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101º Encontro 03/06/23 18ª Admoest - Da compaixão do Próximo - 2ª parte

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    Frei
  • 5 de jun. de 2023
  • 13 min de leitura




DA COMPAIXÃO DO PRÓXIMO


Na pobreza do amor-caridade, con-sofrer os males do próximo

e devolver os bens ao Senhor



O tema da Admoestação XVIII, que abordamos na última reflexão, é de tanta elevação e importância que merece ser visto e pensado de novo. Francisco diz assim:


1Bem-aventurado o homem que suporta o próximo segundo sua fragilidade naquilo que quereria ser suportado por ele, se estivesse em idêntica situação. 2”Bem-aventurado o servo que devolve todos os bens ao Senhor Deus” (Cf. Tb 13,12), porque quem retiver algo para si, esconde em si “a riqueza do Senhor seu (Mt 25,18) Deus e o que julgava ter, ser-lhe-á tomado (Lc 8,18).



Introdução


Na Admoestação XVII refletimos a humildade como traço essencial do amor-caridade. A caridade não se ensoberbece. Ela é humilde. A Admoestação XVIII nos leva a meditar o amor-humilde que se apresenta sob a forma da virtude da compaixão.


Entretanto, é preciso tentar compreender bem o que é e como é, na experiência do seguimento de Jesus Cristo, a compaixão. Ela é, como a humildade, uma virtude, isto é, um vigor de ser, uma potência, ou seja, uma possibilidade possibilitadora, uma capacidade de ser. É a plenitude de vigor de vida, de força vital.



1. Em vez de amar, uma camuflagem da busca de si mesmo


Entretanto, muitas vezes nosso modo de pensar e de vivenciar o amor-compaixão não traz o caráter de plenitude de doação e de experiência criadora. É digno de atenção o discurso que Nietzsche traz à fala no seu “Assim falava Zaratustra”. No capítulo que trata “Do amor ao próximo”, ele denuncia no amor ao próximo usual nosso um vício, isto é, não uma potencialização da vida, mas, sim, um seu enfraquecimento. Ali Zaratustra diz: “o vosso amor do próximo é o vosso ruim amor por vós mesmos. Vós fugis rumo ao próximo, fugindo de vós mesmos, e disso quereríeis fazer uma virtude”. Com outras palavras, aqui, a busca do próximo que tem o nome de amor ao próximo é, no fundo, a camuflada busca de si mesmo. Só que esta busca de si mesmo não se realiza num autêntico amor próprio, e sim num amor de si que quer usar do próximo para preencher o próprio vazio interior. Comentando este capítulo a respeito desta crítica de Nietzsche ao amor ao próximo, frei Hermógenes Harada diz:


É a busca do prolongamento de si mesmo, busca que parte de si e tende a preencher a lacuna de privação que se abre em meu interior. Por falta de consistência interior, por me faltar a plenitude dadivosa do meu eu mesmo (self), busco o meu eu no tu, transformando o tu em função de mim, em prolongamento de mim mesmo.


Ainda na obra “Assim falava Zaratustra” há um capítulo que fala contra os compassivos. A crítica que ali é feita à compaixão dá a pensar. Segundo Nietzsche o que comumente nós chamamos de compaixão falta o pudor, o recato da vida. Nossa compaixão usual é despudorada, desavergonhada. Ela devassa o mistério da vida para dominá-lo. E essa dominação despudorada aborda e ataca o mistério da vida naquilo que ela tem de mais recatado: no sofrimento, na dor. Neste caso, aquele que se toma a si mesmo como compassivo não tem a vergonha de se apresentar como tal, como benfeitor dos seres humanos, como misericordioso. Ele tem prazer em aparecer como compassivo. Daí a fala de Zaratustra: “De verdade, não os suporto, os misericordiosos, que são felizes na compaixão deles: falta-lhes demais a vergonha. Se não posso não ser compassivo, não quero, entretanto, que me chamem assim; e mesmo quando eu sou, prefiro ser de longe”.


