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15º Encontro (15/05/21) - São Francisco, um convertido por excelência: a irrupção do carisma

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 15 de mai. de 2021
  • 7 min de leitura

Atualizado: 16 de mai. de 2021



SÃO FRANCISCO DE ASSIS

E A IRRUPÇÃO DE SEU CARISMA NA HISTÓRIA


No último Encontro, vimos como e quanto o novo estilo, a nova Forma ou Regra de vida de Francisco e de seus primeiros companheiros, como e quanto, enfim, a nova Ordem encantava, atraia e transformava as pessoas. Era, o querigma franciscano começando a irromper no coração das pessoas, na Igreja, no mundo e na história.


Tudo isso, porque, então, como na era apostólica, no Pobrezinho de Assis, as palavras do Evangelho readquiriram sua originária virulência, seu originário esplendor, seu prístino frescor. Em Francisco, muito da esperança e da aspiração por uma nova experiência da essência da vida cristã tomou corpo, em meio a todas as crises que o cristianismo do início do século XIII enfrentava.


Renascia assim, na Igreja e no mundo a existência evangélica, crística, denominada, agora de Vida ou Existência franciscana. Na raiz ou melhor, como força originária e fundacional dessa nova existência está a graça do que costumamos chamar de “carisma franciscano”; graça que foi dada a Francisco de Assis e a seus companheiros das primeiras horas e que lançou o movimento franciscano em sua destinação histórica. Nada de sentimentalismos, muito menos de dogmatismos, mas pura potência do “Eu” de Cristo amado, desejado e buscado com todo coração, com toda alma, com toda a mente e com todas as forças (CtFi) por aqueles novos cristãos.


Frei Hermógenes Harada, a propósito, escreve:


O carisma fundacional é, pois participação no ser de Jesus Cristo, da epifania e diafania da “kháris” (Caridade: vigor do Ser gratuito) que é Deus, Uno e Trino. Nesse sentido, a “existência franciscana” é ontologicamente anterior e mais fundamental do que a experiência pessoal e privativa de um indivíduo chamado Francisco ou de indivíduos ou de grupo de indivíduos que seguem a Francisco. “Existência franciscana”, o Carisma, o Espírito de São Francisco, porém não existe, no sentido de ocorrência como entidade factual como coisa. Ela se dá no processo vivo, responsabilizado e buscado com todo o empenho de todo o ser da pessoa dos que vão de encontro à convocação do Amor do Encontro.


Para ver e compreender a irrupção desse admirável mistério transformante e transformador ajuda-nos ler esta significativa página de um dos cronistas da época, Jacques de Vitry. Depois de dizer que estamos diante de uma beleza de Ordem e de uma santidade de Regra, mostra que se trata de uma realidade que já existia:


Todavia, se observarmos atentamente o estado e a ordem da Igreja primitiva, vemos que não se trata propriamente de uma nova Regra que se instaura, mas antes de uma antiga que é renovada, de uma que jazia por terra e é restabelecida, de uma que estava moribunda e que se reavivou. [...] Estes religiosos formam a Ordem dos verdadeiros pobres do Crucificado, a Ordem dos Pregadores, também chamados de Frades Menores. São verdadeiramente menores e os mais humildes dentre todos os regulares. Isto pelo hábito, pela nudez e desprezo deste mundo.


Em seguida, o mencionado cronista, assinala a origem, a fonte de onde nasce e floresce essa nova existência:


Aplicam-se com tanta diligência para renovar em si mesmos a Religião, a pobreza e a humildade da Igreja primitiva, haurindo com sede e ardor de espírito as águas puras da fonte do Evangelho que trabalham com todos os meios para cumprir não somente os preceitos evangélicos, mas, também, os seus conselhos. Assim, eles imitam com precisão a vida apostólica, renunciando a todas as coisas que possuem e renegando-se a si mesmos. Tomam sobre si a cruz e seguem nus o Cristo nu, abandonando o manto como José e o cântaro como a samaritana.


E, finalizando, dá em detalhes as principais marcas desse novo estilo, dessa nova Forma de Vida, dessa nova existência cristã, denominada, agora de existência franciscana:


Estes pobres de Cristo, porém, não levam nem sacola e nem bolsa no caminho, nem pão, nem cobre e nem dinheiro na cintura. Não possuem nem ouro, nem prata e nem calçados em seus pés. Nenhum membro desta Ordem tem o direito de possuir o que quer que seja. Não dispondo de vestes de peles ou de linho, vestem-se apenas com túnicas de lã com capuzes. Não usam capas ou mantos ou cogulas nem quaisquer outras vestimentas (Jacques de Vitry, Fontes Franciscanas, MSA, pág. 1306-1307).


