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10º Encontro (10/04/21) - São Francisco, um convertido por excelência - Da graça da visita e do ...

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    Frei
  • 10 de abr. de 2021
  • 8 min de leitura


3º Estágio - DA CONVERSÃO CRÍSTICA (continuação 1): DA GRAÇA DA VISITA

E DO ENCONTRO COM O CRUCIFICADO - COMEÇA A FLORESCER

A EXISTÊNCIA CRÍSTICA DE FRANCISCO



No 7º Encontro, refletimos o V capítulo da Legenda que trata do 3º estágio da conversão de Francisco, isto é, a Conversão crística. Depois, sentimos a necessidade de aprofundar a Conversão espiritual. Por isso, no 8º e no 9º Encontros, retomamos, respectivamente, os capítulos III e IV da Legenda que haviam sido deixados para trás. Assim, hoje, voltamos à Conversão crística, devotando-nos ao capítulo VI que trata das perseguições que Francisco começa a enfrentar. Atrás das perseguições, porém, pulsa uma outra realidade: a nova existência de Francisco, sua nova Forma de vida. Trata-se da existência que começa a esboçar-se a partir do encontro com o Crucificado de São Damião (Cf. LTC V), sobre o qual nós refletimos no 7º Encontro.


Aos poucos, dá para perceber uma semelhança muito estreita e clara com a Forma de vida dos Apóstolos. Como nesses, após a graça do encontro com o Ressuscitado, também Francisco está jubiloso por causa da graça da visão e do chamado do Crucificado; como aqueles, também Francisco começa a ser maltratado, injuriado e perseguido. Mas, como eles, também Francisco, movido pelo vigor da graça do encontro com Cristo Crucificado, levantou-se e, munindo-se com o sinal da Cruz, foi a Foligno a fim de vender e despojar-se de todos os seus pertences. Começa, assim, do mesmo modo como começaram os Apóstolos e como começou seu novo Senhor, o próprio Jesus Cristo. Também eles se despojaram de tudo. Já o Senhor foi até o extremo de despojar-se da glória (brilho) de sua divindade, fazendo-se semelhante aos homens e obedecendo ao Pai até à morte e morte de cruz (Fl 2,7-9). Tudo isso, tão somente para ter a alegria de ser um dos nossos, de poder vir e viver conosco e como nós, de poder dizer: “Eu também sou um humano como vocês!” Eis o princípio que dá origem a essa nova fase da vida de Francisco: o vigor da graça da visita, da afeição, do encontro com o Crucificado.


Tudo semelhante ao que acontecera outrora com Cristo e como Ele fez. Assim, como Jesus, após o Batismo, também Francisco, após aquele encontro, não pensa, não calcula, não planeja mais nada. Seu pensar, querer e amar, agora, é o pensar, o querer, o amar que vem da Paixão do seu novo Senhor. Por isso, aos olhos do mundo, principalmente do pai, parece um louco. E daí as perturbações e perseguições. Tudo como seu novo Mestre que, logo após o famoso encontro com o Pai, no rio Jordão, movido pelo vigor do Espírito, não voltou mais para casa e, por isso, começou a ser tentado pelo demônio e considerado louco e perseguido até mesmo pelos seus familiares e conterrâneos (Cf. Mc 3,21).


As perseguições, tanto em Jesus como em Francisco, para além dos fatos, são sinais do dedo de Deus, ou melhor, da dinâmica da natureza da existência crística que está começando a florescer. É da natureza da dinâmica do amor expulsar o desamor e que a pessoa que se sente amada experimente a necessidade de despojar-se de si e de tudo o que lhe pertence. Mas, como para essa obra corre o risco de enganar-se, ou de não se sentir capaz, o Senhor envia-lhe, como ajudantes, os perseguidores com suas tribulações e injúrias. É somente assim, despojando-se, que poderá criar espaço para aquele que a visita, a ama e com ela quer habitar e conviver.


Assim, é movido pelo vigor da graça da experiência de ter sido escolhido, amado, que Francisco se mune com o sinal da Cruz, isto é, com o sinal, o “sacramento” do amor daquele que o amou por primeiro. É como uma mãe que, para sustentar os filhos vai trabalhar fora. É capaz de suportar as piores adversidades porque vai munida, abastecida, voltada e virada para o amor de sua vida: a graça dos filhos, da maternidade.