Em um texto sobre “a moral cristã e o ressentimento”, Max Scheler responde enfrentando a suspeita ou mesmo a denúncia do amor cristão como “a florescência mais sutil do ressentimento”. A palavra “ressentimento” é um termo técnico, uma categoria, no pensamento de Nietzsche. Segundo ele, o ressentimento traz algo de hostilidade, de um ódio e de uma zanga retida, reprimida. Na obra “A genealogia da moral”, Nietzsche acusa o amor cristão de ter nascido do tronco do ressentimento, isto é, do espirito de vingança e do ódio do povo de Israel. Na moral cristã, que seria uma moral dos fracos e não dos fortes, dos vis e não dos nobres, a ação nasceria de uma reação, de uma hostilidade à vida. Ela seria incapaz de dizer sim à vida.



2. Encarnação e cruz, obra da superabundância do Amor-Doação que é Deus


Ora, o Deus de Jesus Cristo não é assim. Na mensagem de Jesus Cristo o movimento que caracteriza o amor se inverte. O mais alto, na sua nobreza, desce ao mais baixo. Ele se condescende. A encarnação e a cruz são obra da condescendência do Deus nobre e rico em misericórdia (os padres da Igreja falavam dessa synkatábasis – condescendência). Ele não teme perder algo de sua riqueza ao descer à nossa indigência e miséria e ao vir em nosso socorro.


Deus desceu espontaneamente aos homens e tornou-se um servo morrendo na cruz a morte do pior dos servos! Com isso, esta frase se torna sem sentido: deve-se amar os bons e odiar os maus, amar o amigo e odiar o inimigo. Não existe mais nenhuma ideia de um "bem mais elevado", que teria um conteúdo para além e independente do ato de amor mesmo, bem como de seu movimento. O próprio amor é a melhor de todas as coisas boas! Não uma coisa de valor, mas um ato de valor. O próprio valor do amor enquanto amor é o summum bonum agora: não enquanto o que ele efetua e realiza, mas de modo a que toda a realização tenha valor apenas enquanto símbolo, fundamentos do conhecimento do seu ser na pessoa [1].


O poder de um Deus amor não é menor quando ele mostra misericórdia, condescendência, compaixão, a partir de seu amor gratuito. Este amor não nasce da carência, da privação, mas nasce da sua superabundância, da superfluência de seu vigor de ser, de sua nobreza. É uma virtude dadivosa. O amor agora é um movimento de quem se curva e auxilia. “O curvar-se diante dos pequenos e fracos é um superfluir espontâneo das forças, acompanhado de ventura e paz interna” [2]. O próprio sacrifício da vida não nasce do ódio à vida, mas nasce de uma superabundância da própria vida que se oferece.


Assim, a compaixão de Jesus e a compaixão dos discípulos de Jesus, à medida que nasce da sintonia e da simpatia com o mestre, não é algo que nasce do ressentimento, pelo contrário, nasce de uma superfluência do vigor de viver.


A Admoestação XVIII aponta nesta direção. Primeiramente, São Francisco diz: 1Bem-aventurado o homem que suporta o próximo segundo sua fragilidade naquilo que quereria ser suportado por ele, se estivesse em idêntica situação”.


De novo, o dito do Pobrezinho de Assis começa com a expressão “bem-aventurado”. Bem-aventurança não é a felicidade no sentido de um sentimento momentâneo de alegria, de satisfação ou de prazer. Bem-aventurança é felicidade no sentido da consumação de um caminho historial de vida. Por isso, sua destinação é uma questão de exercício de uma constante libertação para a liberdade da verdade e para a verdade da liberdade. O compassivo é, dirá São Francisco, alguém que consuma de modo feliz o seu próprio ser, o próprio projeto de sua existência, alguém que responde bem à tarefa de se tornar o ser humano que ele é. Toda a vida humana está sob a determinação de um chamado para ser, isto é, de uma vocação e uma convocação para o bem-viver, no exercício da responsabilidade, de uma liberdade não só negativa, liberdade-de, mas sobretudo de uma liberdade positiva, liberdade-para.



3. O outro, um dom do Senhor


Um dos grandes desafios do viver humano é a convivência. A vida humana é sempre o exercício de conviver, de ser-com-os-outros, numa pluralidade. Na ótica de Jesus, o outro aparece como e é um dom de Deus. Trata-se do outro real, não do outro ideal. O modo de amar é, aqui, humilde, isto é, realista, pé no chão. Não se trata do outro dos nossos sonhos, como desejamos que ele fosse, mas do outro como ele é, com sua fragilidade, com sua miséria, com seu pecado. Este outro assim dado a mim na convivência é um dom e uma tarefa que me incumbe, uma interpelação eu uma convocação à responsabilização no amor.


