12º Encontro (24/04/21) - São Francisco, um convertido por excelência: Da conversão evangélica
- Frei
- 24 de abr. de 2021
- 5 min de leitura
4º Estágio - DA CONVERSÃO EVANGÉLICA
Introdução
Nos encontros anteriores, já assinalamos que o grande feito de Francisco, o maior e o principal de todos, é o de sua conversão. Vimos, também, que essa graça deu-se aos poucos. Pequenas conversões o levaram à culminância de uma conversão profunda e radical, nascida do encontro com Jesus Cristo crucificado, na igrejinha de São Damião. Por isso, denominamos essa conversão com este significativo título “Conversão crística”.
O encontro, em São Damião, com o Crucificado e sua Paixão, ferira de tal forma o coração de Francisco que chegava a chorar aos prantos e em alta voz (LTC 14). Perguntado, certa vez, porque fazia isso, respondeu: Choro a Paixão do meu Senhor, e por isso não deveria envergonhar-me de andar pelo mundo inteiro chorando em alta voz (Idem). A partir de então, Francisco não é mais o mesmo! Deixou de viver a vida de comerciante e de cavaleiro, enfim a vida do mundo, para viver a vida de Jesus Cristo crucificado.
Seguir, viver Jesus Cristo Crucificado, sua Paixão, passou a ser o seu Tudo, o amor, a paixão de sua vida. Por isso, pouco tempo depois, diante do povo e do pai, que queria arrastá-lo de volta para sua família, para o mundo, desnudou-se todo e devolveu todos os seus pertences ao pai. E, ato contínuo, confiando-se ao Bispo, exclama: Ouvi todos e entendei-me! Até agora chamei Pedro Bernardone de meu pai, mas, porque me propus servir a Deus... direi sempre ‘Pai Nosso que estais nos Céus (LTC 20).
Hoje veremos a última ou melhor a consumação de todas as suas conversões: a Conversão Evangélica.
1. O ENCONTRO COM O EVANGELHO
Francisco, agora, não apenas tinha certeza que sua vocação era seguir Jesus Cristo crucificado, mas, também, tomara a decisão de abandonar tudo para tão somente amá-Lo, segui-Lo. Mas, como? Primeiramente, pensou em viver como eremita. E isso ele de fato o fez por certo tempo. Mas, ainda não estava satisfeito. Sentia que lhe faltava algo: um novo caminho, uma vida que lhe proporcionasse imitar mais de perto Jesus Cristo crucificado. Essa graça lhe adveio pouco tempo depois.
Assim, certo dia, no Evangelho da Missa de São Matias, ouviu o que Jesus, no fim de sua vida, ordenara aos Apóstolos:
- que deviam ir pelo mundo para pregar o Reino de Deus e a penitência (Cf. 1C 22);
- que não deviam levar nada pelo caminho nem ouro nem prata nem sacola nem alforje nem pão nem bastão e nem tivessem calçados nem duas túnicas (Cf. LTC 25,2-7; 26,5; 27,1).
Imediatamente, entusiasmado no espírito de Deus, disse: É isto o que eu quero, é isto que procuro, é isto que eu desejo fazer com todas as fibras do meu coração (1C 22). E, como não era ouvinte surdo, mas cumpridor fiel da Palavra do seu Senhor, trata de pôr logo tudo em prática:
- grava na memória todas as coisas que ouvira e esforça-se alegremente por cumpri-las;
- larga as vestes duplas, o bastão, os calçados, a sacola e o alforje de eremita;
- faz para si uma túnica muito desprezível e tosca;
- lança fora a correia e toma como cinta uma corda;
- começa a fazer-se anunciador da perfeição evangélica e a pregar a paz e a penitência em público, com simplicidade e com toda a solicitude do coração, percorrendo povoados, castelos e cidades (Cf. LTC 25,4-6).