Assim, à medida em que, ou quando, Francisco acolhe ou se deixa acolher pela graça do encontro com o Crucificado, ela, a graça, começa a realizar sua obra. De um lado estragos, derrubadas e morte de uma existência, de uma vida e, por outro, a floração de uma nova vida, de uma nova existência; pessoas que caem e se perdem e pessoas que se erguem e se salvam. De um lado os maus tratos, as tribulações, os obstáculos e de outro, ou melhor, no meio de tudo isso, a vigência e o crescimento do vigor, da afeição e da graça do seguimento, da vida de seu novo Senhor.


Francisco, assim, munido com o vigor da Paixão do seu novo Senhor, não precisa mais das armas do mundo que ainda carregava e vestia. Por isso, vai a Foligno onde se desfaz totalmente das antigas vestes e do cavalo. E, de imediato, retorna para fazer da capelinha de São Damião, a casa do seu novo Senhor, sua morada, sua casa, seu novo habitat; e do padre pobrezinho, representante de seu novo Senhor, faz o novo companheiro de sua nova vida e de sua nova batalha.


Mas, porque, então, diante das ameaças do pai, em vez de partir logo para a luta, se retira e se esconde numa caverna? A Legenda responde: porque ele era ainda um novel soldado de Cristo (LTC 16,9). Francisco está recém começando a reconstrução de sua nova vida, de sua nova existência, de sua nova pessoa. Ora, faz parte desta iniciação certo receio ou temor acerca de sua força para enfrentar as adversidades. Não se trata propriamente de medo, frouxidão, muito menos de fuga, mas de certa estratégia: a necessidade de construir a nova casa não sobre a fragilidade da areia movediça de sua subjetividade, mas sobre a rocha firme da graça de seu novo amor, de sua paixão: a Paixão de Cristo. Por isso, retirando-se para aquela caverna, orava sem cessar, isto é, procurava fortalecer-se, enchendo seu coração de amor e de paixão pelo seu novo Senhor; que ele, o Senhor, fosse sua força e assim, com seu benigno favor, pudesse levar a termo os piedosos desejos e propósitos que estavam apenas nascendo em seu coração!


Essa troca de identidade e a busca de munição, de forças para a luta vem assim descrita pela Legenda:


Assim, enquanto, com jejum e pranto suplicava fervorosa e assiduamente ao Senhor, desconfiando de sua força e habilidade, lançou totalmente sua esperança no Senhor, o qual — embora ele permanecesse nas trevas — o inundara de inefável alegria e ilustrara com admirável claridade. Dela, na verdade, todo inflamado, deixada a caverna, diligente, apressado e alegre, tomou o caminho de Assis. Munido com as armas da confiança de Cristo e abrasado pelo calor divino, censurando-se da preguiça e vão temor, expôs-se manifestamente às mãos e aos golpes dos perseguidores (LTC 17,1-3).


Francisco, agora, temperado cavaleiro do grande Rei, Jesus Cristo, através do rigor e da disciplina das lutas, travadas na caverna, pelo recolhimento e pela oração, volta para Assis, sua terra natal, para nascer de novo e assim dar início à sua nova existência de cavaleiro de seu novo Senhor. Por isso, segundo outras passagens das Fontes Franciscanas, Francisco e os futuros membros desta Ordem, posteriormente, chamar-se-ão de “cavaleiros”, “lutadores”, “servos” de Deus, ou os “penitentes” de Assis.


Só então é que Francisco se expõe abertamente às perseguições de seus conterrâneos e do próprio pai. A culminância desse enfrentamento se dá na famosa cena do despojamento quando Francisco diante do pai, do Bispo e de todo o povo, depois de desnudar-se todo inteiro, exclama: Ouvi todos e entendei-me! Até agora, chamei Pedro de Bernardone meu pai, mas porque me propus servir a Deus, devolvo-lhe o dinheiro, por cuja causa estava perturbado, e todas as vestes que obtive com seus bens, querendo sem demora dizer: Pai nosso que estás nos Céus e não pai Pedro de Bernardone (LTC 20,3-4).