Esse outro não é aquele que vai satisfazer o meu desejo de uma comunhão que preencha meu vazio. Nessa comunhão, o forte não sujeita o fraco, com seu poder e influência, demandando dele a submissão pura e simples, com o autoritarismo explícito, ou então, a submissão sutil, com o autoritarismo dissimulado, por meio da admiração e da veneração. O amor-gratuidade não domina o outro, ele serve ao outro. Amar o outro é, aqui, servi-lo segundo a verdade. Por isso o outro não é para ser configurado segundo minha imagem. Ele é alguém que pode livremente desdobrar o seu poder-se, deixando aparecer a imagem de Deus em si. Bonhoeffer dizia: “não posso nunca saber antecipadamente como resulta a imagem de Deus no outro, mas, seja como for, se trata sempre de algo de novo, de uma figura que se funda sobre a livre criação de Deus” [3].

O discípulo de Jesus se põe como menor face aos outros. Ele se considera a si mesmo o maior dos pecadores. São Francisco assim se tomava. Também a “Imitação de Cristo”, de Tomás de Kempis, insiste nisso. Mas esta atitude não nasce de um complexo de inferioridade face aos outros. O complexo de inferioridade é um complexo de superioridade invertido. É soberba retida e reprimida que retorna camuflada. No realismo da humildade, o discípulo de Jesus se toma a si mesmo como aquilo que ele é: como nada. É nada, antes de tudo, por ser criatura. Tudo o que a criatura é, tudo que ela tem de ser, ela recebeu do criador. É nada, também, no sentido de ser pecador. O pecado, com efeito, é um nada. Não é um nada criativo, mas um nada destrutivo. Por sermos pecadores, nós já sempre compactuamos com o nada aniquilador. E, por isso, não temos o direito de nos gloriarmos de qualquer bem que Deus diz e opera em nós e através de nós. O que nos é próprio é o nada do pecado. Enquanto somos e na medida em que somos pecadores, somos nada. São Paulo mesmo (1Tm 1, 15) se teve a si mesmo como o maior dos pecadores.



4. Servir o outro é sustentá-lo, carregando seu peso


O serviço ao outro consiste em ser sustentação para o outro. São Francisco fala, nesta Admoestação XVIII, de o homem ser capaz de sustentar o próximo segundo as fragilidades nele, tal como ele mesmo quereria ser sustentado por ele, se estivesse em um caso semelhante. São Paulo escrevia aos Gálatas: “Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis perfeitamente a lei de Cristo” (Gal 6, 2). A propósito disso, D. Bonhoeffer diz:


"Carregai o peso uns dos outros, e assim cumprireis a Lei de Cristo" (Gálatas 6.2). Portanto, a lei de Cristo e carregar pesos. Carregar é sofrer. O irmão é um fardo para o cristão, justamente para o cristão. Para o pagão, o outro nem chega a se tomar um fardo. Ele evita qualquer encargo por causa dele, porém, o cristão tem que carregar o fardo do irmão. Tem que suportar o irmão. O outro só será irmão quando se tornar um fardo, e só então deixará de ser objeto dominado. Tão pesado foi o fardo da humanidade ao próprio Deus que sob seu peso acabou na cruz. No corpo de Jesus Cristo, Deus de fato foi afligido pela humanidade. Carregou-a, porém, como a mãe leva uma criança, como o pastor põe no ombro a ovelha perdida. Deus aceitou os seres humanos e eles o esmagaram. Deus, porém, ficou com eles, e eles com Deus. Suportando as pessoas, Deus manteve comunhão com elas. Essa é a lei de Cristo cumprida na cruz. Os cristãos tomam parte nessa lei. Devem suportar e carregar o irmão e, o que é mais importante, agora podem suportá-lo sob a lei de Cristo cumprida.


Amar é dar ao outro o que não temos. Isto significa: é dar ao outro o poder ser outro em sua liberdade. Por isso, carregar o fardo do outro é deixar ser a liberdade do outro. Bonhoeffer, a propósito, diz:


Levar o fardo do outro significa aqui suportar a realidade do outro em sua condição de criatura, aceita-la, e, sofrendo-a, chegar ao ponto de alegrar-se com ela [4].


