo existem também os pequeninos que conheceram este mistério. Pensemos em santa Bernadete Soubirous; em santa Teresa de Lisieux, com a sua nova leitura "não científica" da Bíblia, mas que entra no coração da Sagrada Escritura" (Osservatore Romano de 5/12/2009, p. 9).


E nós poderíamos acrescentar: Santa Irmã Dulce dos Pobres, assim denominada porque no rosto dos doentes e mais necessitados sabia ler o rosto de Deus; Bem-aventurado Carlos Acutis que falava Deus através da Internet; Santa Teresa de Calcutá, a “Santa da Sarjeta” porque sabia ver e falar Deus para os pobres que viviam nas valetas; Marina Meditch, a franciscana secular, que em seus cadernos deixou por escrito toda a sua intimidade com o Senhor e tantos outros homens e mulheres de Deus que passam despercebidos.


Para pensar, conversar e comentar:


1. Pode-se afirmar que São Francisco seja o escritor ou autor de seus Escritos? Em que sentido? O mesmo vale para sua teologia?

2. Podemos nós, tornar-nos escritores da Palavra de Deus, teólogos? Como?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes.



Continue bebendo do espírito deste tema:


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de Assis, escritor e teólogo


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