103º Encontro 24/06/23 19ª Admoest - Do humilde servo de Deus - 2ª parte
- Frei
- 22 de jun. de 2023
- 14 min de leitura
DO HUMILDE SERVO DE DEUS
Humildade como verdade do ser nada do humano: como servo,
medir-se com a mediada de Deus
Na Admoestação XIX, que se intitula com o mesmo título da Admoestação XVII, “Do humilde servo de Deus”, São Francisco diz:
1Bem-aventurado o servo que não se tem por melhor, quando é engrandecido e exaltado pelos homens do que quando é tido por vil, simples e desprezado. 2Porque, quanto é o homem diante de Deus, tanto é em si mesmo e nada mais. 3Ai daquele religioso que é enaltecido pelos outros e por própria vontade não quer descer. 4E bem-aventurado aquele servo (Mt 24,46) que não se enaltece por própria vontade e sempre deseja estar sob os pés dos outros.
Introdução
A humildade é no ânimo humano o vigor da pobreza de ser, a pobreza essencial, que o evangelho chama de pobreza de espírito. O mistério da encarnação é ali onde reluz essa pobreza de ser, própria da humildade. Virtudes como estas – tão desconsideradas por nós modernos e tão apreciadas por São Francisco – como pobreza, humildade e paciência, brotam, por sua vez, do amor-gratuidade, do amor-misericórdia, do amor-compaixão, que é o Amor de Deus, manifestado na Encarnação:
É ali, no ocultamento da Humildade, Paciência e Pobreza do Amor de Deus, o qual se faz continuamente Homem e habita entre nós, que nasce e cresce a flor de lis da nossa existência, o tesouro onde se acham o coração (Mt 6, 21) e a pupila dos olhos da espiritualidade franciscana (Mt 6, 22-23).
A humildade é a virtude que apareceu aos olhos humanos com a encarnação de Deus, com a sua humanidade. Por isso, só podemos intui-la plenamente, considerando o mistério da humanidade de Deus em Jesus Cristo.
1. Humildade, um vigor de ser, mais do que uma qualificação moral
Ao meditar sobre a Admoestação XVII, tivemos presente o seguinte: a humildade é o vigor de ser e a jovialidade de quem está assentado na verdade, isto é, na realidade. E ainda isto: a humildade é a possibilidade possibilitadora do seguimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado e crucificado, o Senhor-Servo de tudo e de todos. E anotávamos: possibilidade, enquanto possibilitadora, quer dizer o mesmo que capacidade. Com outras palavras, humildade é o poder que nos capacita, isto é, nos dá vigor no seguimento de Jesus [1]. Entretanto, este poder é, na humildade, inocente, nada de dominação, mas um poder-servir, precisamente, é o poder-servir que emana do amor-gratuidade. Por isso, Max Scheler diz:
A humildade (Humilitas) é o pulsar interno e duradouro da disposição espiritual para o servir, no centro de nossa existência, da disposição para servir a todas as coisas, às boas e más, às belas e feias, às vivas e mortas. Ela é o esboço psíquico interno de um grande movimento cristão-divino, no seio do qual voluntariamente se entrega à sua grandeza e majestade que convém ao homem; e isto para que todo homem e toda criatura se tornem servos livres e bem-aventurados [2].
A humildade é uma virtude profunda, abissal, por ser uma virtude ontológica, isto é, um vigor de ser, mais do que uma qualificação moral. O oposto da humildade também é profundo – traz em si a profundidade e a abissalidade do mal: a soberba. Este é um vício que atinge as raízes do ser e, por isso, é aniquilador do ser, diabólico, infernal. Por isso, não devemos confundir humildade e soberba com modéstia e orgulho. Estes, isto é, a modéstia e o orgulho, são atitudes superficiais, são um bem e um mal mesquinhos, que concernem apenas às aparências sociais. Não comprometem nossa relação com o todo do real, das realizações, com a realidade pura e simples.
