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14º Encontro (08/05/21) - São Francisco, um convertido por excelência: São Francisco e suas Ordens

  • Foto do escritor: Frei
    Frei
  • 7 de mai. de 2021
  • 8 min de leitura

SÃO FRANCISCO DE ASSIS E SUAS ORDENS:

O QUERIGMA FRANCISCANO


Introdução


Nos encontros anteriores, vimos o maior e o mais importante de todos os feitos de São Francisco: a acolhida da graça da penitência evangélica. Dois encontros, sumamente preciosos e inesquecíveis, um com Jesus Cristo crucificado e outro com o Evangelho do Envio dos Apóstolos, o transformaram de filho de Pedro Bernardone em filho do Pai dos Céus, de buscador e cavaleio das glórias do mundo em apaixonado seguidor de Jesus Cristo crucificado e buscador de sua glória.


1. O QUERIGMA FRANCISCANO


Hoje, vamos ver o primeiro fruto dessa graça. Poderíamos chamá-lo de querigma franciscano, isto é, a irrupção, no mundo de então, até no de hoje, do vigor originário da graça daqueles marcantes encontros: Jesus Cristo-São Francisco. E o primeiro fruto dessa irrupção foi o nascimento de suas três Ordens.


Comecemos ouvindo este testemunho:


Tornando-se conhecida de muitos a verdade de tão simples doutrina, bem como da vida do Bem-aventurado Francisco, após dois anos de sua conversão, alguns homens, por seu exemplo, começaram a animar-se para a penitência e, abandonando todas as coisas, a unir-se a ele pelo hábito e pela vida (27,1).


Quando lemos essa passagem, e outras semelhantes, nos admira e impressiona a profunda semelhança entre:


- O início da Vida pública de Jesus Cristo e o início da Vida apostólica de Francisco;

- Como surgiu a Igreja primitiva e como surgiram as Ordens de São Francisco.


Assim, como outrora as pessoas se encantavam com Jesus, com suas obras e pregação e se decidiam a segui-lo; assim, como muitos se sentiam tocados com o testemunho vivido e testemunhado pelos Apóstolos e se convertiam ao Evangelho e faziam nascer a Igreja, agora tudo isso se repete com São Francisco. Francisco atrai, cativa. Muitas pessoas ao vê-lo ou ouvi-lo desejam e se dispõem a segui-lo, dando início, assim, a uma nova Ordem na Igreja.


Assim, depois de dois anos, aquela forma de vida evangélico-apostólica de Francisco, começou a atingir outras pessoas que se uniram a ele pelo hábito e pela vida (LTC 27). Pelo hábito significa não apenas pela roupa, calçado, mas principalmente pelos costumes, atitudes, conduta, orações, regra, etc. Pela vida significa pelo espírito, pela inspiração originária, recebida do Senhor através do encontro com o Crucificado e consumada, agora, pelo encontro com o Evangelho do envio dos Apóstolos.


O primeiro atingido por essa doutrina e essa nova forma de vida foi Bernardo de Quintavalle, um homem sábio, nobre e rico. De repente, se depara com Francisco, se encanta com a constância e o fervor dele no serviço divino; admira seu grande trabalho na reconstrução das igrejas, bem como a vida áspera que agora leva; se antes, no mundo vivera folgadamente, agora Bernardo admira a grande alegria com que Francisco realiza tudo isso, uma alegria diferente, serena, recolhida, liberta dos prazeres desse mundo. Percebe que há em Francisco outra sabedoria bem mais sábia, outra riqueza bem mais rica e outra nobreza bem mais nobre que aquelas que ele cultivava. Bernardo, então, decide e propõe em seu coração unir-se firmemente a Francisco pela vida e pelo hábito (Cf. LTC 27). Na mesma ocasião, outro cidadão de Assis, de nome Pedro, cativado, também ele, pelo exemplo do jovem Francisco, decide associar-se a ele.