Concomitantemente ao despojamento de Francisco, assistimos aqui, também, a uma verdadeira invasão de Deus no coração da família, “roubando-lhe” o que de mais sagrado possui neste mundo. É como se um raio caísse sobre a casa e a vida dos Bernardone, causando um corte radical, uma “separação” irreparável e uma “perda” irredutível. Realiza-se, assim, e cada vez de novo, o que Cristo proclama em seu Evangelho: Não penseis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, e sim a espada. Pois, vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. Os inimigos da gente são os da própria casa (Mt 10,34-37).


É por isso que agora, pela primeira vez, a Legenda diz que Francisco é de Deus: Homem de Deus (LTC 20,1). Não é mais nem dos pais, Pedro de Bernardone e dona Pica, nem da boemia jogralesca, nem do mundo, mas de Deus. E quem mais ajudou para isso, foi seu pai, com suas perseguições. Sem o querer ele foi realmente pai, pois ajudou seu filho a ser o que devia ser: filho de Deus, o Pai do Céu, fonte originária donde emergem ele mesmo, Francisco, seu pai, sua mãe e todas as demais criaturas. Francisco honrou o seu pai terreno, tendo a mesma firmeza de ânimo no ser-perseguido, como seu pai no ser-perseguidor. Em sua tenacidade mostrava-se que era filho de seu pai terreno. Mas em seu desprendimento, em seu despojamento, em sua pobreza, cordialidade, jovialidade, na doação de si, mostrava-se que era, como o Cristo, filho do “Pai nosso” que está nos céus.



HOJE, NO ESPELHO DE CRISTO CRUCIFICADO A DIGNIDADE DO HOMEM


Hoje, como em todas as épocas, pergunta-se: onde encontrar ou em quem se poderia ver e reconhecer um homem perfeito, feliz e realizado? São Francisco, reportando-se ao Evangelho, responde: Jesus Cristo crucificado, o mais belo dos filhos dos homens. Podemos citar aqui Santo Antônio: Em nenhum outro lugar o homem pode melhor dar-se conta do quanto ele vale do que olhando-se no espelho da cruz (Sermones Dominicales et Festivi III, pp. 213-214 em Benedetto XVI e San Francesco, Libreria Editrice Vaticana, a cura di Gianfranco Grieco, 2011, p. 210).


Referindo-se a esta passagem, diz nosso Papa emérito, Bento XVI: Meditando essas palavras, podemos compreender melhor a importância da imagem do crucifixo para a nossa cultura, para o nosso humanismo nascido da fé cristã. Justamente olhando para o crucifixo vemos, como diz Santo Antônio, quão grande é a dignidade humana e o valor do homem. Em nenhum outro ponto se pode compreender quanto valha o homem para que Deus mesmo nos faça tão importantes, nos veja tão importantes de sermos por Ele dignos de seu sofrimento. Assim, toda a dignidade humana aparece no espelho do crucifixo e o olhar para Ele será sempre fonte de reconhecimento da dignidade humana (idem). Assim, nesse espelho estamos frente a frente, cara a cara, olho no olho, com a mais alta, primeira e última vocação do homem: o máximo de empenho, até à morte e morte de cruz, para entrar em “comungação” com nossa nova origem, representada pela haste vertical, e em “comungação” com os outros homens, nossos irmãos e demais criaturas, representados pela haste horizontal.

Vale citar, também, o que diz o Papa Francisco acerca do vigor glorioso da Cruz. Sem ela podemos ser tudo: bispos, religiosos, papas, padres, mas jamais seguidores de Cristo, muito menos de Cristo pobre e crucificado (Cf. Homilia na santa Missa com os Cardeais, 14 de março de 2013).



Para pensar, conversar e compartilhar


1. Qual o sentido e o papel das adversidades e perseguições para o nascimento e florescimento da existência crística?

2. Como entender que a dignidade, a grandeza e a realização da existência humana estejam na crucificação?


Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes



Continue bebendo do espírito deste tema:


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