13º Encontro (01/05/21) - São Francisco, um convertido por excelência: Da conversão evangélica
- Frei
- 30 de abr. de 2021
- 7 min de leitura
Atualizado: 1 de mai. de 2021
4º Estágio - DA CONVERSÃO EVANGÉLICA (continuação)
OUVIR, ENTENDER E CUMPRIR OS CONSELHOS
DE CRISTO E, ASSIM, TORNAR-SE MENSAGEIRO DA PAZ E DO BEM
O capítulo VIII da Legenda dos Três Companheiros recebeu o seguinte título: Como ouvidos e entendidos os conselhos de Cristo no Evangelho, mudou inteiramente o hábito exterior e vestiu o novo hábito da perfeição, interior e exterior.
Do “como” do “ouvir” e “entender” vem a mudança de hábito, interior e exterior. Continuamos, assim, a seguir, na leitura da Legenda, o caminho, o itinerário da conversão de São Francisco. Ouvir, entender e mudar. Estes três verbos nomeiam três momentos de uma única atitude dele: a conversão, a penitência evangélica.
Vejamos melhor essa conversão em sua riqueza e excelência. O ouvir é aqui, obediência. O ouvir da obediência é mais do que uma escuta qualquer. É uma escuta que se faz ausculta, isto é, concentração e atenção inteiramente devotada. Este ouvir é abertura para o outro, para a sua fala, na relação, no encontro, no diálogo com ele. Trata-se de um ouvir que deixa e faz crescer uma pertença ao outro, que é ouvido. Em ouvindo, Francisco se abre e cresce para a pertença a Cristo.
Cristo fala a Francisco no Evangelho durante as solenidades da Missa. Na celebração da eucaristia, Cristo se nos doa no mistério de sua Palavra e no mistério de seu corpo e sangue. Cristo nos dirige sua palavra. Ele nos interpela. Nos chama em causa. Sua palavra, que é espírito e vida, nos dirige um apelo, na forma de mandamentos. Mais do que comandos, seus mandamentos são apelos e recomendações. E o que de melhor ele nos tem a dar em sua fala conosco chamam-se “conselhos”. O que Francisco ouve de Jesus Cristo, na proclamação de sua Palavra, no Evangelho, são conselhos, isto é, acenos, dicas, indicações de como alcançar a excelência do discipulado. Conselho é algo que nos ajuda a discernir, a deliberar, em vista de nossas ações. É o que nos ajuda a nos tornar resolutos em favor da nossa obra. É o que nos ajuda a ver longe e encoraja a agir bem. Por isso, os conselhos são dádivas do mestre.
Os conselhos que São Francisco escutou são ditos por ocasião do Envio dos discípulos como mensageiros que anunciariam o Reino dos Céus. Os discípulos se tornam “Apóstolos”, isto é, enviados. Eles são remetidos a um caminho para realizar o anúncio do Evangelho, da Boa, Alegre Mensagem, de Jesus Cristo, que proclama o amor incondicional do seu Pai por nós, homens. Jesus dá determinados conselhos sobre como eles hão de se portar neste caminho.
O que mais chama a atenção de São Francisco é o que lemos nos versículos 9 e 10 do capítulo 10 do Evangelho de São Mateus. Jesus recomenda a seus discípulos para não levar nem ouro, nem prata, nem sacola ou alforje, nem pão nem bastão, para não ter consigo duas túnicas. Isto que Francisco ouviu, ele quis entender. Ele quis entreler os sentidos disto e deixar claro para si o que isto comportava para sua vida. Por isso, ele pediu ao presbítero que lhe explicasse. Uma vez tendo aprendido, isto é, apreendido, recebido com clareza as palavras de Jesus, ele imediatamente muda de hábito. Até então portava um hábito de eremita, um báculo na mão, calçados nos pés e uma correia na cintura. Tudo isso era pouca coisa, mas ainda era uma segurança. Jesus quer para seus seguidores uma insegurança total, uma pobreza radical, a fim de que somente Ele seja sua única segurança, sua riqueza absoluta. Por isso, agora, Francisco se desfaz de tudo isso, e faz um novo hábito, evangélico, apostólico, caracterizado pelo sinal da cruz: a Pobreza absoluta. Por isso, a mudança de hábito exterior, diz a Legenda, também trazia consigo uma mudança de hábito interior. O seu modo de habitar a terra sob o céu em meio aos homens e as criaturas mudariam. E mudariam na direção de uma vida mais livre e pobre.
Desde então, ele viveria vida evangélica e apostólica. Viveria como alguém que recebeu um encargo do seu mestre, que foi investido no serviço de mensageiro de Jesus Cristo. A força dos mensageiros, dizia Bonhoeffer, comentando o Evangelho do envio dos Apóstolos em Mateus, capítulo X, consiste na palavra de Jesus. A pobreza dos mensageiros deve poder testemunhar a riqueza essencial do seu Senhor. Tudo o que eles ministram em palavras e em obras foi recebido de graça. Por isso, o doar deles também precisa ser gratuito. O encargo de mensageiro de Cristo, de anunciador do Evangelho, não deve ser para eles um pretexto para obter dinheiro e bens, poder e prestígio. Quem deve ser honrado é seu Senhor, não eles, os mensageiros. Eles devem fazer o seu caminho como alguém que receberá logo uma hospedagem. Eles não confiam nos seus recursos. Confiam na palavra de Jesus, que os enviou em pobreza, e na bondade do Pai do céu, que veste os lírios do campo e alimenta os pássaros do céu. Esta pobreza evangélica, apostólica, porém, é uma dádiva: o dom da liberdade, da serenidade jovial e da jovialidade serena que só é concedido aos desprendidos, aos desapegados, no seu interior, no seu coração. Por tudo isso, a mudança de hábito exterior era um primeiro passo, que levava Francisco a irromper nesta dimensão da pobreza evangélica e de sua liberdade.