Ao acolhê-los, disse lhes Francisco: De manhã, bem cedo, iremos à igreja e, pelo livro dos Evangelhos, conheceremos como o Senhor ensinou seus discípulos (LTC 28). Assim, movidos pelo ardor da nova vida, que estava nascendo em Francisco, chegam à igrejinha de São Nicolau. E, porque eram simples, pediram devotamente ao Senhor que na primeira abertura do livro se dignasse mostrar lhes sua vontade. Terminada, pois, a oração, o Bem-Aventurado Francisco, tomando o livro fechado e de joelhos abriu-o por três vezes diante do altar. Coisa admirável! Nas três vezes apareceu o mesmo discurso de Jesus aos Apóstolos, visto acima. Francisco, então, dando graças a Deus, cheio de alegria exclama: Irmãos, esta é a nossa vida e a nossa regra e a de todos os que quiserem juntar-se à nossa companhia (LTC 29,8).


Em outras palavras, seguir Jesus Cristo crucificado, no modo de viver dos Apóstolos — enviados pelo mundo para pregar a Boa Nova, anunciar e testemunhar o novo Céu e a nova Terra através do martírio — eis a alma, o corpo, o espírito, a conduta, a Vida e a Regra da nova Ordem. Por isso, Francisco, a exemplo de Jesus aos Apóstolos, ordena lhes:


"Ide, pois, e realizai tudo e plenamente como ouvistes!” Bernardo e Pedro, então, vendendo todos os seus bens e distribuindo tudo aos pobres, receberam o hábito que o Santo um pouco antes se havia feito. E, a partir daquela hora, viveram juntamente com ele a Forma do santo Evangelho a eles mostrada pelo Senhor (LTC 29).


Renascia, assim, na Igreja, através de São Francisco e de todos aqueles primitivos Frades, a forma de vida (a Ordem) dos Apóstolos, a Igreja antiga, originária, primitiva e Mãe de todas as Igrejas cristãs, agora sob o título de Ordem dos Irmãos (Frades) Menores.


Pouco tempo depois, Clara e outras jovens de Assis, decidem, também elas, abandonar o mundo para viver a mesma vida, a mesma Regra de Francisco. Nascia, assim, dentro e a partir daquela Primeira, a segunda Ordem Franciscana, a Ordem das Clarissas.


Ao mesmo tempo, e de modo semelhante, também homens e mulheres ca­sados, não podendo desligar-se da lei do matrimônio, de acordo com os salutares conselhos dos Irmãos, entregavam-se a uma penitência mais rigorosa em seus próprios lares. Era o nascimento do qual nasceu a Terceira Ordem.


Vem, então, esta bela e significativa conclusão:


E assim, por meio do Bem-aventurado Francisco, perfeito adorador da Santíssima Trindade, a Igreja de Deus é renovada em três Ordens, como prefigurou a precedente reparação das três igrejas. Cada uma destas Ordens foi confirmada a seu tempo pelo Sumo Pontífice (LTC 60,7-9).


2. AS ORDENS FRANCISCANAS, HOJE


Passados 800 anos, a graça do querigma franciscano continua irrompendo no mundo de hoje. Basta dizer que, numa enquete universal, São Francisco foi eleito como um dos “homens mais importantes do último milênio”. Ele aparece na literatura. Quantos livros não se escrevem, sempre de novo, acerca de sua pessoa! Quantos filmes são rodados na tentativa de captar sua proposta de vida! Pensadores, como o italiano Giorgio Agamben, sentem que na “Altíssima Pobreza” de Francisco esconde-se o princípio de uma nova sociedade mundial, assentada não no direito à posse dos bens deste mundo, mas apenas na graça de seu uso. Não bastasse tudo isso, lembremos o Vaticano II, iniciado com o franciscano secular São João XXIII. Esse Papa, o primeiro, nos últimos séculos, a sair do Vaticano, peregrinou, justamente, a Assis, a fim de colocar aquele grande evento da Igreja sob a proteção e inspiração de São Francisco. São João Paulo II, por sua vez, escolheu Assis como sede dos famosos Encontros Inter-religiosos, iniciados em 27 de outubro de 1986. E, finalmente, coroando todas essas e outras iniciativas, temos hoje, pela primeira vez, um Papa que ousa tomar o nome do Santo para que seja o inspirador de todo o seu pontificado; um Papa que ousa propor São Francisco como exemplo por excelência para todos os fiéis e também para todos os homens de boa vontade.


