TEXTO-FONTE - 10º Encontro (10/04/21) São Francisco, um convertido por excelência

3º Estágio - DA CONVERSÃO CRÍSTICA (continuação 1): DA GRAÇA DA VISITA

E DO ENCONTRO COM O CRUCIFICADO - COMEÇA A FLORESCER

A EXISTÊNCIA CRÍSTICA DE FRANCISCO

Legenda dos Três Companheiros, 16 e 20

V. Como primeiramente fugiu das perseguições do pai e dos parentes, quando morava com o sacerdote de São Damião, em cuja janela jogara o dinheiro

16. Jubiloso, portanto, com a visão e alocução do Crucificado, levantou-se, munindo-se com o sinal-da-cruz, montou a cavalo e pegando tecidos multicores, foi para a cidade de Foligno e vendendo ali o cavalo e tudo que levava, imediatamente voltou à igreja de São Damião. E encontrando ali o sacerdote pobrezinho, beijando-lhe as mãos com grande fé e devoção, ofereceu-lhe o dinheiro que trazia e contou-lhe por ordem seu propósito. Estupefato e admirando a sua repentina conversão, o sacerdote não quis acreditar no que ouviu e, julgando estar sendo enganado, não quis conservar consigo seu dinheiro. Mas, insistindo ele com pertinácia, esforçava-se com suas palavras, por fazê-lo crer e pedia com ardor que lhe permitisse morar com ele. Por fim, o sacerdote consentiu na sua permanência, mas por medo dos pais, não recebeu o dinheiro. Por isso, verdadeiro desprezador do dinheiro, jogou-o para dentro de uma janela, desprezando-o como pó. Demorando no mencionado lugar, seu pai, como diligente explorador, andou pela redondeza, inquirindo o que foi feito com seu filho. E quando ouviu que ele, assim mudado, vivia de tal modo no dito lugar, tocado interiormente de dor no coração e conturbado pelo súbito desenrolar-se das coisas, convidando amigos e vizinhos, rapidamente correu para ele.

Ele, porém, sendo novel soldado de Cristo, quando ouviu as ameaças dos perseguidores e previu sua chegada, deu lugar a ira paterna, indo para uma caverna oculta que para isso preparara para si. Ali ficou escondido um mês inteiro. Esta caverna era conhecida por apenas um da casa paterna; aí comia, ocultamente, o alimento que às vezes lhe era oferecido, orando sem cessar, banhado em lágrimas, para que o Senhor o livrasse da perseguição nociva e levasse a termo, com seu benigno favor, os seus piedosos desejos.

20. Levantou-se, pois, o homem de Deus, alegre e confortado pelas palavras do Bispo, e levando o dinheiro diante dele disse-lhe: “Senhor, não só quero restituir-lhe com espírito alegre o dinheiro, que é de suas coisas, mas, também, as vestes”. E entrando no quarto do Bispo, despiu todas as suas vestes e, pondo sobre elas o dinheiro, saiu nu diante do Bispo, do pai e dos presentes e disse: “Ouvi todos e entendei-me. Até agora, chamei Pedro de Bernardone meu pai, mas porque me propus servir a Deus, devolvo-lhe o dinheiro, por cuja causa estava perturbado, e todas as vestes que obtive com seus bens, querendo sem demora dizer: Pai nosso que estás nos Céus o, não pai Pedro de Bernardone”. Descobriu-se, então, que o homem de Deus tinha um cilício sobre a carne debaixo das vestes coloridas.

Levantando-se, portanto, seu pai, abrasado de grande dor e ira, pegou o dinheiro e todas as vestes. Enquanto as levava para casa, os que haviam estado presentes a este espetáculo, indignaram-se contra ele, porque não deixara ao filho nada das vestes. Porém, movidos de piedade para com Francisco começaram a chorar fortemente.

O Bispo, porém, considerando diligentemente o ânimo do homem de Deus e admirando sobremaneira o fervor e a constância dele, acolheu-o em seus braços, cobrindo-o com sua capa. Pois compreendia abertamente que seus feitos eram de conselho divino e reconhecia que o que vira encerrava não pequeno mistério. Assim, desde então, fez-se seu auxiliar, exortando-o e favorecendo-o, dirigindo e acolhendo-o com entranhas de caridade.

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