Há um orgulho natural, que consiste na aspiração a e no deleite com o vigor ou a plenitude de vida que se manifestam na beleza, na posse de bens, no prestígio social, que concernem a si próprio ou a outros mais próximos: familiares, amigos, correligionários, compatriotas, etc. Todos estes bens, porém, são exteriores. São aparências no mundo do convívio social, público. Com este orgulho, a partir da tirania do eu, pode crescer uma certa vaidade. Esta, a vaidade, é o brilho de um fogo fátuo, de uma luz artificial, fria. É um certo vazio, mais precisamente, o vazio de um oco, algo de uma inanição. Entretanto, a vaidade é apenas ridícula e antipática. A soberba, não, mas é um vício mais danoso e profundo. O vaidoso é superficial. Tentando ser incomum, permanece ainda mais comum. Por isso, merece apenas o riso daqueles que descobrem o seu ridículo. Muitas vezes, porém, para não cair no ridículo, os humanos orgulhosos e vaidosos cultivam a modéstia. Max Scheler faz notar o seguinte:
A prevenção da vergonha diante de se colocar como foco de um ponto de vista. sob secreta adoção de critérios de valor que o orgulho a priori despreza - a vergonha que tenta esconder agora uma propensão já vista - é denominada por nós como modéstia. Esta virtude é tão rasteira quanto o vício que ela nega. Pois ela é apenas um apostar corrida entre vaidade e vergonha, no qual a vergonha triunfa. Ela se movimenta totalmente na esfera do social, e, já por isso, não se deveria confundi-la com a humildade que aponta para o mundo [3].
A soberba é um mal mais radical e profundo do que a vaidade do orgulho. Do mesmo modo, a humildade é uma virtude mais radical e profunda do que a vergonha da modéstia. Na verdade, a soberba é a raiz e o fundamento de todo o mal, isto é, de todo o pecado e vício, e a humildade é a raiz e o fundamento de todo o bem, isto é, de toda a obediência e virtude. Ambos, soberba e humildade, comprometem a nossa relação com o todo de tudo quanto há, de tudo quanto é, com o ser na sua amplidão, isto é, com o mundo, com o ser na sua profundidade abissal, isto é, com a alma, e com o ser na sua criatividade originária, isto é, com Deus. A soberba é diabólica. É a partir dela que o anjo se torna diabo, isto é, o anti-Deus, o seu adversário, que se intromete na criação com a força do nada corruptor e aniquilador, que sugere aos humanos a rebelião contra o reino de Deus, que é o reino do amor e da humildade. É o que obscurece a criação. É o que faz precipitar as estrelas do céu, isto é, os espíritos cintilantes. É o que introduz o mal, na forma de uma individuação que, sob o pretexto da independência, se torna isolamento. Tal independência da soberba se torna, assim, uma cisão que corta todos os fios vitais, que nos ligam a Deus, nosso Pai, e às criaturas todas, nossas irmãs. A soberba nos torna desertores do reino de Deus, que é o reino do amor, da fraternidade. A soberba é, assim, a queda para a ruina, para o nada abissal do mal. Só que o soberbo se engana a si mesmo e toma esta queda como ascensão, como elevação, como exaltação. Essa exaltação falsa, porém, é, já, rebaixamento, anulação do vigor de ser e da vida em nós.
2. Soberba, inimiga número um da humildade
A admoestação de São Francisco nos põe em vigilância contra o engrandecimento e a exaltação que os outros fazem de nós, pois esta pode servir de ocasião para que nós deixemos entrar em nossos corações o veneno da soberba. Fazemos, então, dos louvores humanos a nós ocasiões para incubar os ovos da serpente.
A primeira epístola de João (1 Jo 2, 15-17) nos lembra, com efeito, que “tudo o que há no mundo”, ou seja, na esfera da oposição humana ao Reino de Deus, é a concupiscência da carne (epithymia tês sarkós), a concupiscência dos olhos (epithymia tôn ophtalmôn), e a soberba da vida (alazonéia tou bíou). Santo Agostinho, comentando esta passagem, a caracteriza como formas de “defluxus”, isto é, modos de a vida humana defluir, ou seja, escorrer para baixo, ir à deriva, cair, perder-se. No livro X das suas Confissões, Agostinho se põe a meditar sobre este fenômeno da soberba da vida. É um engrandecimento aparente, um exaltar-se que dissimula uma queda arruinadora da vida.