A irrupção desse carisma no mundo, fez também com que as três Ordens de São Francisco se multiplicassem em dezenas e dezenas de outras Ordens, Congregações e Institutos, tanto de consagrados religiosos como de leigos-seculares. Hoje, todos juntos, formam a grande Família Franciscana. Entretanto, a exemplo da própria Igreja, nem sempre eles e seus membros se mantiveram inteiramente fiéis ao espírito originário dos Apóstolos e do próprio São Francisco. Por isso, hoje, a exemplo da Igreja, também essas Ordens, e Congregações, isto é, também nós, seus membros, a exemplo dos Apóstolos, de São Francisco e dos primeiros franciscanos precisamos, como diz São João, voltar ao primeiro amor (Ap 2,4). Precisamos atender à exortação de São Francisco que, embora já consumado em graça diante de Deus e debilitado fisicamente, exclamava: Irmãos, vamos começar a servir a Deus porque até agora pouco ou nada fizemos (1C 103); atender o apelo de Santa Clara que recordava à Inês de Praga que tivesse sempre, diante de seus olhos, o princípio e o propósito de sua conversão à Vida evangélico-apostólica (2CCL). Talvez, seja esse o grande sinal que todos nós franciscanos devamos colher da atual crise que, qual pandemia espiritual, invadiu todas as nossas famílias, casas e fraternidades. Mais que uma crise de números ou de escassez de vocacionados, se trata de uma crise de identidade. E, nesse sentido, ela apenas está começando. Mais que renovar precisamos descobrir de novo o Pensamento, a alma originária franciscana; mais que renovar nossos costumes, precisamos reinventar nossa conduta a fim de que ela se assemelhe cada vez mais e melhor à Forma de Vida franciscana originária.


Tudo isso, porém, significa ou implica em voltar ao vigor de nossa origem e ao fervor do nosso primeiro amor; significa testemunhar a vida de penitência dos Apóstolos. Não a penitência da cara de sexta feira santa, diz nosso Papa, tristonha de uma “consciência isolada” (FT), porque fechada, ensimesmada na busca do próprio bem estar pessoal. Mas, a penitência de Jesus Cristo e dos Apóstolos; uma penitência que nasce de um coração sempre voltado, virado e conduzido pela Paixão e pelo amor do Pai do Céu. Por isso, será uma penitência feliz e alegre porque é fruto de um enamoramento de Deus e que nos faz experimentar que, para Deus, cada um é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário (LS 65), especial.


Essa penitência evangélica, a exemplo de Francisco, nos levará a transformar-nos em evangelizadores com espírito; evangelizadores que rezam e trabalham (Cf. EG 262), dispostos a sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (EG 20); dispostos a contrair o cheiro das ovelhas (idem 24) e a ter a coragem de envolver-nos com a situação de pobreza, aflição e pecado dos homens de hoje a fim de poder lavar lhes os pés com a água da caridade e a enxuga-los com a toalha da misericórdia.


Conclusão


Enfim, com a Igreja do Vaticano II, a exemplo dos Apóstolos, de São Francisco e dos primitivos franciscanos, precisamos empenhar-nos em recuperar, cada vez mais ardorosamente, o fogo do Espírito... que nos faz crer em Jesus Cristo, que, com sua morte e Ressurreição, nos revela e nos comunica a misericórdia infinita do Pai (EG 164). Esse deve ser o ponto de partida, o princípio que deve arder no coração de cada franciscano ou franciscana, tanto para aquele que prega ou anuncia a Boa Nova como para aquele que a escuta: Jesus Cristo te ama, deu sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar (idem, 164).


Para pensar e conversar:


1. Dá para perceber certa semelhança entre o princípio da Ordem com o princípio da Igreja? Como caracterizar essa semelhança?

2. Como você vê ou sente o querigma franciscano, hoje, tanto dentro de suas diversas Ordens, Congregações e Institutos, como fora?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes



Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 14º Encontro - São Francisco de Assis e

suas Ordens - o querigma franciscano


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- ouvindo no YouTube: Frei Dorvalino - 14º Encontro - São Francisco, um convertido

por excelência: São Francisco de Assis e

suas Ordens - o querigma franciscano (Parte 1 e Parte 2)

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Próximo Encontro: 15º Encontro - Vida e Regra: a irrupção do Carisma Franciscano na História


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