Estava consolidada, assim, a promessa do sonho de Espoleto que haveria de encontrar e servir um grande Senhor. Mas, agora, além de um novo Senhor, Jesus Cristo Crucificado, Francisco tinha, também, um novo caminho, uma nova vida, um nova missão: o caminho, a vida e a missão dos Apóstolos. Por isso, essa conversão, pode ser chamada, além de “Conversão evangélica”, “Conversão apostólica”.
Viver a vida dos Apóstolos significa desprender-se de tudo e de todos para, assim, livre, poder ir por todas as partes do mundo a fim de testemunhar Jesus Cristo crucificado pela palavra e pelo exemplo. Anunciar Jesus Cristo, pregar seu Evangelho era o fogo que ardia sem cessar no coração dos Apóstolos; um fogo que levou São Paulo a exclamar: Ai de mim se não evangelizar! (1Cor 9,16) Para mim viver é Cristo! (Fl 1,21).
Foi esse fogo, que ardia no coração do Apóstolos, que começou a incendiar o coração de Francisco. Por isso, a nova Vida que ele começou a perseguir era a Vida missionária dos Apóstolos, ou, simplesmente: a Vida Apostólica.
2. CONVERSÃO EVANGÉLICA HOJE
A conversão evangélica ou apostólica de Francisco foi uma sacudida na Igreja daquele tempo. Infelizmente, depois de alguns séculos, aos poucos, foi sendo esquecida em favor de uma conversão assentada na Moral, na Lei, na Doutrina e tradições da Igreja. Só a partir do Vaticano II é que a Igreja está redescobrindo que sua primeira missão é, a exemplo dos Apóstolos, anunciar a conversão a Jesus Cristo e seu Evangelho; revelar, pela Palavra, pelo testemunho e pela alegria que Ele é o Filho único que o Pai entregou para nós até a morte e morte de cruz; que seu Evangelho é a Boa Nova, o grande e o maior de todos os ensinamentos de Deus, escrito no coração de todos os homens. Eis o fogo que começou a crepitar no coração de Francisco!
Francisco voltou ao Evangelho. De certa forma ele ressuscitou a Vida, a Igreja dos Apóstolos. É o que também precisa fazer a Igreja de hoje. Por isso, nosso Papa Francisco nos exorta a que voltemos à doce e reconfortante alegria de evangelizar pelo testemunho e pela palavra. E, como pai, terno e atento, exorta todos os batizados que recordem as exigências do Batismo: que vivam uma conversão que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho (idem 14).
Mas, para isso é preciso que vivamos a característica essencial da conversão evangélico-apostólica: a alegria de ser uma igreja em “saída”. Por isso, a intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão «reveste essencialmente a forma de comunhão missionária (EG 23). Jesus Cristo saiu do Pai, os Apóstolos saíram mundo afora; Francisco renuncia sua família, sai de casa e vai pelas vilas e povoados anunciando a Paz e o Bem.
E, conclui nosso Papa: Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede. Mas, todos somos convidados a aceitar este chamado: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. (EG 20).
No momento atual não nos serve mais ser uma Igreja preocupada apenas em administrar e conservar seus tesouros espirituais. É preciso constituir-nos num estado permanente de missão em toda as regiões da terra (EG 25).
Conclusão:
Por tudo isso, sirva-nos como conclusão esta exortação do Papa Bento XVI em sua Exortação apostólica Verbum Domini. Primeiramente, recorda que, segundo São João, todos aqueles que, a exemplo de Maria, acolhem o Verbo, a Palavra que se encarna na natureza humana, tornam-se realmente “filhos de Deus” (Jo 1,12). E, então, comenta Bento XVI: Receber o Evangelho é deixar-se plasmar por Ele, para se tornar, pelo poder do Espírito Santo, conforme a Cristo, “ao Filho único que vem do Pai (Jo 1,14). É o início de uma nova criação: nasce a criatura nova, um povo novo (VD 50)
Para pensar, conversar e comentar:
1. Como se caracteriza a Conversão evangélica de Francisco?
2. A fala dos Papas Francisco e Bento XVI ajuda para compreender e assumir a conversão evangélico-apostólica? Sim? Não? Por quê?
Fraternalmente,
Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes
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