Nesta comunhão de vida no amor-gratuidade, o relacionamento entre fortes e fracos na fé não é de dominação por parte dos fortes nem de ressentimento por parte dos fracos. O que se impõe é a mútua paciência:


Especialmente difícil é quando fortes e fracos na fé estão unidos na mesma comunidade. O fraco não julgue o forte; o forte não despreze o fraco. O fraco que se guarde da arrogância; o forte que se cuide da indiferença. Nenhum deles busque o seu próprio direito. Se cair o forte, previna o fraco seu coração contra a satisfação maldosa; se cair o fraco, ajude-lhe o forte a erguer-se. Um precisa da mesma paciência que o outro. "Porque se caem, um levanta o outro; mas o que será de alguém que cai sem ter um companheiro para levantá-lo?" (Eclesiastes 4.10)... [5]


Suportar o outro em sua liberdade também implica em suportar o abuso dessa liberdade por parte do outro, ou seja, o pecado. Pecar é, com efeito, não o uso apropriado da liberdade. É o abuso da liberdade. Pecar é usar a liberdade para anular a liberdade. É um modo de pôr o ato livre que trai a dinâmica de libertação para a liberdade da verdade e do bem. Suportar o outro segundo a sua fragilidade nele também implica em suportar o outro em seu pecado.


São Francisco fala não somente de suportar o próximo segundo a fragilidade nele. Diz também que este suportar deve ser de tal modo que o homem que se põe nesta atitude coloca como medida e como modo de sustentação para o outro a medida e o modo que ele quereria receber do outro, se fosse ele quem devesse ser suportado. A respeito disso, frei Harada comentava:


São Francisco está comentando a frase de Jesus: "Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles" (Mt 7,12). O que tem de in­teressante essa frase? São Francisco, sempre que faz referência ao outro, di­verge de nós; dá a impressão que para ele o outro é sempre prolongamento nosso, como se fosse irmão siamês; o irmão siamês tem sempre, em tudo um companheiro chato, mas os dois são uma coisa só; um é prolongamento do outro. Então no fundo tudo o que quero fazer para mim o faço a ele, porque tudo o que fizer ou não fizer, volta para mim; tento evitar o mal porque o mal que se lhe fizer volta sobre mim; e busco lhe fazer o bem porque também o bem que se lhe fizer volta sobre mim. Tomar esta atitude para o outro, e se todos a tomassem, com o tempo, teríamos uma sociedade bem-aventurada...


A espiritualidade de São Francisco é, assim, uma concepção da convivência humana em que o outro se torna nosso próximo e o nosso próximo se torna nosso irmão e o nosso irmão se torna um conosco em Cristo, de tal modo que ele aparece como a mesma coisa que nós. A sustentação do outro, aqui, a paciência dos pacíficos de que nos lembrava outra Admoestação de São Francisco, é imbuída de uma concepção positiva e alegre das negatividades, privações e carências da finitude humana. Trata-se de uma concepção antropológica necessária e salutar para a nossa época. Por isso, frei Harada comenta:


Queixar-se do desgaste do nosso relacionamento com os outros é natural, mas ficar sem ânimo por causa deste desgaste depende do fato que entendemos o ser humano de forma errada. Na espiritualidade franciscana as finitudes são realidades importantes, das quais livremente podemos tirar crescimento na autonomia, na responsabilização do nosso nos perfazer. A realização, o "realizado" como fruto de um perfazer-se, o medieval chamava de "beato", "bem-aventurado". Em nossa época precisamos deste tipo de antropologia, onde a necessidade é provocação para a liberdade!



5. Amar é con-sofrer com o outro


Esta concepção positiva e criativa a respeito do ser humano, da convivência humana e das fragilidades humanas, com todas as suas negatividades, leva a con-sofrer os males dos outros, tornados nossos irmãos em Cristo, com toda a cordialidade que a boa-vontade, que é como que uma centelha divina em nós, nos concede.