No comportamento da soberba, o cuidado da vida se caracteriza como um aspirar a ser temido e amado pelos outros. O soberbo, ao aspirar ser temido, quer pôr-se acima dos outros e impor-se aos outros. Ao ambicionar ser amado, quer ser tido por valoroso. Tal ambição, porém, esconde uma falta, uma carência, do eu. Esta carência, porém, fica dissimulada. No querer ser temido e amado pelos outros acaba acontecendo um automascaramento da vida. O que parece ser uma projeção de si e um envolvimento com os outros acaba escondendo uma fuga de si e dos outros. Fuga de si, pois o soberbo foge do seu próprio oco interior. Fuga dos outros, pois, para ser, por exemplo, amado pelos outros, ele prefere evitar as confrontações necessárias e salutares com eles.
O amor ao louvor humano é outro traço deste comportamento. Mas, na verdade, os louvores são como que “fornalhas”, onde, quotidianamente, somos postos à prova. Quando nos empenhamos em alguma obra, nos condicionamos, muitas vezes, ao louvor e ao vitupério. Nosso gosto por aquele empenho costuma aumentar, quando somos louvados por ele; e diminuir, quando somos por ele vituperados, ou, para falar na linguagem da Admoestação de São Francisco, quando somos tidos por vis, simples e desprezíveis. O soberbo parece rico e exuberante, mas, na busca do louvor, vive mendigando os votos e os pareceres alheios.
Mesmo quando alguém luta contra a soberba, a vitória sobre ela pode ser uma outra ocasião de queda: a da vanglória provinda da autossuficiência. A autoexaltação pelo valor moral próprio, pela própria “justiça”, já é também uma queda. É a queda do anjo que se torna diabo, queda que é continuamente imitada pelos fariseus, queda que o cristianismo denunciou na autossuficiência ética dos estoicos e que condenou no pelagianismo, independência e autossuficiência que pretende dispensar a graça divina. O soberbo, nesta situação, toma a si mesmo como valoroso do ponto de vista moral (“justo”). Ressalta o mérito das próprias ações e não a graça divina. Facilmente esta atitude resvala para a hipocrisia, a dissimulação que prefere parecer justo que em ser justo. O soberbo prefere ser louvado na mentira do que ser desprezado na verdade. A glória deflui na vanglória. Paradoxalmente, o soberbo acaba dependendo da aprovação do olhar dos outros, do público, e seu viver se torna oscilante, inseguro e inconstante.
Um terceiro traço da soberba é o egoísmo. Aqui se trata não tanto de agradar aos outros, mas de agradar a si mesmo. O soberbo pretende, neste sentido, aparecer como importante aos seus próprios olhos. Ele atribui a si mesmo o próprio bem. Compraz-se, deleita-se, com seu próprio valor, com suas próprias capacidades e possibilidades, e, assim, se fecha em sua própria autossuficiência, em detrimento dos outros. Ele se torna cego para a gratuidade. Faz-se a si mesmo fonte e medida do bem. Entristece-se com o bem que é dito e feito por meio do outro.
Face a esta ameaça radical do mal na soberba, todo ser considerado como vil, simples e desprezível, acaba vindo como oportunidade de uma recondução de si ao chão, ao fundamento da humildade. O humilde, assim indica São Francisco, não se tem por melhor quando é engrandecido e exaltado pelos homens, do que quando é tido por vil, simples e desprezível. O engrandecimento e a exaltação humana não o infla. O desprezo alheio não o insulta. Ele se atém ao que diz São Francisco: “quanto é o homem em face de Deus, tanto é e não mais”.
3. Servo, em São Francisco, nasce de Deus
São Francisco fala do “humilde servo de Deus”. O discípulo de Jesus Cristo, o Servo de Deus por antonomásia, está posto na mesma condição em que está posto o Mestre. Ser servo é, aqui, uma categoria religiosa e não social. O ser constituído como servo, neste sentido, nasce do encontro com Deus e da afeição, que é dom deste encontro. Deus, o Senhor, aqui, porém, é o servo de tudo e de todos. Ele serve a todas as criaturas como o pai de todos e de tudo. É humilde. Lembremos o que disse Scheler que, ao exibir sua indicação de o que é a humildade, a vincula essencialmente ao servir: “A humildade (Humilitas) é o pulsar interno e duradouro da disposição espiritual para o servir, no centro de nossa existência, da disposição para servir a todas as coisas, às boas e más, às belas e feias, às vivas e mortas”.