Falando dessa irrupção do carisma franciscano, na humanidade, Frei Hermógenes Harada diz:


No começo, Francisco pensava que o projeto era só dele. Descobriu, porém, que não estava sozinho! Começou, assim, a entrar no grande projeto da Humanidade que é a Fé cristã; que, o que estava buscando, era universal: algo que desde Jesus Cristo, até ele, milhares de pessoas tinham buscado, cultivado, dando a própria vida. Nessa constante passagem do natural para o projeto de vida, Francisco "recebeu" companheiros do mesmo projeto de vida. E começou a ter uma nova pertença: o Pai de Jesus Cristo, o próprio Jesus Cristo, os apóstolos, a Igreja... Todo o Povo de Deus estava caminhando naquele ideal que ele tinha escolhido. Descobriu que aquilo que parecia um projeto individual era muito pessoal, muito engajado, mas nada individual-particularista. Era um ideal enorme da Humanidade nova em Jesus Cristo. Por isso, foi até o representante desse Povo de Deus, o Papa. Não reparou se era bom ou ruim como pessoa, e pediu a aprovação para o seu gênero de vida. Quando São Francisco diz: "A Regra e a Vida dos Frades Menores é esta", está dizendo: "Embala-te! Entra nessa enorme corrente chamada vida cristã, que vem desde Jesus Cristo até nós". É essa maneira de entender o humano que está por trás de todo o texto da Regra[1].



A IRRUPÇÃO DO CARISMA FRANCISCANO, HOJE


Poucos são os homens que, ao longo da história, conseguiram tamanha universalidade ou catolicidade como São Francisco com sua Regra ou Forma de Vida, com sua nova Ordem. Que o diga o mundo da literatura, que vai desde seus hagiógrafos como Celano, São Boaventura, os autores dos famosos I Fioretti, passando pelos poetas Frei Jacopone de Todi com seu Stabat Mater dolorosa, Dante com sua Divina Comedia, e os modernos como o protestante Paul Sabatier e sua “Questão Franciscana”, como Chesterton com sua “Vida de São Francisco de Assis”, como o grego Nikos Kazantzakis com o seu “O Pobre de Deus”, como o jovem socialista Eduardo Gemelli que, depois de convertido, torna-se Frei Agostinho e escreve seu famoso “Franciscanismo”, etc.; que o diga o mundo da arte com seus grandes representantes que vão do medieval Giotto ao moderno e brasileiro Portinari; que o diga o mundo da arquitetura com as famosas igrejas dedicadas a esse Santo como a Basílica de São Francisco, de Santa Maria dos Anjos em Assis e tantas outras espalhadas mundo afora, a exemplo do Brasil, como as de Canindé, Rio, Salvador, Ouro Preto, Recife, etc.; que o diga o mundo do cinema, no qual a cada pouco somos surpreendidos com um novo filme na tentativa de compreender essa nova existência que encanta, questiona e transforma. Por tudo isso, não foi à toa que ele tenha sido eleito como um dos dez personagens mais significativos do último milênio.


Mas, a irrupção mais significativa da existência franciscana vem se dando na Igreja. Ela teve início com o terciário franciscano, o Papa João XXIII (1958) que, com sua docilidade ao Espírito, teve a ousadia de convocar todos os fiéis à um retorno às origens, ao Evangelho, a Jesus Cristo. E agora chega à sua culminância com o atual Papa. Interrogado porque escolhera o nome de Francisco, respondeu:


Foi por causa dos pobres que pensei em Francisco. Depois, enquanto o escrutínio prosseguia, pensei nas guerras, e assim surgiu o homem da paz, o homem que ama e protege a criação, com o qual hoje temos uma relação que não é tão boa.


Depois, ao redigir a Encíclica Sobre o Cuidado da Casa Comum, escolhe como título o significativo início de um dos mais expressivos poemas de Francisco, no qual enaltece o Criador com todas as suas criaturas: Laudato Sì (Cf. Cântico do Irmão Sol). E, mais recentemente, de novo, recorre ao Santo de Assis, para que o inspire em sua nova Encíclica Sobre a Fraternidade e a Amizade Social. Dessa vez, como título são duas pequenas, mas muito queridas e significativas, palavras de São Francisco, tiradas de sua Regra ou Forma de Vida: Fratelli Tutti (RNB 22,1). E ele mesmo, o Papa, dá a razão:


Este Santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, que me inspirou a escrever a encíclica “Laudato si’”, volta a inspirar-me para dedicar esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social. Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos (FT 2). Um homem, um santo sem fronteiras! (idem).


E continua, nosso Papa:


A fidelidade ao seu Senhor era proporcional ao amor que nutria pelos irmãos e irmãs. Sem ignorar as dificuldades e perigos, São Francisco foi ao encontro do Sultão com a mesma atitude que pedia aos seus discípulos: sem negar a própria identidade, quando estiverdes «entre sarracenos e outros infiéis (...), não façais litígios nem contendas, mas sede submissos a toda a criatura humana por amor de Deus». No contexto de então, era um pedido extraordinário. É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco recomende evitar toda a forma de agressão ou contenda e também viver uma «submissão» humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse sua fé. Não fazia guerra dialética impondo doutrinas, mas comunicava o amor de Deus; compreendera que «Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus» (1Jo 4, 16). Assim foi pai fecundo que suscitou o sonho duma sociedade fraterna, pois «só o homem que aceita aproximar-se das outras pessoas com seu próprio movimento, não para retê-las no que é seu, mas para ajudá-las a serem mais elas mesmas, é que se torna realmente pai» (FT 3-4).


[1]Harada, Hermógenes. Comentário à Regra Bulada em paralelo com a Regra não Bulada. Texto não publicado, s.d., p. 4.



Para pensar e conversar:


1. A que se deve uma irrupção tão universal e até o dia de hoje do carisma franciscano?

2. Como se manifesta essa irrupção na Igreja de hoje?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes.


Continue bebendo do espírito deste tema: - indo ao texto-fonte: 15º Encontro - São Francisco de Assis e a irrupção de seu carisma na história

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