Esta concepção está, porém, enraizada numa concepção de Deus como sumo bem. Tudo é dom de Deus. Todo o bem que acontece no universo, em nós e entre nós, vem de Deus. A gratidão, por sua vez, restitui a Deus todo o bem que passa através de nós e que repercute no universo. A segunda parte da Admoestação XVIII nos lembra disso. Ela nos recorda a pobreza de espírito, pela qual nós não nos apropriamos do bem para nós, não o atribuímos a nós, mas apenas o devolvemos a Deus, em atitude de louvor e gratidão:


2”Bem-aventurado o servo que devolve todos os bens ao Senhor Deus” (Cf. Tb 13,12), porque quem retiver algo para si, esconde em si “a riqueza do Senhor seu (Mt 25,18) Deus e o que julgava ter, ser-lhe-á tomado” (Lc 8,18).


O bem não nos pertence. Não pode ser reduzido a título de posse nosso. O bem provém de Deus e todo o ser no universo é uma dádiva boa que Ele põe em obra. Frei Harada assim resume esta concepção:


Para o me­dieval todo ser: pedras, plantas, animais, homens, an­jos, astros, o universo todo, tudo, de alguma maneira, era vivo, perpassado, atravessado, permeado pelo dom de Deus, e toda criatura tinha, de maneira própria específica, a tarefa de corresponder, de se dispor a este dom. Para eles um ente não estava separado do outro: eram diferentes níveis de uma mesma participação; quanto mais um ente, dentro de seu específico, se dispunha a Deus, mais Deus podia se revelar no seu vi­gor; e se um ente se desligava dele, o rejeitava ou se apossava dos dons de Deus, ou não os fazia frutificar por preguiça, defraudava o vigor de Deus. É "Dar a Deus o que é de Deus", afirmação de Jesus que tem por trás a concepção de uma fraternidade universal, comunitária e cósmica.


O con-sofrer os males dos outros está fundado na positiva perspectiva de que isso nos leva a promover uma maior comunhão no bem. A comunhão no ser é, afinal, uma comunhão no bem. E tudo é dom. O pensamento franciscano é a concreção da concepção de tal koinonía – de tal comunhão no bem, na gratuidade. Toda a nossa atitude face às fragilidades dos outros deve ser sustentada pela positividade desta concepção:


Não seria, então, interessante pensar como São Francisco: se somos nada, tudo que podemos fazer é ter boa vontade e amar; por não sermos i­lhas, um cá e outro lá, mas por pertencermos como que a um grande corpo de re­cepção de Deus, somos convocados a cooperar e trabalhar, aqui ou ali, nesta ou naquela situação. Todo trabalho feito em mim, de transcender a mim mesmo, de me dispor, é fazer o bem ao outro. A reação que tenho contra o outro que faz o mal, não pode ser qualquer reação, porque aqui­lo vai voltar sobre mim, e vai fluir em todo o universo. Se Deus opera ali, naquela situação e não é correspondi­do, por não sermos indivíduos fechados, mas diferentes canais de um mesmo órgão, eu fico triste porque se trata da minha causa; se alguém desafi­na, todo o resto desafina, se afina, todo o resto afina; se um toca bem, eu estou tocando bem, se eu toco mal, o outro toca mal. Assim, no pensar de São Francisco, pelo simples fato de alguém trabalhar em si, ele já se tornava responsável pelo outro!


Talvez agora o nexo entre as duas bem-aventuranças desta Admoestação tenha nos ficado mais claro...


Que este ensinamento se realize em nossas vidas.


[1] Scheler, Max. A reviravolta dos valores. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 92-93. [2] Idem, p. 96. [3] Bonhoeffer, D. Opere, Vol. V. Vita comune. Il libro di preghiera della bibbia. Brescia: Queriniana, 1991, p. 72. [4] Idem, p. 79. [5] Idem, ibidem.



Para pensar e partilhar


1. O que vem a ser suportar o próximo segundo sua fragilidade?

2. Por que con-sofrer com o outro para nós cristãos é tesouro de uma riqueza inestimável?


Paz e Bem!

Fraternalmente,


Frei Dorvalino Fassini, OFM e Marcos Aurélio Fernandes



Continue bebendo do espírito deste tema:


- indo ao texto-fonte: 101º Encontro - 18ª Admoestação - Da compaixão do Próximo - 2ª parte - Na pobreza do amor-caridade, con-sofrer os males do próximo

e devolver os bens ao Senhor


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Da compaixão do Próximo - 2ª parte - Na pobreza do amor-caridade, con-sofrer os males do próximo e devolver os bens ao Senhor


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