O servo de Deus é, neste sentido, humilde e essa humildade nasce do amor e da admiração para o modo de ser do Pai, revelado por Jesus Cristo. Frei Harada esclarece:
No encontro de amor com o Senhor, o Senhor se torna sempre mais um absoluto, fazendo com que o servo esteja sempre diante do seu Senhor em atitude de adoração e simpatia. Todo e qualquer momento da vida tem valor se for cada vez mais aproximação do Senhor que é Servo dos Servos. Assim, se os outros nos colocam no alto, eu, por estar na busca do Senhor que é servo, me coloco embaixo. Ser servo portanto indica um valor: a vontade, a busca de "ser servo", como elemento fundamental para a felicidade. É essencial para a aventura humana bem sucedida querer mesmo, como valor, colocar-se embaixo, ser servo.
O servo de Deus sabe-se criatura. Ser criatura significa nada ser. Só ser por graça de outro. Ele não quer ser algo, nem alguém. Como a rosa de Silesius, ele não olha para si mesmo, nem pergunta se alguém o vê. Ele sabe que todo o ser e todo o bem que o constitui e que passa nele e através dele para o mundo, tem sua fonte não nele, mas no seu Criador, no Deus uno e trino: Pai e Filho e Espírito Santo. Ele sabe que este Deus é um Deus que se condescende, que se inclina, se abaixa e se rebaixa para servir às suas crias, aos seus filhos e filhas. Ele se mira na excelência e na nobreza desse Senhor que serve a tudo e a todos. Do Pai que ama com entranhada misericórdia e compaixão, do Filho que se encarna e que sofre a paixão da Cruz para dizer o sim definitivo do amor de Deus por nós, do Espírito Santo, que é sopro do amor-gratuidade, que dá vida e luz a todos. Humildade é o movimento de autorrebaixamento daquele que é nobre como Deus. Só o nobre pode ser humilde. O mesquinho, o miserável, é soberbo. Toda a soberba é expressão de miséria do espírito. Toda a humildade é expressão de nobreza do espírito. Esta é o movimento que vem do alto e de quem nasce do alto. O humilde servo de Deus ama este rebaixamento. Deus ama a criatura. O céu ama a terra. O humilde segue este movimento. A humildade é, diz Max Scheler, “um contínuo se enxergar ‘em Deus’ e por intermédio do ‘olhar de Deus’, um verdadeiro ‘viandar sob os olhos do Senhor’” [4].
O servo de Deus humilde vive sob a exigência absoluta do amor absoluto. A humildade é, no fim das contas, uma modalidade do amor-gratuidade que serve. A amor, lembremos o hino de Paulo, não se ensoberbece: é sempre humilde.
Só quem tem sua origem no alto e vive desde o alto pode amar o inclinar-se, o abaixar-se e rebaixar-se. O nobre não conhece a autoafirmação mesquinha. Ele caminha pela via da abnegação e da renúncia. A abnegação não é mera denegação. É uma negação criativa, que se abre para algo maior. A renúncia não é mera abdicação. É um anúncio de uma possibilidade mais agraciada. Ele se perde a si mesmo e a si mesmo se recupera em Deus. Ouçamos novamente São Francisco, que diz:
3Ai daquele religioso que é enaltecido pelos outros e por própria vontade não quer descer. 4E bem-aventurado aquele servo (Mt 24,46) que não se enaltece por própria vontade e sempre deseja estar sob os pés dos outros.
O comprazer-se com o enaltecimento alheio ou o autoenaltecimento baseia-se na vaidade, isto é, na autoestima oca, vazia. O vaidoso não conhece a verdadeira grandeza humana, que consiste na humildade. Diz frei Harada:
Somos muito sensíveis a tudo que nos afirma, nos promove, nos enaltece. Chamamos isso de autoestima. Sem dúvida há uma autoestima saudável, mas a maioria das vezes, por trás dela há a busca de uma autoafirmação simplesmente mesquinha, que afasta de Deus, dos outros e da verdade de nós mesmos. A coisa mais importante, porém, que podemos e devemos fazer na vida é buscar limar continuamente a nós mesmos para nos colocar na posição de servo, pois Jesus Cristo nos revelou que nisso está a grandeza humana verdadeira. Mas isso não acontece sem luta, porque somos que nem o nosso corpo quando mergulhamos: tende sempre a boiar; nós sempre procuramos nos enaltecer. Somente puxando para baixo, aproveitando das ocasiões que a vida nos oferece abundantemente, somente fazendo assim talvez alcancemos um pouco de profundidade humana e religiosa. Longe de masoquismo ou de "penitências", num exercício de luta corpo a corpo, começaremos a sentir, se estivermos livres do eu, que nós somos aquilo que somos diante de Deus e nada mais.