A Legenda diz que Francisco, por instinto divino, começou a ser anunciador da perfeição evangélica e de modo simples pregar em público a penitência. Francisco não se baseia numa opinião sua. Não se apoia em sentimento ou intuição humana. Ele é impelido por um instinto divino. “Instinctus” quer dizer instigação, impulso, e, daí, inspiração. Era o Espírito Santo que o instigava, que o impelia ao anúncio do Evangelho, e, por conseguinte, à pregação pública da penitência. “Convertei-vos e crede no Evangelho”, lemos nos Evangelhos. Francisco, homem pneumático, movido pela unção do Espírito Santo, pelo instinto divino, chama os seus concidadãos à conversão, à mudança de caminho, de vida. Dirige-lhes o apelo, a interpelação que João Batista e Jesus Cristo dirigiram aos seus ouvintes, a saber, a interpelação para a transformação do pensamento, da mente, do coração. Tratava-se de um apelo a retornar a Deus e de receber a grande graça de se tornar aquilo que somos, filhos dele. O apelo à penitência é o apelo a recuperar esta filiação divina, da qual nos perdemos, ao viver nossas vidas no esquecimento de Deus.
As palavras de Francisco eram pneumáticas, isto é, iluminadas e inflamadas no fogo do Espírito Santo! Por isso, elas não eram inanes, ocas, nem ridículas, mas palavras que mostravam de modo imediato e com grande evidência o esplendor do Evangelho de Jesus Cristo. Eram palavras imbuídas da força do Espírito e, por isso, penetravam até a medula do coração dos seus ouvintes, impelindo-os também à conversão.
O princípio, o meio e o fim da pregação de São Francisco se resumia numa única palavra: paz. O mensageiro de Jesus Cristo, o anunciador do Evangelho, é alguém que proclama a boa, a alegre mensagem, da paz. Nas suas palavras a paz era posta em obra. A saudação de Francisco soava: “O Senhor te dê a paz!”. Há paz, ali onde há liberdade. Há paz, ali onde vige a quietude, a tranquilidade, a calma, em que o ser, a vida, é abrigada, em sua essência, isto é, em seu pleno vigor, em sua saúde. Por isso, este voto de paz é uma saudação: algo que comunica saúde.
A Legenda fala de um “precursor” de São Francisco que andava por Assis saudando toda a gente deste modo: “paz e bem!”, “paz e bem!”. Como Jesus Cristo tivera em João Batista um precursor, entende-se que assim também São Francisco tivera um precursor naquele homem que saudava com esta saudação de “Paz e bem!” e que, depois, desaparecera. Precursor é aquele que vai à frente de alguém preparando-lhe os seus caminhos.
Voltemos a pensar na paz. Paz há ali onde há unidade. A paz é o estar recolhido num abrigo essencial, em que o ser, a vida, em seu pleno vigor, e a unidade, são resguardados. Paz e salvação andam juntas. Francisco, perpassado pelo espírito dos profetas... anunciava a paz, pregava a salvação. Salvação não quer dizer apenas escapar do perigo. Salvação quer dizer libertação para a liberdade. Quer dizer ser abrigado, protegido, no vigor pleno, essencial, da vida. Onde cresce a paz, cresce e floresce e frutifica o bem. O bem é o que é íntegro, isto é, o que é segundo o todo. O bem aparece na consumação de uma obra que deslancha, que vinga, que é feliz. Paz e bem acontecem numa unidade, quando a obra da vida do homem deslancha na libertação para a liberdade da verdade; quando ela é, sucede conforme sua vocação, quando ela é, se torna uma boa ventura e, assim, se faz feliz.
Essa mensagem de Paz e Bem, porém, não é apenas individual. Ela é também coletiva. Assim como os indivíduos, também as comunidades e os povos, carecem de trilhar um caminho que seja a realização de um projeto de paz e de bem. Ali onde a convivência humana é continuamente fraturada e exposta a ameaças de destruição, de aniquilação e de devastação, ali faz-se necessário ouvir sempre de novo a saudação e o anúncio da paz e do bem. É preciso tecer de novo as relações de modo que os tecidos das comunidades, das sociedades, dos povos, sejam reintegrados na força da paz e do bem. São Francisco, nas comunas e nas cidades aonde ele ia, sempre de novo, era um portador da paz, um artífice da paz, um homem que impelia seus próximos a se unirem na busca comum da paz e do bem. Que assim seja também conosco!
OUVIR E ANUNCIAR A BOA NOVA, HOJE
EVANGELIZADORES COM ESPÍRITO
Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo. No Pentecostes, o Espírito faz os Apóstolos saírem de si mesmos e transforma-os em anunciadores das maravilhas de Deus, que cada um começa a entender na própria língua. Além disso, o Espírito Santo infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo contracorrente. Invoquemo-Lo hoje, bem apoiados na oração, sem a qual toda a ação corre o risco de ficar vã e o anúncio, no fim de contas, carece de alma. Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus (Papa Francisco: EG 259).
Para pensar, conversar e comentar:
1. Como se concretiza a conversão evangélica de Francisco?
2. Com se relaciona a exortação do Papa Francisco com a pregação de Francisco?
Paz e Bem!
Fraternalmente,
Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes
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Professor Marcos Aurélio Fernandes
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