A auto-humilhação muitas vezes redunda em autoexaltação do eu que se rebaixa. Em contrapartida, a vida real mesma colabora conosco para que nós nos humilhemos. Humilhar-se quer dizer, aqui, “cair na real”, pisar o chão da realidade, da verdade. Este é o lugar do humilde: na realidade terra-a-terra da vida. O humilde ama o sentido da terra.
São Francisco diz que o humilde servo de Deus “deseja estar sob os pés dos outros”. Estar sob os pés dos outros significa ser como a terra, que a todos ampara, sustenta, sem querer aparecer. Sendo nobre, faz-se passar por vil, permanece retraída, inaparente. A medida do servo de Deus humilde não é dada pelos outros nem por si mesmo. Mesmo tendo sido enaltecido pelos outros, ele “ está sempre à procura da medida de Deus, medida manifestada em Nosso Senhor; por isso se preocupa antes em manter a si mesmo no caminho do Senhor, seguido seus passos de servo humilde”.
A humilhação do “estar sob os pés dos outros” não vem de uma atitude ressentida. A propósito, frei Harada diz:
Se "estar debaixo dos pés dos outros" for aturação, ou falsa humildade, dá ressentimento. Mas se for clarividência, mostra até que ponto Deus é humilde e até que ponto nós podemos sê-lo também.
Colocar-se debaixo é, por ex., lutar para que aconteça o melhor, mas esperar pelo pior... Enquanto nossa tendência é buscar de ficar por cima, Francisco diz: "Vamos ficar em baixo". Não serve dizer: "Não precisa exagerar; humildade sim, mas nem tanto; vamos ter bom senso!". São Francisco diria: "Você está se enganando; você é vaidoso; você está se satisfazendo. Se quiser ficar nesse nível, tudo bem, mas se quiser experimentar Deus mesmo, no duro, nesse nível não vai longe, porque no fundo você está agradando a si mesmo. Ainda não entendeu realmente que Deus é tudo".
Mas por que São Francisco quer acabar embaixo dos pés dos outros? Ele quer ter um coração tão vasto quanto Deus, para sustentar todos os acontecimentos da vida. Fazemos muita aturação no nosso cotidiano; necessitamos demais desta nova compreensão "franciscana" e ver nela algo altamente positivo, uma maneira nova de ver o todo. A nossa espiritualidade usual de "sacrificar-se" não é lá muito cristã. São Francisco não tem muito de sacrificar-se, mas tem muito sacrifício como oblação, como fazer sagrado: "O melhor que tenho te dou, Senhor". Dizer: "Senhor, já que tu queres, faço", é diferente de dizer: "Senhor, é uma honra te servir, o melhor que sou e tenho te dou".
Conclusão
A humildade é, assim, a verdadeira grandeza e nobreza do ser humano. O servo de Deus humilde é o “homem nobre”. Amar-servir é honra, não desonra. Quem está tocado pelo amor e segue a sua afeição serve e faz do servir a sua própria glória. Não será por isso que Jesus Cristo, no evangelho de João, chama o momento de sua morte na cruz de glorificação?
[1] Cf. Harada, frei Hermógenes. Em Comentando I Fioretti: reflexões franciscanas intempestivas. Bragança Paulista / Curitiba: EDUSF / Faculdade de filosofia São Boaventura, 2003, p. 119-120. [2]Scheler, Max. Da reviravolta dos valores. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 23. [3] Scheler, Max. Da reviravolta dos valores. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 26. [4] Scheler, Max. Da reviravolta dos valores. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 27.
Para pensar e partilhar:
1. Para qual paisagem da existência humana nos conduz a Admoestação de São Francisco “Do humilde servo de Deus”?
2. Qual a inimiga número um da Humildade? Por quê?
Paz e Bem!
Fraternalmente,
Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes
Continue bebendo do espírito deste tema:
- indo ao texto-fonte: 103º Encontro - 19ª Admoestação - Do humilde
servo do Deus - 2ª parte - Humildade como verdade do ser nada do humano: como servo, medir-se com a mediada de Deus
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Do humilde servo do Deus - 2ª parte - Humildade como verdade do ser nada do humano: como servo, medir-se com a mediada de Deus
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